Após declaração do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de que não vai privatizar a Ceagesp, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou nesta terça-feira (15) que foi o presidente que incluiu o entreposto no pacote nacional de desastatização.
Em referência a projeto do governo estadual que tenta transferir a administração da Ceagesp para empresas privadas, Bolsonaro disse que "nenhum rato vai sucatear [o entreposto] pra privatizar pros seus amigos". Para Doria, Bolsonaro está se referindo a si mesmo.
"Bolsonaro deve estar se referindo a si mesmo e ao seu próprio governo. O presidente assinou no ano passado o decreto 10.045, que inclui a Ceagesp no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) do Governo Federal, conforme o site da União: https://www.ppi.gov.br/desestatizacao-da-ceagesp. O presidente precisa indicar aos órgãos de controle quem é esse “rato” que está no Governo Federal e se beneficiaria da medida. Se não fizer isso, estará prevaricando", diz nota do governo de São Paulo.
A Ceagesp é a maior central de abastecimento de frutas e verduras da América Latina e é administrada por uma empresa pública federal vinculada ao Ministério da Economia. O governo estadual quer que o entreposto seja administrado por empresas privadas em outro endereço.
O entreposto ocupa uma área de 60 mil metros quadrados na Vila Leopoldina, uma região que teve alta valorização imobiliária nos últimos anos. A região também sofre com alagamentos e é alvo de reclamações de moradores de prédios, que se incomodam com o intenso trânsito de caminhões na área.
Em 2019, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o então secretário especial de Desestatização do governo Bolsonaro, Salim Mattar, assinaram um acordo para fechar a Ceagesp e transferir o entreposto para outro endereço, que seria construído e administrado por empresas privadas em um terreno às margens do Rodoanel Mário Covas.
A promessa de Doria é entregar a nova sede da Ceagesp até 2024. O governo do estado de São Paulo diz que mantém as tratativas para viabilizar o novo projeto de mudança da Ceagesp, alinhadas com o governo federal.
Durante a inauguração da torre do relógio do entreposto nesta terça, Bolsonaro, sem máscara e com uma criança fardada no colo, disse que está "desratizando o Brasil" e não vai deixar que a Ceagesp seja privatizada. "Aqui era um ninho de rato. Aqui tem que começar com trabalho de polícia. Porque tem muito bandido aqui dentro", disse.
"A Ceagesp aqui uma mudança, é um novo paradigma e aqui, quando se fala em privatização eu quero deixar bem claro. Enquanto eu for o presidente da República essa é a casa de vocês. Nenhum rato vai sucatear isso aqui pra privatizar pros seus amigos, não tem espaço pra isso aqui. Deixo bem claro", completou.
Aglomeração
Centenas de pessoas vestidas de verde, azul e amarelo se aglomeraram - muitas delas sem máscara - para participar da inauguração da torre do relógio da Ceagesp.
Na semana passada, o presidente da Ceagesp, coronel da reserva da PM de São Paulo Ricardo Mello Araújo, enviou um convite a permissionários, funcionários, políticos e autoridades paulistas para que usassem as cores da bandeira brasileira durante a visita do presidente ao entreposto nesta terça, o que foi atendido por parte do público.
"Neste dia, use camisa ou camiseta com as cores da Bandeira Nacional: verde, amarelo, azul ou branco", diz a mensagem de Araújo. Em nota, a Ceagesp afirmou na ocasião que a intenção do convite era de "representação da força" da entidade.
Do lado de fora da Ceagesp, um grupo de manifestantes contrários a Bolsonaro pediam "vacina já". Um dos manifestante que estava na entrada do entreposto passou pelos apoiadores do presidente gritando "gado" e foi hostilizado. Ele foi retirado por policiais.
Presidente da Ceagesp
Ex-comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) da PM, Ricardo Mello Araújo, de 49 anos, foi nomeado por Bolsonaro para o cargo na Ceagesp em outubro. A nomeação ocorreu em meio a discussões sobre a transferência do entreposto para outro endereço.
Nas redes sociais, Bolsonaro pediu, na época, apoio dos caminhoneiros e permissionários ao novo chefe do entreposto.
O coronel se aposentou em 2019. Em um vídeo dirigido aos funcionários da companhia, Mello Araújo lembrou sua trajetória na Polícia Militar e falou que vai "combater o crime" também na Ceagesp.
"Vamos combater fortemente a corrupção. Não aceito e não sou omisso. Como falei: eu vou atrás. A Ceagesp vai vencer. Vai dar lucro. Vai estar à altura que merece, que os antepassados construíram ao longo dos anos", afirmou quando foi empossado.
Fonte: G1
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