A vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela farmacêutica AstraZeneca mostrou eficácia de 90% quando aplicada em meia dose seguida de uma dose completa, anunciaram os cientistas nesta segunda-feira (23).
Em contrapartida, a eficácia de duas doses completas foi menor, de 62%.
Para chegar aos resultados, os pesquisadores analisaram os dados de 11.636 pessoas vacinadas. Dessas, 8.895 receberam as duas doses completas, e 2.741 receberam a meia dose seguida de uma dose completa.
O cientista Andrew Pollard, diretor do Grupo de Vacinas de Oxford e que lidera os estudos, afirma que o motivo para isso ainda é "intrigante" para os pesquisadores.
"Esses 90% são um resultado intrigante. Acho que é um resultado realmente excitante e intrigante que precisamos aprofundar mais", afirmou Pollard em entrevista à BBC.
O CEO da AstraZeneca, Pascal Soriot, afirmou em coletiva de imprensa que uma dose menor na primeira aplicação da vacina significa que mais pessoas podem ser vacinadas em um intervalo menor.
"Poder vacinar mais pessoas mais rapidamente é realmente uma grande vantagem", disse Soriot.
Em entrevista à GloboNews, o vice-presidente de produção e inovação em saúde da Fiocruz, Marco Krieger, também ressaltou a possibilidade de vacinar mais pessoas em menos tempo. A fundação tem um acordo de transferência de tecnologia com a AstraZeneca para produção das vacinas em solo brasileiro.
"A grande vantagem é que esse protocolo que deu o melhor resultado traz um benefício adicional. A gente vai poder fornecer a vacina para mais 30% de pessoas do que havia previsto", disse Krieger.
De acordo com ele, a previsão é vacinar 65 milhões de pessoas no primeiro semestre de 2021 e outras 65 milhões no segundo, considerando 2 doses para cada pessoa.
Repercussão
Outros cientistas do Reino Unido, que não participaram dos estudos, também repercutiram os resultados da vacina.
Para Michael Head, pesquisador sênior em saúde global da Universidade de Southampton, na Inglaterra, assim como para Pollard, o resultado dos testes são intregantes.
“Esses resultados são intrigantes, com duas estimativas diferentes de eficácia, dependendo da dose usada com a vacina", avaliou Head.
"Ainda não está totalmente claro por que meia dose e uma dose completa eram potencialmente mais protetoras, mas se os resultados finais continuarem a mostrar esse padrão de cerca de 90% de eficácia, isso permitiria um maior suprimento de vacina não apenas no Reino Unido, mas também em todo o mundo", ponderou.
Head frisou que os resultados ainda são provisórios e não foram revisados por outros cientistas – etapa que é necessária para publicação em revista científica.
"Estes são resultados provisórios que não foram revisados por pares e o estudo está em andamento, então, assim como com os outros anúncios recentes da Pfizer e Moderna, devemos ser um pouco cautelosos com essas descobertas", completou Head.
Aguardo por novos resultados
Peter Horby, professor de doenças infecciosas emergentes e saúde global de Oxford, pontuou que, à medida que novos resultados forem chegando, os cientistas terão uma melhor ideia da proteção que a vacina confere.
“A eficácia relatada de 70% é uma medida provisória e quanto mais dados forem acumulados, teremos uma ideia melhor da proteção que ela oferece", disse.
Os desenvolvedores da vacina calcularam uma eficácia média de 70,4% do imunizante, considerando dados dos testes com meia dose e uma dose completa e com as 2 doses completas.
"É importante notar que, pelo que ouvimos, a vacina parece prevenir a infecção, não apenas a doença. Isso é importante porque a vacina pode reduzir a propagação do vírus, bem como proteger os vulneráveis de doenças graves", ressaltou Horby.
A eficácia da vacina, entretanto, pareceu decepcionante para alguns: as ações da AstraZeneca, farmacêutica que desenvolve o imunizante em parceria com Oxford, caíram 1,8% depois do anúncio da eficácia, que ficou atrás das de concorrentes Pfizer e Moderna (veja detalhes mais abaixo).
Na opinião do pesquisador Danny Altmann, professor de imunologia na Imperial College de Londres, é "loucura" criticar alguma das três vacinas – da Pfizer, da Moderna e de Oxford – com base em "fragmentos de dados de fase 3 de comunicados à imprensa".
"Para o panorama geral, minha suspeita é que, quando chegarmos daqui a um ano, estaremos usando as três vacinas com cerca de 90% de proteção – e seremos muito mais felizes", declarou Altmann.
Armazenamento
Uma vantagem da vacina de Oxford citada pelos cientistas é que ela pode ser mantida em condições normais de refrigeração (entre 2°C e 8°C) por pelo menos 6 meses.
É uma vantagem em relação à candidata da Pfizer, que precisa ser armazenada a -70ºC durante o transporte, e da Moderna, que precisa ficar a -20ºC.
"A vacina de Oxford pode ser armazenada na geladeira, ao contrário do freezer, como as outras duas vacinas, o que significa que é uma solução mais prática para uso em todo o mundo", avaliou Horby.
Outras candidatas
Nas últimas semanas, laboratórios como a Pfizer, a Moderna e o Instituto Gamaleya, na Rússia, divulgaram resultados iniciais de fase 3 sobre a taxa de eficácia de suas vacinas ainda em desenvolvimento. Nenhuma publicou, até agora, estudo científico com os dados.
A taxa de eficácia representa a proporção de redução de casos entre o grupo vacinado comparado com o grupo não vacinado.
Na prática, se uma vacina tem 90% de eficácia, isso significa dizer que 90% das pessoas que tomam a vacina ficam protegidas contra aquela doença.
Os dados iniciais divulgados pelas empresas apontaram as seguintes taxas de eficácia para suas vacinas em desenvolvimento. Os índices ainda podem mudar:
Pfizer: 95% de eficácia
Moderna: 94,5% de eficácia
Instituto Gamaleya (Rússia): 92% de eficácia
A FDA, agência regulatória dos Estados Unidos equivalente à Anvisa no Brasil, já anunciou que qualquer vacina deve comprovar 50% de eficácia antes de ser liberada nos EUA.
Fonte: G1
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