terça-feira, outubro 27, 2020

Renato Russo e Operação Será: Cantor não tem músicas inéditas, dizem produtores

 Produtores musicais que trabalharam com a obra de Renato Russo - em vida e após sua morte, em 1996 - negaram que os materiais do artista citados em um relatório encontrado durante uma operação policial, nesta segunda-feira (26), sejam músicas inéditas.


A Delegacia de Repressão a Crimes contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM) divulgou ter apreendido, em um estúdio na Zona Sul do Rio, o documento que menciona supostas obras nunca lançadas pelo vocalista da Legião Urbana. Entenda, abaixo, os principais pontos do caso:


Renato Russo em show da Legião Urbana em 1994 — Foto: Milton Michida/Agência Estado


A Operação Será, da Policia Civil do Rio, começou há cerca de um ano, depois de uma denúncia feita pelo filho de Renato, Giuliano Manfredini;

Nas buscas desta segunda, os policiais afirmam ter encontrado o documento que cita 30 músicas nunca lançadas oficialmente. Entre elas, segundo os agentes, estão versões de canções da Legião Urbana e algumas que podem ser inéditas;

Um dos alvos da investigação é o advogado, escritor e pesquisador Marcelo Fróes, idealizador de álbuns póstumos de Renato;

Fróes nega ter se apropriado indevidamente de obras do cantor. Segundo ele, não há músicas nunca divulgadas de Renato, mas sim gravações inéditas de canções já lançadas;

Carlos Trilha, produtor dos álbuns solo de Renato, comentou o caso, também afirmando que não existem músicas inéditas. Segundo ele, as obras citadas no relatório podem ser remixagens e letras nunca usadas, que estariam sendo musicadas por outros artistas.


Marcelo Fróes, que trabalhou em projetos póstumos de Renato entre 2003 e 2010, conta ter entregue à família do cantor, em 2002, um relatório com o levantamento de materiais musicais achados em uma gravadora e em acervos pessoais.


Ao G1, ele diz não existir, nesse documento, qualquer menção a canções de Renato ou da banda ainda desconhecidas pelo público. "Até porque, se existissem, já teriam sido lançadas no passado."


"É fundamental que as pessoas entendam a diferença entre música inédita, aquela totalmente nova, que ninguém nunca ouviu, e gravação inédita, que é a música já conhecida, gravada de uma forma diferente", explica.


"Se falarmos em gravações de músicas já conhecidas, posso afirmar que existem muito mais do que 30 inéditas. Há muito material guardado, que também tem um altíssimo valor histórico."

Fróes afirma que, desde o disco póstumo "Duetos", de 2010, não trabalhou em outros projetos ligados à obra da Legião ou de seu vocalista. Para ele, a operação policial que busca músicas inéditas do cantor é "fruto de uma falha de comunicação".


O produtor Carlos Trilha, que trabalhou com Renato ainda em vida, em seus discos solo, não acredita na existência de material novo, que possa dar origem a um novo projeto póstumo do artista.



Segundo ele, os áudios citados no relatório achado pela polícia podem ser remixagens ou pedaços de gravações, que não entraram nas versões finais de músicas já lançadas.


Trilha acrescenta que podem existir trechos de letras não usadas, tampouco finalizadas pelo cantor. Mas, crítico dos álbuns criados após a morte de Renato, ele acredita que, se ainda estivesse vivo, o líder da Legião desaprovaria o lançamento desses trabalhos.


"Lembro de, em uma ocasião, o Marcelo me falar que seria legal dar essas letras para artistas consagrados finalizarem. Eu não acho legal. Alguns desses artistas, o Renato nem gostava."

Operação Será

Batizada com o nome de uma das composições do artista, a operação da Policia Civil do Rio foi motivada por um registro de ocorrência feito por Giuliano Manfredini, filho de Renato e detentor dos direitos autorais de parte de sua obra.


Segundo os investigadores, o estúdio onde o relatório foi encontrado prestou serviços para uma gravadora.


“O cumprimento do mandado de busca e apreensões foi altamente produtivo e conseguimos provas robustas, que em breve vão ajudar a esclarecer toda a verdade sobre o que estava acontecendo. Tem pelo menos 30 músicas em versões inéditas”, afirmou o delegado Mauricio Demétrio, titular da DRCPIM.



“Foi feito um serviço, a pedido de uma gravadora, e há menções de canções e versões de canções inéditas. E a gente tem que confrontar o dono do direito autoral, que é o filho do Renato Russo, para ver se ele tinha conhecimento desse material que está no caixa-forte de uma gravadora”, acrescentou o delegado.


Um representante de Manfredini foi procurado, mas não retornou o contato do G1.


Fonte: G1

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