Para o ano de 2020, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) prevê que 66.280 novos casos de câncer de mama em mulheres no Brasil – 1.130 no Rio Grande do Norte. A doença é a que mais atinge a população feminina no País e, apesar da maior parte dos casos estar concentrada em pessoas acima dos 40 anos de idade, mastologistas alertam para o aumento progressivo na incidência entre pessoas mais jovens observado nos últimos anos.
A médica e membro da Sociedade Brasileira de Mastologia Roberta Jales, afirma que dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) apontam para o aumento na incidência entre pessoas abaixo de 40 anos nos últimos anos. “A doença ainda é mais comum após os 40-50 anos, mas vem chamando atenção o seu aumento em jovens. No Brasil, historicamente, antes dos 35 anos, a incidência ficava em torno de apenas 2% dos casos e, hoje, o INCA estima em 5%”, diz a mastologista.
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Mastologista Roberta Jales alerta para o risco do sedentarismo e de uma dieta ‘inflamatória’
Ela explica que o câncer de mama não possui uma causa única, mas pode se desenvolver a partir de diversos fatores. "Em torno de 80% dos cânceres são esporádicos e ocorrem na mulher sem história família de câncer de mama". Os casos associados a fatores genéticos, por sua vez, representam entre 10% e 15% do total.
Segundo a médica, dos fatores que contribuem para a alta incidência da doença na população, inclusive em mulheres jovens, está associado ao aumento de fatores de risco que fazem parte do estilo de vida moderno, especialmente nas grandes cidades. "Hoje as mulheres têm poucos filhos ou nenhum, amamentam menos em relação às gerações anteriores, menstruam mais cedo, entram na menopausa mais tarde. Estão submetidas a sobrecarga e estresse", enumera Roberta Jales.
O sedentarismo e a adoção de uma dieta que a médica classifica como "inflamatória", com excesso de alimentos industrializados como refrigerantes, carboidratos, doces e excesso de carne vermelha também acabam favorecendo o ambiente para o desenvolvimento da doença.
Aos 33 anos de idade, quando fazia uma série de exames de rotina em preparação para uma cirurgia bariátrica, Martha Jackeline descobriu que tinha câncer. Fora da faixa de idade recomendada tanto pelo Ministério da Saúde (a partir dos 50 anos) e da Sociedade Brasileira de Mastologia (a partir dos 40 anos), ela nunca havia feito nenhuma mamografia para detectar a doença.
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Martha Jackeline, 33, descobriu a doença ao fazer exames de rotina
O exame apontou uma lesão de 1,3 cm, pequena suficiente para que toda sua mama não precisasse ser retirada. “O triplo negativo, que é o meu subtipo de câncer, costuma dar mais em mulheres jovens”, relata Martha, que é enfermeira de formação. “E o que se aponta sobre isso é que ele está associado à fatores como não ter filhos, sedentarismo, obesidade, estresse... “, completa.
Ela chegou a fazer o sequenciamento genético para identificar se havia algum fator relativo à hereditariedade, mas o resultado foi negativo. “Quando estamos diante de uma paciente jovem, a gente tem que pensar a possibilidade de haver uma predisposição genética. Para isso, existe um exame de sequenciamento“, explica Roberta Jales, que atendeu o caso de Martha. Quando o exame apresenta resultado positivo para alguns tipos de genes, há aumento no risco de câncer de mama para a outra mama também. “Essa é uma das poucas condições bem estabelecidas na literatura em que é indicada a dupla mastectomia”, completa.
Foi o caso da médica Raquel Buriti, de 28 anos. Sem histórico de câncer de mama em familiares próximos, Raquel não imaginava que pudesse ter algum fator genético que lhe levasse a ter a doença. Durante um autoexame, no entanto, percebeu um nódulo no seio que, pouco tempo depois, já chegava à sua axila.
Ela chegou a ir a um radiologista fazer uma ultra da mama mas, sem resultados conclusivos, resolveu investigar mais à fundo e ir até a mastologista. "Começamos a suspeitar de uma lesão maligna pela irregularidade do nódulo, e partimos para a biópsia que trouxe o diagnóstico", conta. O subtipo de câncer de Raquel é raro, datado na literatura apenas a partir de 2016. "Meu DNA era normal e passou a ser mutagênico. Não se tratava de uma condição hereditária", explica Raquel.
O tratamento começou de forma agressiva, com a quimioterapia para reduzir o tamanho do nódulo. "Como ele já estava na axila, ele provavelmente já estava se espalhando pelo corpo, por isso precisávamos bombardeá-lo o mais cedo possível", diz Raquel. Em seguida, a dupla mastectomia. "Isso foi uma opção individual minha, para não ter surpresas futuras pelo fato deu ter 28 anos e já ter apresentado aqueles resultados", completa a médica.
Ela tem apresentado boa resposta ao tratamento, que ainda terá duas fases: a radioterapia e a imunoterapia. De acordo com Raquel, a mensagem que ela deixa aos jovens é para que conheçam o próprio corpo e saibam identificar os sinais para poder buscar ajuda especializada. "O autoexame vai te levar a descobrir o que você tem. Ele sozinho não muda sua trajetória. Você precisa buscar um especialista e um profissional para poder se descobrir melhor. Felizmente eu descobri o meu sem ele estar espalhado pelo meu corpo, tive uma boa resposta. É preciso se cuidar e, ao perceber qualquer mudança, correr para o profissional. Há muitos tabus sobre a mulher se tocar e conhecer o próprio corpo, mas isso é primordial".
Tratamento individualizado trouxe avanços
Seja no caso de Martha ou de Raquel, um fator para permitir a recuperação da doença: o diagnóstico precoce. Segundo a médica Roberta Jales, antes dos 35 anos de idade, os casos de câncer de mama costumam ser mais agressivos e exigir tratamentos igualmente agressivos, o que torna o tratamento individualizado e a detecção precoce ainda mais importantes.
"Surgiu a terapia alvo, imunoterapia, hormonioterapia, quimioterapia. Esses recursos, aliados ao diagnóstico inicial, permitem às pacientes elevado índice de cura e boa qualidade de vida", destaca Roberta.
Todos esses fatores, segundo a especialista, devem estar associados à atenção permanente ao próprio corpo e a prática do autoexame. "As mulheres devem observar e palpar suas mamas sempre que se sentirem confortáveis para isso, como no banho ou na troca de roupa, sem a necessidade de aprender uma técnica ou seguir um período fixo", explica Roberta. Descobertas casuais de alterações em qualquer idade devem ser consideradas, e a mulher deve procurar o mastologista para investigar o motivo da alteração.
Ela ressalta, ainda, que na maior parte das vezes o câncer de mama pode ser identificado a partir do nódulo, um caroço na mama. Esse, no entanto, não é o único sinal que pode e deve ser observado: vermelhidão, pele escurecida, fluxo espontâneo de uma substância transparente pelo mamilo, áreas de retração na pele também podem ser sinais que apontam a necessidade de procurar um especialista. "Vale lembrar que, no início, a mulher pode não sentir nada e a alteração aparecer apenas nos exames de rotina. Esse é sempre o melhor cenário para o diagnóstico", completa Roberta Jales.
Fonte: Tribuna do Norte
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