O pastor Anderson do Carmo, morto com mais de 30 tiros em junho do ano passado, sabia dos planos da família para tentar matá-lo. De acordo com a polícia, antes do assassinato, houve ao menos oito tentativas frustradas, seis delas por envenenamento com arsênico ou cianeto. A família tentou ainda forjar dois latrocínios – roubo seguido de morte -, que acabaram não sendo levados adiante pela quadrilha.
Com as tentativas frustradas de envenenamento com arsênico, duas filhas adotivas do casal, Marzy e Simone (presas na operação desta segunda) teriam passado a fazer buscas na internet e compraram cianeto.
“Ele foi várias vezes levado ao hospital por sintomas que, mais tarde, foram identificados como característicos de envenenamento por arsênico. Isso em março de 2018. Depois de um tempo ele passou a ter mais cuidado", afirmou o promotor Sérgio Luis Lopes Pereira, do Grupo de Atuação Especializada e Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Ainda segundo o MPRJ, como o pastor teria começado a desconfiar, os promotores ressaltam que a partir de abril de 2019, os familiares passaram a planejar a execução a tiros.
“Quando foi em março ou abril de 2019, apareceu no IPad dele, escrito por Marzy, incitando Lucas a matar o pastor por R$ 10 mil. E de alguma forma, acredito que por sincronização, essa mensagem apareceu no tablet do pastor”, explicou o promotor. Uma testemunha importante, segundo Sérgio, teria avisado a Anderson que o texto não parecia ser de autoria de Marzy, e, sim, de autoria de Flordelis. "Ele, pelo jeito, não acreditou".
“Ele tomou ciência e não acreditou”, resumiu o delegado Allan Duarte, da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí.
Objetivo era forjar latrocínio
A princípio, Flordelis teria, segundo as investigações, pensado em forjar um latrocínio (roubo seguido de morte). Um “racha” na família, no entanto, atrapalhou os planos.
“Ela tentava jogar para o Lucas (preso na primeira fase da investigação) a execução; e jogar como mandante os dois filhos que resolveram sair da Igreja e falar a verdade”, explicou o promotor Sérgio Luiz Pereira Lopes.
Segundo as investigações, uma tentativa de matar Anderson do Carmo teria sido na saída de uma concessionária na Barra da Tijuca. A outra seria na saída de uma igreja evangélica da denominação da qual Anderson e Flordelis faziam parte.
“A gente tem testemunhas que duas outras tentativas foram arquitetadas antes dessa data e só não ocorreram por circunstâncias alheias à vontade dessas pessoas”, disse o delegado Allan Duarte, da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo, responsável pelo caso.
As informações foram reveladas em escutas divulgadas pelo RJ1.
Na concessionária, Anderson foi comprar um veículo. Segundo Allan Duarte, ela pediu que o executor simulasse um latrocínio e não atingisse as demais pessoas que estavam no veículo com o pastor. “Nós temos provas cabais de que ela se cercou de cautelas para isso”, disse ele.
O crime só não aconteceu, segundo Allan Duarte, porque um outro familiar estava junto com o pastor no carro quando ele foi à concessionária.
Segunda tentativa de homicídio
O segundo caso foi através de uma neta de Flordelis, Rayane, presa na operação em Brasília. Uma pessoa, segundo o delegado, foi até a igreja cobrando o valor de R$ 2 mil para matar o pastor.
“Esses R$ 2 mil foram pagos a esse homem, a mando da Flordelis. A pessoa que entregou esse dinheiro foi o André, que foi preso também”, explicou.
O assassinato só não aconteceu porque Anderson trocou de veículo para deixar a igreja. “Isso criou uma confusão no executor”, explicou o delegado. O motivo teria sido um problema mecânico no carro que o pastor normalmente utilizava.
Histórico violento
Flávio, um dos presos pela execução do pastor, tinha um histórico extremamente violentos segundo as investigações. A ex-esposa de Flávio, Tatiana, foi até a delegacia e disse que foi ameaçada por Flávio.
“A ex-esposa de apresentou fotos na delegacia, em que ele mandava foto de uma pistola e alguns cartuchos. Ele dizia: ‘algumas aqui são para você’”, disse o promotor.
Durante as buscas e apreensões, o Ministério Público descobriu que ele estava fazendo um curso sobre como atirar com pistolas, que foi inclusive a arma utilizada para cometer o crime.
Flordelis não pode deixar o país
Segundo determinação da juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, a deputada não pode se ausentar do país sem autorização judicial ou transferir sua residência para outra cidade. Ainda segundo a magistrada, Flordelis está proibida de manter contato com qualquer testemunha ou com os outros réus.
“Afastada a possibilidade do decreto prisional por força da imunidade constitucional, resta a possibilidade de decretação de medidas cautelares diversas da prisão, que igualmente visam a resguardar a ordem pública e garantir a conveniência à instrução criminal, de forma a garantir a regularidade do processo”, diz a decisão.
Resumo
O inquérito concluiu que Anderson foi morto por questões financeiras e poder na família -- o pastor controlava todo o dinheiro do Ministério Flordelis, hoje rebatizado de Comunidade Evangélica Cidade do Fogo.
Flordelis é uma das 11 pessoas denunciadas pelo MPRJ (veja a lista abaixo).
Após o crime, Flordelis relatou em depoimento e à imprensa que o pastor teria sido morto em um assalto.
A deputada vai responder por cinco crimes: homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima), associação criminosa, falsidade ideológica e uso de documento falso. Pelo envenenamento, ela responderá por tentativa de homicídio.
Sete filhos presos
Com a Lucas 12, chega a sete o número de filhos presos no caso. Todos já são réus perante a Justiça.
Nesta segunda, foram presos cinco filhos do casal (Adriano, André, Carlos, Marzy e Simone) e uma neta (Rayane).
A Justiça ainda emitiu mandados de prisão contra dois homens que já estavam na cadeia: o filho apontado como autor dos disparos (Flavio) e um ex-PM (Marcos).
Um sétimo filho (Lucas), que já tinha sido preso por conseguir a arma, foi denunciado na Lucas 12.
A defesa de Flordelis se disse "surpresa com a prisão". "A deputada está muito aborrecida e chateada com tudo que está ocorrendo porque tem com ela a inocência", disse o advogado Anderson Rollemberg (leia mais abaixo).
O que diz a defesa da deputada
A defesa de Flordelis se disse "surpresa com a prisão". "A deputada está muito aborrecida e chateada com tudo que está ocorrendo porque tem com ela a inocência", disse o advogado Anderson Rollemberg (leia abaixo).
A jornalistas na delegacia, o advogado Anderson Rollemberg disse ter ficado surpreso.
“A defesa foi surpreendida com essas prisões preventivas das cinco filhas da deputada e da neta. Tomaremos conhecimento do que há de indícios para que essas prisões fossem feitas e para o indiciamento da deputada, já que na primeira fase da investigação, passou longe de qualquer prova que a apontasse como mandante", afirmou.
"A deputada está muito aborrecida e chateada com tudo que está ocorrendo porque tem com ela a inocência. Jamais foi mandante desse crime bárbaro", destacou.
Segundo o advogado, Flordelis não tinha ingerência sobre o dinheiro da família. "Ela é cantora gospel, líder religiosa e parlamentar federal. A questão dela sempre foi dar o melhor para os necessitados. Por isso tinha mais de 50 filhos. Na opinião da defesa, está havendo um grande equívoco no desfecho desta investigação”.
Fonte: G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante para nós, comente essa matéria!