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terça-feira, agosto 25, 2020

Padre Robson admite pagamentos de extorsão com dinheiro da Afipe e sem aval da polícia: 'Se agi mal, agi de boa-fé'

Em depoimento ao Ministério Público de Goiás (MP-GO) no processo de extorsão do qual foi vítima, padre Robson admitiu que fez repasses aos chantagistas sem o monitoramento da polícia e usando dinheiro da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe). O intuito dos pagamentos, de mais de R$ 2,9 milhões, segundo o sacerdote, era evitar que fossem a público supostos casos amorosos dele.


A defesa do padre Robson disse que "reforça que todo o conteúdo das mensagens é falso, o que comprova que ele foi vítima de criminosos de altíssima periculosidade". Salienta ainda que "os responsáveis já foram condenados pelo Judiciário e cumprem rigorosas penas. Por fim, destaca que o religioso "não tem e nunca teve nenhum patrimônio".


Foi este processo que originou a Operação Vendilhões, deflagrada pelo MP-GO e que apura desvio de R$ 120 milhões doados por fiéis à Afipe, entidade que o padre fundou e presidia até pedir afastamento.


De acordo com a Justiça, o conteúdo usado para fazer a chantagem cita dois supostos casos amorosos do pároco, sendo um deles com o próprio hacker acusado da extorsão. Do total repassado ao grupo, pelo menos R$ 550 mil, conforme relato do próprio pároco, não tiveram anuência a polícia.



Hacker que extorquiu padre Robson tinha um romance com ele e ameaçava expor casos, relata decisão

Em depoimento, o pároco relatou a invasão de hackers em seu celular e contas de e-mail. Ele relata que foi ameaçado de ser exposto como um "promotor de adultério" e justificou suas atitudes em relação ao episódio.


"São todas insídias muito fortes, causam intimidação e também muita confusão na cabeça. Se eu agi mal em alguma coisa, eu agi de boa-fé colocando as coisas na tentativa de se resolver", diz o padre em trecho do depoimento.


Padre Robson admitiu ter feito pagamentos a chantagistas com dinheiro da Afipe — Foto: Reprodução/Instagram
Padre Robson admitiu ter feito pagamentos a chantagistas com dinheiro da Afipe — Foto: Reprodução/Instagram


Cinco pessoas envolvidas no esquema de chantagem foram condenadas, com penas que variam de 9 a 16 anos de prisão, em 2019. O padre relatou que recebeu um primeiro e-mail avisando sobre o pedido de R$ 2 milhões para não revelar informações pessoais dele. Ele, então, revelou que combinou um pagamento de R$ 700 mil com os chantagistas e, só depois, avisou a polícia. Este valor foi recuperado.


"O valor eu já estava combinando com eles. Tanto que eu falei que ia levantar possibilidade dos valores, não o valor determinado. Parece-me que foi R$ 700 mil que eu tinha dito a ele", afirmou.


Irritados, os hackers voltaram a ameaçar o padre, cobrando o valor integral pedido inicialmente. O padre, então, autorizou duas transferências bancárias, mas o valor acabou sendo bloqueado. A corporação, apesar de avisada, não concordou com o repasse.


"A polícia não concordando, mas eu dizendo para eles que era uma saída e que isso iria voltar para a associação que estava sendo também prejudicada", afirmou.


O MP questionou a existência de um e-mail enviado ao banco em que o padre mudou de posição e autorizou o pagamento do depósito. Porém, o religioso disse que "não tinha conhecimento desse e-mail".


Repasses sem aval da polícia

Novamente, o padre relatou que foi procurado por um dos hackers alegando receber "ameaças pesadas". Ele contou que resolveu repassar R$ 500 mil para o grupo.


"A polícia discordou totalmente [do repasse] (...) Não, acho que não, os R$ 500 [mil] não foram [repassados com monitoramento policial]", afirmou.


O dinheiro, em espécie, foi deixado dentro de um carro vermelho, em frente a um condomínio fechado, em Goiânia. O padre contou que o montante nem precisou ser sacado e foi retirado do fluxo diário do caixa da Afipe.


"A gente tem nas economias internas nossas, cotidianas ali, que a gente vai juntando. São valores de vendas de santinho, de dinheiro que chega lá, mais de três mil cartas [formas de doações à Afipe em que a pessoa recebe em casa o pedido de doação]. Então, às vezes, tem dinheiro aqui, dinheiro ali e a gente vai juntando", destaca.


Novamente, ele foi questionado se a polícia acompanhou a entrega. "Eu realmente não acredito que tenha participado", respondeu.


Houve ainda um repasse de R$ 80 mil aos hackers sob alegação de que o tio de um deles estava "precisando".


A partir daí, o padre disse que começou a "negociar" e sugeriu a seguinte proposta: repassar R$ 50 mil mensais. Foram seis depósitos, totalizando R$ 300 mil.


Os pagamentos foram feitos no estacionamento de um shopping de Goiânia. Um deles foi flagrado por câmeras de segurança, quando uma funcionária da Afipe deixa o pacote dentro de uma caminhonete. Em seguida, o motorista deixa o local (veja acima).


"A primeira entrega ainda não teve a participação da polícia. Mas eles estavam acompanhando depois, posteriormente, em cada uma das entregas", recorda.


O padre é perguntado sobre o prejuízo que a associação e ele próprio tiveram, ele nega ter qualquer bem e que nada foi recuperado. "A associação [teve prejuízo]. Eu não tenho nada. Não [chegou a recuperar alguma coisa]. Uns R$ 980 mil [não teve ressarcimento]".


De acordo com a investigação do MP, o prejuízo foi de R$ 1,2 milhão. A defesa do padre disse ao G1 que o valor usado nos pagamentos foi recuperado e está depositado em conta judicial, aguardando liberação para retornar às contas da Afipe.


Fonte: G1

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