O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirmou nesta quinta-feira (27) que o "grande esforço" de articulação para anunciar o acordo entre Mercosul e União Europeia, no ano passado, "parece que começa a fazer água" – ou seja, naufragar.
A declaração foi dada em uma videoconferência com entidades do setor de comércio. Mourão foi questionado sobre a criação de um grupo de trabalho para avançar negociações no âmbito do acordo, antes mesmo da ratificação pelos países.
Ao responder, Mourão não falou de problemas internos, mas citou três desafios da vizinha Argentina, principal parceira comercial do Brasil: uma "crise continuada" para lidar com a dívida pública, o aumento nos casos de Covid-19 e atrasos nas licenças para a venda de automóveis.
"Então, esses problemas se apresentam [com a Argentina] nesse momento, em que o grande esforço que foi feito no ano passado da articulação desse acordo Mercosul-União Europeia, parece que começa a fazer água”, disse Mourão.
“Então, realmente nós temos que ter uma equipe aqui em condições de estar negociando permanentemente, não só com nossos parceiros do Mercosul, bem como com a União Europeia”, acrescentou Mourão.
O acordo de livre comércio entre Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) e União Europeia foi anunciado em 2019, depois de 20 anos de negociações. Os dois blocos juntos reúnem cerca de 750 milhões de consumidores.
Para começar a vigorar, o acordo precisa ser aprovado pelos parlamentos dos países envolvidos. No entanto, alguns países europeus vêm alegando que a posição do governo Bolsonaro com relação ao meio ambiente é um empecilho para a ratificação do acordo.
Alemanha e Amazônia
Mourão afirmou que há “ruído” na comunicação sobre o acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia e criticou a cobertura da imprensa sobre a posição da chanceler alemã, Angela Merkel.
Na última semana, a porta-voz de Merkel, Stephan Seibert, afirmou que a chancelar tinha expressado "sérias dúvidas" sobre o futuro do acordo em razão da situação da floresta amazônica no Brasil.
A posição foi apresentada no dia seguinte a um encontro entre Angela Merkel e dirigentes do movimento ambientalista "Fridays for Future", em particular, a ativista Greta Thunberg.
“Em relação à Alemanha, que vamos dizer que é o motor desse acordo, o motor da União Europeia, nós temos tido um relacionamento muito bom e estamos mantendo isso aí”, disse Mourão, que preside o Conselho Nacional da Amazônia Legal.
O Brasil tem sido criticado por políticos, ativistas e organizações não governamentais em razão da política ambiental, com registros de altas no desmatamento e nas queimadas na Amazônia. O tema surge nas discussões como uma barreira à celebração dos acordos.
Deputados holandeses, por exemplo, aprovaram já neste ano uma moção contra a ratificação do acordo entre União Europeia e Mercosul. A situação da Amazônia, para eles, está no centro do debate.
Em julho, durante reunião virtual do Mercosul, o presidente Jair Bolsonaro declarou que seu governo tentará expor as medidas adotadas para preservar a Amazônia, a fim de “desfazer opiniões distorcidas sobre o Brasil”. Bolsonaro defende a implementação do acordo com a União Europeia.
Queimadas
Na videoconferência desta quinta, Mourão voltou a afirmar que é preciso “desmistificar a questão da Amazônia”. O vice-presidente afirmou que metade do bioma está protegida por ser terra indígena ou área de preservação, e que a porção ocidental da floresta permanece "totalmente intocada".
Mourão citou que, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), até a última segunda-feira (24) foram registrados 24 mil focos de calor na Amazônia – cerca de um foco a cada 200 quilômetros quadrados.
“É surreal a forma como isso é colocado para as pessoas, como se a floresta inteira estivesse pegando fogo e tivesse ardendo”, disse.
Segundo ele, dos 24 mil focos de calor, 17% são considerados legais e os outros 83%, ilegais, pois ocorrem em terras públicas, unidades conservação e terras indígenas. Mourão disse que o governo sabe onde ocorrem as queimadas ilegais e que a Operação Verde Brasil 2 trabalhar para combater esses crimes.
Para o vice-presidente, o Brasil é alvo de três grupos de pressão na área ambiental: opositores de Bolsonaro no Brasil, agricultores europeus que "não têm mais condições de competir" com o Brasil e ativistas ambientais "sinceros, porém radicais".
Mourão diz que a pressão interna sobre a política ambiental do governo é feita por pessoas que desejam apresentar, em especial na Europa, Bolsonaro como "a 'reedição' de Átila, o Huno".
Fonte: G1
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