Um estudo preliminar, ainda não divulgado em revista científica, sugere que ter tido outros vírus da família corona – a mesma do Sars-CoV-2 –, que causam doenças como os resfriados, pode piorar a resposta imune dos idosos que são infectados com a Covid-19.
Amostras de sangue de pacientes são vistas em um teste de vacinas contra a Covid-19 na Flórida no dia 7 de agosto. — Foto: Joe Raedle/Getty Images/AFP
Usando um modelo matemático (ninguém foi testado para realizar o estudo), os cientistas levantam duas razões possíveis para que essa relação ocorra:
Com o passar do tempo, o corpo seria mais exposto a infecções pelos vírus da família corona. Com isso, o sistema de defesa se tornaria mais "especializado" em reconhecer cada vírus de forma específica, e perderia a capacidade de dar uma proteção "geral" a todos os vírus da família, inclusive o Sars-CoV-2 (o novo coronavírus).
Ao longo do tempo, com maior exposição aos outros vírus, aumentaria a probabilidade de o sistema imune responder de forma "exagerada" à Covid-19, o que causa uma reação inflamatória e traz danos graves ao corpo, podendo levar à morte.
A pesquisa foi liderada pela Universidade de Oxford e tem participação da USP, da UFMG e da Fiocruz, no Brasil, além da Universidade de Tel Aviv, em Israel. Ela ainda não passou, entretanto, pela revisão de outros cientistas (a chamada "revisão por pares" ou "peer review", em inglês), etapa necessária para publicação em revista científica.
Exposição
“Hoje, é evidente que a maioria das crianças e adolescentes experimenta quadros médios ou assintomáticos de Covid-19, enquanto pessoas mais velhas têm um risco maior de sofrer sintomas severos", explicou à Agência Fapesp Francesco Pinotti, pesquisador de Oxford e primeiro autor do trabalho.
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No estudo, os pesquisadores levantam a hipótese de que essa diferença ocorre por causa da exposição, na infância, aos quatro coronavírus humanos endêmicos, que causam resfriados – o que pode gerar uma proteção cruzada: imunidade não apenas a eles mesmos, mas também ao Sars-CoV-2.
Só que, com o passar do tempo, quando a pessoa é exposta a outros vírus, o sistema imune cria respostas cada vez mais específicas, perdendo essa capacidade de proteção cruzada. Isso explicaria, em tese, por que as crianças seriam menos suscetíveis à Covid-19, por exemplo: elas ainda não teriam perdido tanto essa proteção cruzada.
“A ideia do estudo é propor uma explicação possível para esse perfil de severidade da doença de acordo com a idade, além de chamar a atenção para a necessidade de estudar mais a reatividade cruzada entre os coronavírus endêmicos e o Sars-CoV-2", explicou à Agência Fapesp Daniel Damineli, pesquisador da Faculdade de Medicina da USP e coautor do estudo, que teve apoio da fundação.
Já nos idosos, como eles já teriam sido expostos a mais tipos de vírus da família corona, as defesas seriam mais "específicas", então, se fossem infectados com a Covid-19, teriam menos proteção cruzada.
Além disso, essas várias exposições poderiam fazer com que o sistema imune reagisse de forma mais grave se entrasse em contato com o Sars-CoV-2.
"A distribuição etária da Covid-19 pode ser explicada ou pela queda de proteção cruzada aos eHCOVs [coronavírus endêmicos que causam resfriados] ou pelo acúmulo de respostas [imunes] cruzadas que não são protetoras", afirmam os pesquisadores no estudo.
Os cientistas afirmam, entretanto, que esses não devem ser os únicos motivos por trás da severidade da Covid-19. Eles não descartam, também, que as pessoas mais velhas estejam mais suscetíveis à Covid-19 por causa do envelhecimento e deterioração (senescência) do sistema imune.
Francesco Pinotti, de Oxford, lembra, ainda, que o modelo é teórico e suas conclusões são hipotéticas. Por isso, ainda precisa de mais estudos para ser comprovado.
"Testar nossa hipótese requer dados sobre exposição aos HCOVs [coronavírus que causam resfriados] ao longo do tempo, o que é particularmente difícil de se obter”, disse.
Fonte: G1
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