Cientistas do Instituto Karolinska, na Suécia, encontraram células de defesa capazes de reconhecer o novo coronavírus (Sars-CoV-2) no sangue de pessoas que não tiveram anticorpos detectados para o vírus, mostra uma pesquisa publicada na sexta-feira (14) na revista científica "Cell".
Médicas do Ministério da Saúde da Palestina examinam amostras de sangue de pessoas com suspeita de infecção pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) no dia 15 de julho. — Foto: Hazem Bader/AFP
As células encontradas, do tipo "T", são responsáveis, entre outras tarefas, por destruir células infectadas com o vírus. Assim como os anticorpos, elas fazem parte da resposta imune do corpo à infecção pela Covid-19, mas atuam de maneira diferente.
As células foram encontradas no sangue de indivíduos que tinham tido casos leves ou assintomáticos da doença e, também, no de familiares de pessoas com Covid-19, que foram expostos ao vírus.
Os achados reforçam estudos anteriores, que já apontavam que os anticorpos para o novo coronavírus tendem a desaparecer, enquanto outro tipo de resposta imune, a celular, tende a ser duradoura. Isso quer dizer que é possível que essas pessoas tenham tido esses anticorpos em algum momento, mas, com o tempo, ele foi "sumindo", deixando a resposta celular.
"O método de detecção é importante. Para medir o anticorpo, você tira um retrato daquele momento. Não detectar o anticorpo não significa que ele não esteja lá", explica Natália Machado Tavares, pesquisadora de imunologia e patologia da Fiocruz Bahia.
"Já a célula você reestimula in vitro. Então é como se ela estivesse sendo exposta de novo ao vírus", completa Machado. "Você está vendo a função da célula – é como se você induzisse a célula a responder. Já o anticorpo, não", diz.
Proteção
Para os cientistas da Suécia, os resultados também sugerem que ter sido exposto ou infectado com o novo coronavírus pode garantir proteção contra novas infecções – porque, apesar de os anticorpos "sumirem", a capacidade de resposta e "lembrança" das células T continua lá.
"Nosso conjunto de dados coletivo mostra que o Sars-CoV-2 elicita respostas robustas, amplas e altamente funcionais das células T, sugerindo que a exposição ou infecção podem prevenir episódios recorrentes de Covid-19 grave", afirmam os pesquisadores no estudo.
A capacidade das células T de "lembrarem" do novo coronavírus está sendo bastante estudada pela ciência. Saber como elas funcionam pode ajudar a entender se é possível haver uma reinfecção, em um curto período, pelo Sars-CoV-2. Isso ainda não está totalmente esclarecido.
Além disso, afirmam os cientistas, a descoberta de uma forte resposta de células T em pessoas sem anticorpos encontrados sugere que pode haver mais pessoas com algum grau de proteção contra a Covid-19 do que sugerem os chamados inquéritos sorológicos, que buscam detectar anticorpos para o vírus na população em geral.
"Esses doadores exibiram respostas robustas de células T meses após a infecção, mesmo na ausência de anticorpos detectáveis específicos para Sars-CoV-2, indicando um grau previamente inesperado de imunidade em nível populacional contra a Covid-19", consideram os pesquisadores.
Fonte: G1
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