A retomada das aulas pode expor mais de 600 mil pessoas, que fazem parte do grupo de risco para a Covid-19 no Estado do Rio de Janeiro, de acordo com um estudo publicado nesta quarta-feira (22) pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Sala de aula vazia no Rio de Janeiro — Foto: Reprodução/TV Globo
De acordo co o estudo, essas pessoas são idosos ou adultos com alguma comorbidade e que vivem em lares com, pelo menos, um menor em idade escolar e que poderiam ser infectados caso estas crianças e adolescentes se tornem vetores da doença, levando o coronavírus para suas casas. Em todo o Brasil este número chegaria a 9,3 milhões de pessoas.
Os dados estão na nota técnica “Populações em risco e a volta as aulas: Fim do isolamento social”. O estudo foi elaborado pelos pesquisadores do do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz) e leva em consideração um retorno pleno às aulas.
Nesta terça (21), a prefeitura do Rio autorizou a reabertura de escolas particulares a partir de 3 de agosto. Na manhã desta quarta, o governo do RJ publicou no Diário Oficial que as aulas presenciais na rede estadual de ensino estão suspensas até o dia 5 de agosto.
O levantamento usou como base dados da Pesquisa Nacional de Saúde indicando os dois grupos populacionais que se encontram nos grupos de risco da Covid-19: os adultos com idade entre 18 e 59 anos que têm diabetes, doença do coração ou no pulmão, e pessoas com mais de 60 anos. Estes dados foram cruzados para determinar quantas pessoas destes grupos vivem em lares com pelo menos uma pessoa entre 3 e 17 anos, ou seja, em idade escolar.
No RJ, seriam 357.553 idosos e 243.163 portadores de alguma comorbidade, somando 600.716 pessoas.
O Rio de Janeiro é o terceiro estado do país em números absolutos de pessoas nesta situação, atrás apenas de São Paulo (2,1 milhões de pessoas) e Miinas Gerais (1 milhão).
Mais cuidado
Segundo o epidemiologista Diego Xavier, um dos autores do estudo, a volta às aulas exige mais cuidado e preparo do que o retorno de setores como comércio e serviços, por exemplo, pois uma vez após o retorno, estas pessoas que podem desenvolver casos graves da doença e que convivem com os estudantes estariam fora do processo de isolamento social.
“O risco é que, se esta criança for para a escola, se contaminar e voltar para casa, esta população não tem como manter o isolamento social. Porque o vírus vai estar dentro da casa delas”, explicou.
Ele destaca ainda que um pleno retorno presencial das aulas não envolve apenas as crianças, mas todas as outras pessoas que convivem com elas e que podem estar expostas ao risco. Isto inclui a comunidade escolar, que envolve os professores, pessoas responsáveis pela limpeza e transporte, além de todos os que convivem com eles.
“Quando as aulas estão acontecendo o volume de pessoas nas ruas é muito maior e o vírus se aproveita disso para se disseminar”, explicou Xavier.
Desmobilização de recursos
Segundo Xavier, mesmo com uma tendência de redução de casos como tem sido observado no Rio de Janeiro, um retorno precoce e sem planejamento às aulas pode causar uma complicação do cenário.
“Em alguns estados há uma tendencia de diminuição dos casos, mas se a gente colocar mais gente nas ruas e expor esta população de risco, os casos graves vão aparecer e, consequentemente, os óbitos”, destacou o pesquisador.
Ele ressaltou ainda que, no caso do Rio, um possível aumento na demanda por leitos pode causar problemas no momento em que unidades destinadas ao tratamento de pacientes com Covid-19 são fechadas.
“Os recursos extras que a gente estava disponibilizando, que eram os hospitais de campanha, eles estão sendo desmontados. A gente pode ter uma sobredemanda desta população de risco e não ter recursos para atender, porque desmobilizamos os recursos que a gente precisou durante o processo epidêmico”, disse Xavier.
Retorno seguro
O epidemiologista fez questão de ressaltar que é preciso observar os contextos onde os estudantes estão inseridos e também usar uma estratégia de testagem para rastrear e impedir a cadeia de contaminação ao elaborar um possível retorno presencial às atividades escolares.
“Se você tem uma criança que vive com uma população de risco, é preciso monitorar. Você não pode pensar que esta situação é como a de uma outra criança, que vive com o pai ou mãe que não apresentam nenhum fator de risco”, destacou.
Além disso, ele afirmou que a população precisa ser informada da maneira correta pelas autoridades sobre o risco.
“Uma coisa importante é que a população precisa ser informada e ter consciência dos riscos que ela está correndo a medida que ela endossa as medidas do poder público. A população precisa entender que, se ela está aceitando esta medida, ela pode estar colocando em risco o seu avo, sua avo, seu pai, sua mãe ou outra pessoa que tenha um fator de risco dentro de casa”, finalizou.
Fonte: G1
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