O ex-ministro da educação Abraham Weintraub, investigado no Supremo por racismo e ameaças a ministro da Corte, está nos Estados Unidos desde a manhã deste sábado (20). Só depois do desembarque, o governo brasileiro publicou a exoneração no Diário Oficial. Com isso, Weintraub ficou livre da quarentena imposta a brasileiros. O ex-ministro é alvo de inquéritos no Supremo Tribunal Federal.
Abraham Weintraub sinalizou na sexta-feira (19) que tinha pressa para ir embora do país. Ele escreveu numa rede social: “Estou saindo do Brasil o mais rápido possível (poucos dias). Não quero brigar!”.
Na manhã de sábado, Abraham Weintraub, ainda como ministro, postou uma mensagem às 8h17. A localização: Miami. Às 8h34, também com a localização em Miami, ele respondeu a um comentário: “As coisas aconteceram muito rapidamente...”.
Às 9h07, Arthur Weintraub, irmão de Abraham, escreveu numa rede social: “Meu irmão está nos EUA”.
Logo depois, a TV Globo perguntou ao MEC e a assessoria de imprensa confirmou que Weintraub estava nos Estados Unidos. Entrou por Miami. Segundo o MEC, Weintraub foi em um voo comercial, classe econômica.
Brasileiros estão obrigados a fazer quarentena para entrar nos Estados Unidos por causa da pandemia, mas o decreto americano que estabeleceu estas regras tem exceções. Uma delas diz respeito a vistos que autorizam a entrada diretamente. Ministros têm direito a este visto especial.
A exoneração de Abraham Weintraub só foi oficializada pelo presidente Jair Bolsonaro perto das 12h, numa edição extra do Diário Oficial. Ou seja, depois do desembarque de Weintraub em solo americano. Ainda na condição de ministro, ele pode ter se valido do passaporte diplomático ou de um visto especial para entrar nos Estados Unidos.
Nem o Itamaraty, nem o Ministério da Educação responderam às perguntas do Jornal Nacional sobre o passaporte ou o tipo de visto que o ministro usou para entrar nos Estados Unidos.
O MEC informou que a viagem já estava relacionada com o novo cargo que ele deve ocupar. Weintraub foi indicado para uma diretoria do Banco Mundial em Washington, para representar o Brasil e outros oito países. Para cargos como esse do Banco Mundial, o visto apropriado é o chamado visto G.
Na quinta-feira, o Banco Mundial explicou que se Weintraub for eleito, cumprirá o restante do atual mandato, que termina em 31 de outubro deste ano, quando será necessária uma nova nomeação e nova eleição.
Quinze organizações da sociedade civil e mais de 250 pessoas, entre economistas, ex-ministros, escritores e artistas, escreveram uma carta aos representantes dos oito países que integram o grupo do Brasil no Banco Mundial.
Eles se manifestam contra a nomeação, falam em danos irreparáveis que Weintraub poderia causar aos países estando no Banco Mundial. E concluem: estamos convencidos de que Abraham Weintraub não possui as mínimas qualificações éticas, profissionais e morais para ocupar o assento na diretoria executiva do Banco Mundial.
O senador Fabiano Contarato, do partido Rede, tinha pedido na sexta-feira ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que Weintraub fosse proibido de sair do país, argumentando que ele tem notável papel de liderança na incitação de grupos de ódio e poderá continuar fazendo isso fora do Brasil.
Parlamentares comentaram a viagem de Weintraub nas redes sociais.
Aliado de Bolsonaro, o deputado Filipe Barros, do PSL, escreveu: “Graças a Deus. Abraham Weintraub Já está nos Estados Unidos”.
A deputada Fernanda Melchionna, do PSOL, disse que “Weintraub usou o cargo ainda de ministro da educação para fugir do Brasil e contou com apoio do chefão, já que foi exonerado por Bolsonaro logo que conseguiu entrar nos EUA. Tudo arquitetado!”.
Weintraub responde a dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal, mas não há decisões judiciais que o impeçam de viajar ao exterior. O ex-ministro da educação foi incluído no inquérito das fake news por ter atacado o Supremo Tribunal Federal, na reunião ministerial do dia 22 de abril, no Palácio do Planalto. “Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF”, disse na ocasião.
Ele é investigado por suposto crime de racismo, por ter publicado numa rede social mensagem ironizando a forma como alguns chineses trocam o som da letra R pelo da letra L ao falar português, e insinuando que a China poderia se beneficiar, de propósito, da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus.
Até agora, o Palácio do Planalto não se manifestou sobre a viagem de Abraham Weintraub. O Banco Mundial informou que o processo de eleição de aprovação do nome do ex-ministro para assumir uma diretoria em Washington pode levar até quatro semanas.
Fonte: G1
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