A Polícia Civil do Distrito Federal apreendeu, neste domingo (21), fogos de artifício, anotações com planejamento de ações e discursos, cartazes, celulares e um cofre em uma chácara usada por três grupos de extremistas que apoiam o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A propriedade fica na região de Arniqueira, a cerca de 20 quilômetros da Praça dos Três Poderes.
A operação foi coordenada pela divisão especial de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Cecor). Segundo o delegado Leonardo Castro, responsável pelo cumprimento do mandado de busca e apreensão, a ação corre paralelamente ao inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF), que apura atos antidemocráticos (veja entrevista abaixo).
Polícia Civil aprende facão, fogos de artifício e cofre em chácara de grupo extremista em Brasília — Foto: PCDF/Divulgação
Polícia Civil durante mandado em chácara de grupos extremistas de apoio ao presidente Bolsonaro, no DF — Foto: PCDF/Divulgação
De acordo com o delegado, "existem crimes que são da Polícia Federal e da Justiça Federal, e outros crimes cometidos que devem ser apurados pela Polícia Civil do Distrito Federal".
O policial explicou que "a Cecor está apurando os crimes cometidos relacionados a autoridades locais, a jornalistas, profissionais de saúde e pessoas que estavam próximas a manifestações e acabaram sofrendo agressões verbais e injúrias". A investigação começou no dia 26 de maio.
As informações e as provas poderão ser compartilhadas com a Polícia Federal, "se houver algo na esfera federal", apontou o delegado.
O mandado de busca na chácara de Arniqueiras foi concedido na noite de sexta-feira (19) pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF). Conforme Leonardo Castro, os integrantes dos grupos são investigados por milícia privada, ameaças e porte de armas. Ninguém foi preso.
Chácara tinha forte esquema de segurança
Operação da Polícia Civil contra grupos de extremistas no Distrito Federal — Foto: Arte G1
Ainda de acordo com a Cecor, a chácara pertence ao empresário André Luís Bastos de Paula Costa, de Goiânia (GO). Há duas casas no terreno usadas como "bases de apoio para os grupos", disse o delegado Leonardo Castro.
Ao G1, o policial afirmou que acredita que o local era usado para receber pessoas de outros estados, para reuniões e planejamento de ações. Foram apreendidos manuscritos com esquemas e croquis.
"Nós investigamos crimes. Essas pessoas vêm se manifestando e, às vezes, ultrapassando o limite da liberdade de expressão e comentando crimes contra honra, ameaças. Quando ultrapassa esse limite isso passa ser crime", disse o delegado
O imóvel tem câmeras de segurança que cobrem toda a sua extensão. "O local tem um imenso aparato de segurança", apontou o delegado. Segundo ele, há um muro e um portão reforçados.
A polícia encontrou barracas instaladas no terreno e dois hóspedes, em uma das casas. Conforme os investigadores, eles estavam na capital federal para participar de atos de apoio ao governo Bolsonaro. No entanto, os policiais não disseram de onde vieram os dois homens.
Chefe de um dos grupos está na Penitenciária Feminina do DF
A chefe de um dos grupos de extrema-direita que estavam concentrados na chácara de Arniqueiras, Sara Giromini, está presa desde o início da semana passada por ordem do ministro Alexandre de Morais, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A apoiadora do presidente Jair Bolsonaro Sara Giromini defende o armamento da população e já publicou nas redes sociais fotos com revólveres — Foto: Reprodução/Twitter
O ministro determinou a prisão como parte das investigações do inquérito – aberto a pedido da Procuradoria Geral da República – que apura a organização e o financiamento de atos antidemocráticos. Um dos elementos que pesam contra o grupo de Sara é a movimentação pela captação de recursos, inclusive, a partir de uma vaquinha online para financiar as ações.
Além de Sara, outras cinco pessoas tiveram a prisão provisória prorrogada com base na investigação sobre atos antidemocráticos praticados em Brasília.
Fogos de artifício lançados contra o STF
Vários atos antidemocráticos tiveram como alvo a capital federal, neste mês de junho. Na noite de sábado (13), cerca de 30 apoiadores do presidente lançaram fogos de artifícios contra o prédio do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília.
A ação durou ao menos cinco minutos.Os apoiadores de Bolsonaro ofenderam com xingamentos pesados os ministros da Corte, inclusive o presidente Dias Toffoli. Em tom de ameaça, perguntavam se os ministros tinham entendido o recado e mandaram que eles se preparassem.
O grupo também ofendeu o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), que os desalojou de um acampamento na Esplanada dos Ministérios. Esse grupo de apoiadores do presidente Bolsonaro prega o fechamento do STF e do Congresso.
No domingo (14), a Procuradoria-Geral da República instaurou um procedimento preliminar para apurar o ato contra o STF. A investigação atendeu a um pedido do presidente do Supremo, Dias Toffoli.
Pedido de Aras
No dia 20 de abril, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de um inquérito para apurar a organização de atos contra a democracia no país. A investigação tem como pano de fundo atos realizados em todo o país, no dia 19 de abril, e que tinham entre os manifestantes defensores do fechamento do Congresso, do STF e da reedição do AI-5, o ato institucional que endureceu o regime militar no país.
O caso está em sigilo no STF e tem entre os alvos deputados federais, o que justifica a competência da Corte para o caso. O relator do pedido é o ministro Alexandre de Moraes.
Acampamento na Esplanada
Desde maio passado, a região da Esplanada dos Ministérios havia se tornado local de acampamento para grupos extremistas que apoiam o presidente Jair Bolsonaro. No último fim de semana, a Polícia Militar do DF desmontou os acampamentos, após uma determinação do governador do Distrito Federal.
Conforme o GDF, a desocupação vinha sendo negociada. O Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT) já havia pedido ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT) a desmobilização do acampamento de apoiadores do presidente. O órgão compara o movimento a uma "milícia armada". No entanto, a solicitação foi rejeitada.
Ao julgar o pedido do MP, o juiz Paulo Afonso Cavichioli Carmona entendeu que a restrição "não é idônea [íntegra] para garantir a sobrevivência da liberdade de pensamento, da liberdade de locomoção e ao direito de reunião".
Os promotores chegaram a ingressar novos documentos em recurso para tentar, mais uma vez, desmobilizar o acampamento. A pedido do MP, a Polícia Civil passou a investigar integrantes.
Fonte: G1
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