quarta-feira, março 04, 2020

Roubo milionário em Viracopos completa 2 anos sem respostas e com investigações em segredo

O roubo de 5 milhões de dólares no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP), completa dois anos nesta quarta-feira (4) sem respostas da Polícia Federal (PF) sobre quem participou do crime, a localização do dinheiro, e com as investigações mantidas sob segredo de Justiça. Especialistas em segurança pública ouvidos pelo G1 criticam a falta de esclarecimentos.

Dólares foram transportados pela Lufthansa Cargo — Foto: Reprodução/EPTV
Dólares foram transportados pela Lufthansa Cargo — Foto: Reprodução/EPTV

A reportagem questionou se a PF identificou suspeitos e se houve recuperação de valores, mas a assessoria da instituição informou somente que há sigilo nas apurações por determinação da Justiça.

Em recuperação judicial e com dívida estimada em R$ 2,88 bilhões, a concessionária Aeroportos Brasil planeja iniciar o processo de relicitação da estrutura. Veja o passo a passo da mudança.

À época do crime, um grupo com ao menos cinco homens armados com fuzis invadiu a área de cargas do aeroporto para levar os dólares, além de quantias em libras e reais que seriam entregues na Suíça. Sem fazer disparos, os criminosos entraram e saíram da estrutura em seis minutos.

De acordo com a Receita Federal, a remessa dos dólares foi declarada corretamente. O dinheiro estava em um avião da Lufthansa carregado em Guarulhos (SP) e que fez escala no aeroporto de Campinas para pegar mais carga antes de seguir viagem para a Europa.

Roubo em Viracopos foi executado em seis minutos — Foto: Arte/G1
Roubo em Viracopos foi executado em seis minutos — Foto: Arte/G1

Insegurança
O especialista em segurança pública Guaracy Mingardi avalia que falta aperfeiçoamento para a Polícia Federal investigar determinados tipos de crimes, e faltou uma resposta imediata ao crime.

"Se está sob sigilo e ninguém falou nada é porque não chegaram a nada palpável. Esse é o grande problema", explica ao ponderar que, com o passar do tempo, a investigação fica ainda mais complexa.
"Isso mostra que a quadrilha tem uma organização que a polícia não acompanhou", diz o cientista político ao mencionar que a dificuldade é ampliada caso o dinheiro tenha sido levado para fora do país.

Para o consultor em segurança pública José Vicente da Silva Filho, é improvável que a PF consiga solucionar o caso depois de tanto tempo.

"Em dois anos, as provas evaporam [...] É um fracasso. A Polícia Federal tem muita disposição de trabalho, recurso financeiro, treinamento, mas é um fracasso, mas está devendo nessa", falou o coronel reformado da Polícia Militar.
Segundo ele, por outro lado, isso não significa que o aeroporto possa ser alvo de crimes semelhantes. "Quando acontece um crime deste porte, medidas mais rigorosas de prevenção e vigilância são tomadas. Descobrem vulnerabilidades e ineficiências para corrigi-las. Acredito que tenha sido feito."

A assessoria da polícia não quis comentar sobre as declarações.

O que mudou?
A concessionária administradora de Viracopos diz que, após o caso, fez "diversas mudanças para aprimorar a segurança" no aeroporto, em conjunto com autoridades policiais e aeroportuárias. Detalhes, entretanto, são mantidos em segredo para evitar novos crimes.

"A concessionária Aeroportos Brasil Viracopos esclarece que aguarda a conclusão das investigações por parte da Polícia Federal, que estão sob segredo de Justiça", diz trecho da nota.

Veículo usado no crime foi achado queimado — Foto: Reprodução / EPTV
Veículo usado no crime foi achado queimado — Foto: Reprodução / EPTV

À EPTV, em fevereiro de 2019, o presidente da gestora, Gustavo Müssnich, contou ter recebido informações da PF de que, "em breve", a corporação deve divulgar resultados das apurações. Além disso, ele foi questionado sobre um suposto envolvimento de funcionários que trabalham no terminal.

"Existem suspeitas sim, mas o delegado ainda não nos deu detalhes, acho que até por conta da questão do sigilo da investigação, não seria nem adequado, mas ele disse que em breve deve anunciar alguma coisa [...] A estrutura de segurança do aeroporto é excepcional", falou à época.

Recomendações
Em nota, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) destacou que, após o crime, fez recomendações para a concessionária com objetivo de reduzir riscos nas áreas restritas do aeroporto.

"Este procedimento é protocolar. Posteriormente, e desde então, a Agência tem acompanhado as medidas tomadas para averiguar a legalidade com as normas de Segurança da Aviação Civil Contra Atos de Interferência Ilícita [AVSEC]", informa texto da assessoria. De acordo com a agência, detalhes sobre as medidas não podem ser revelados por questões de segurança.

Assalto em 2019
Em outubro do ano passado, um assalto a carro-forte no aeroporto terminou com três criminosos mortos, cinco pessoas feridas, armas de guerra apreendidas e o dinheiro recuperado. De acordo com a Polícia Federal, o caso é mantido sob sigilo para não atrapalhar as investigações.

Assalto em Viracopos: caminhões incendiados na rodovia Santos Dumont, em Campinas — Foto: Wagner Souza/Futura Press/Estadão Conteúdo
Assalto em Viracopos: caminhões incendiados na rodovia Santos Dumont, em Campinas — Foto: Wagner Souza/Futura Press/Estadão Conteúdo

Fonte: G1

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