segunda-feira, março 09, 2020

Polícia abre inquérito para apurar maus-tratos a crianças em creche particular na Zona Oeste de SP

A Polícia Civil de São Paulo abriu um inquérito para investigar uma denúncia de maus-tratos e omissão nos cuidados de crianças na escola infantil Casa da Vovó, em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo. A instituição nega as acusações.

Criança de 1 ano é obrigada a engolir comida em vídeo feito por professores de escola particular — Foto: Arquivo Pessoal
Criança de 1 ano é obrigada a engolir comida em vídeo feito por professores de escola particular — Foto: Arquivo Pessoal

A denúncia foi feita pelos pais de uma criança de 1 ano e 6 meses que frequentou a escola durante 10 dias. A família afirma que reuniu relatos de outros pais de crianças que frequentaram o local e conversas com ex-funcionários.

O documento, entregue à polícia, aponta que ao menos 23 crianças passaram por maus-tratos na escola. Há também vídeos feitos por ex-funcionários com registros dos maus-tratos. Segundo a família, a mensalidade custa em torno de R$ 3 mil.

O caso foi registrado no 14° Distrito Policial, em Pinheiros. Na semana passada, a família apresentou ao delegado representação criminal contra a diretora e duas educadoras pedagógicas da creche.

Entre os fatos descritos pela família estão agressões físicas e verbais como beliscões, apertar o olho da criança quando ela não queria dormir, castigos em pé durante horas em um local isolado e fechado, obrigar a criança a comer e jogá-lo embaixo do chuveiro gelado, com roupa, enquanto chorava.


Ao G1, a Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP) confirmou a denúncia e disse que o delegado responsável pelo caso já intimou testemunhas para prestarem depoimento.

Em nota, a escola disse que as imagens divulgadas "não representam em absoluto a filosofia de acolhimento e afetividade" da escola, onde não cabe "nenhuma tolerância a maus-tratos" (leia a íntegra abaixo).

A escola alega que "todas as providências cabíveis foram tomadas, até o mesmo o afastamento da funcionária, com o objetivo de manter a sua segurança e de todos que estão envolvidos nesse caso".

No texto, a direção da instituição diz estar "em processo de revisão dos procedimentos internos" e afirma que um grupo de mães fez um abaixo-assinado defendendo a escola. O G1 recebeu o telefonema de uma delas confirmando a informação.

Segundo Miguel Silva, advogado da família que denunciou o caso, além do menino, outras criança que frequentavam a escola eram submetidas "a sessões de tortura" por parte da diretora e das coordenadoras pedagógicas, "inclusive com arremesso de água gelada na face das crianças, impondo aos menores um verdadeiro circo de horrores".

"Meu filho ficou dez dias na escolinha e passou a apresentar um comportamento estranho. Até hoje, ele não come de colher, só quer comer com as mãos. Logo nos primeiros dias que ele esteve na escola, passou a chorar a toda hora, ter medo e não querer dormir à noite sem a luz ligada. Achei estranho e resolvi tirar ele da escola", disse ao G1 a assistente social Andréia Souza, responsável pela denúncia.
Imagens obtidas pela família com ex-funcionários e que foram entregues à Polícia Civil registram crianças isoladas em quartos fechados, sem iluminação ou ventilação, e perto de baratas mortas. Também há registros de alimentos vencidos, lixo perto dos menores e descuido com o armazenamento de comida – em um deles, há uma embalagem de leite perto de um vaso sanitário.


"Ele voltava para casa com uma nova roupa, trocada, e a roupa que ele havia usado mandavam em um saco plástico, molhada. Ia na escola e perguntava o que houve e me respondiam que ele havia 'feito cocô'. Mas a roupa molhada estava limpa! Neste ano, um ex-professor me procurou contando o que faziam, que colocavam as crianças no chuveiro gelado quando choravam", acrescentou Andréia.

Criança vista perto de barata em escola — Foto: Arquivo Pessoal
Criança vista perto de barata em escola — Foto: Arquivo Pessoal

Leite armazenado junto com produtos de limpeza em escola na Zona Oeste de SP — Foto: Arquivo Pessoal
Leite armazenado junto com produtos de limpeza em escola na Zona Oeste de SP — Foto: Arquivo Pessoal

Histórico
Andreia diz que, em fevereiro, após fazer uma cirurgia, foi procurada por um ex-professor da escola, que disse ter um vídeo que mostrava o filho da assistente social sendo agredido enquanto almoçava. Na gravação, é possível ver uma das coordenadoras pedagógicas forçando o menino a comer, colocando uma colher cheia de comida com força na boca do menino seguidas vezes.


O garoto se engasga, chora bastante, mas mesmo assim a coordenadora continua.

"Falei com diversas mães e nos abraçamos ao relembrar o que nossos filhos sofreram. Eu sabia que algo tinha acontecido, mas não sabia, até então, o que era. Ao conversar com ex-funcionários, alguns deles me relataram até mesmo que pararam de trabalhar na escola porque não aguentavam o que viam. Eles não tinham o mínimo de cuidado com as crianças, muito pelo contrário", diz Andréia.

"A gente paga caro e coloca nas mãos de pessoas que acreditamos ser idôneas nossos filhos, achando que serão bem-tratados. A escola tem credibilidade, você acredita. Daí seu filho muda de comportamento de uma hora para outra, começa a chorar toda vez que vê o uniforme da escola, e você não consegue imaginar o descuido que está acontecendo."

Nota da nota da escola Casa da Vovó:
"Gostaríamos de nos posicionar perante aos pais e à nossa sociedade, referente aos vídeos divulgados, que não representam em absoluto a filosofia de acolhimento e afetividade com as nossas crianças, portanto, não cabendo nenhuma tolerância a maus tratos.

Efetivamente, todas as providências cabíveis foram tomadas, até o mesmo o afastamento da funcionária, com o objetivo de manter a sua segurança e de todos que estão envolvidos nesse caso. Estamos em processo de revisão de procedimentos internos e empenhados em esclarecer toda a verdade.

Somos uma instituição séria de mais de 40 anos de existência com metas claras de transparência e parceria para uma primeira infância feliz e no desenvolvimento de cidadãos do bem.
Diretoria da escola".

Fonte: G1

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