Os governadores do Nordeste divulgaram, nesta sexta (27), uma carta aberta e manifestam “profunda indignação” com a postura do governo federal diante das ações para conter a pandemia do novo coronavírus. Segundo os gestores, a União contraria a orientação de entidades, que indicam o isolamento social como melhor forma de conter a doença, e promove campanhas contra a quarentena. “Este tipo de iniciativa representa um verdadeiro atentado à vida”, afirmam.
Governadores em reunião do Consórcio Nordeste, no Centro do Recife, em novembro de 2019 — Foto: Heudes Regis/SEI/Divulgação
A carta foi redigida e assinada pelos nove governadores, depois de uma reunião por videoconferência. Os gestores também exigiram “respeito por parte da Presidência da República”, esperando que “cessem, imediatamente, as agressões contra os governadores, assumindo-se um posicionamento institucional, com seriedade, sobre medidas preventivas”.
Para os gestores, a “omissão em padronizar normas nacionais e a insistência em provocar conflitos impedem a unidade em favor da saúde pública”. Para eles, assim, “expõe-se a vida da população, além de assumir graves riscos no tocante à responsabilidade política, administrativa e jurídica.”
Os gestores do Nordeste também ressaltaram estar "abertos ao diálogo", neste "esforço que precisa ser coletivo, tendo como meta a superação da ameaça representada por esta doença, que continua matando milhares de pessoas"
"Temos absoluta convicção de que o diálogo, o equilíbrio e a união serão sempre o melhor caminho para revertermos este quadro crítico. Seguimos firmes e vigilantes em defesa da vida das pessoas, inclusive na luta para impedir atos que possam significar riscos à saúde pública", afirmaram, na carta.
Pernambuco
Depois de participar da reunião, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), criticou o governo federal por causa da briga com os governadores em torno das medidas de restrição impostas para tentar barra a pandemia do novo coronavírus.
A declaração foi feita por meio de redes sociais, no dia em que o estado confirmou a quarta morte pela Covid-19 e mais noves casos, totalizando 57. “O Brasil precisa de um governo que faça o certo”, afirmou.
Ainda de acordo com o governador, a determinação, em todo o mundo, é manter as pessoas em casa por um tempo, para diminuir a propagação do vírus. Ela afirmou também que “o trabalho dos governos, a dedicação dos profissionais de saúde e a colaboração da maioria da população acabam sendo insuficientes, por causa de gestos irresponsáveis”.
Para Câmara disse, ainda, que “em vez de se proteger e de proteger a família, quem vai para a rua pode se contaminar e virar agente de transmissão. Coloca a vida em risco e ameaça os outros”.
Durante o pronunciamento, o governador não citou o nome de Jair Bolsonaro (sem partido), que criticou as medidas adotadas por governadores e prefeitos ao fechar o comércio e restringir o fluxo de pessoas nas ruas. Bolsonaro disse, ainda, que o brasileiro precisa ser "estudado" porque é capaz de pular "no esgoto" sem que nada aconteça com ele.
O governador de Pernambuco disse que “não dá para voltar à vida normal no meio de uma pandemia”, se referindo a uma frase do presidente da República.
Sobre as ações econômicas, o governador afirmou que “os governos federais, nos mais diversos países, têm tomado providências emergenciais para cuidar da saúde e da renda das pessoas”
Ele disse que Pernambuco fez fazendo a sua parte e cobrou iniciativas da União. “Temos feito todo o possível. Mas só o governo federal pode emitir dinheiro e realizar programas de renda para os trabalhadores. É assim no mundo”.
Segundo Paulo Câmara, “as pessoas precisam de proteção social e econômica. Para ter um rumo, que nos permita superar este drama”.
O Chefe do executivo de Pernambuco disse, ainda, que não faz sentido o governo federal brigar com governadores e “querer colocar as pessoas em risco, sem assumir ações efetivas dedicadas ao social e à economia.”.
“Dá para enfrentar a doença, com prevenção e cuidados. Dá para inibir os seus efeitos imediatos, com proteção social. Existe a ameaça da doença e da fome”, declarou.
Para o governador, o novo coronavírus fez o mundo aprender muitas lições. Segundo ele, “tentar negar ou adiar certas decisões, como o distanciamento social, custou muito caro, uma conta paga com vidas. Todo dia cresce o número de mortes na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil”, observou
O chefe do executivo estadual também fez um apelo à população. “A Covid-19 continua matando milhares de pessoas. No Brasil, a situação vai se agravar se a população não obedecer à orientação de quem entende. Salvar vidas é ação prioritária e urgente”.
Ele usou novamente uma expressão de outro pronunciamento, no qual disse: “Não se recuperam vidas perdidas”.
Câmara, por fim, afirmou que a recuperação econômica deve ser o passo seguinte. “Estamos analisando diariamente as medidas restritivas, ajustando-as para mais ou para menos, a partir de dados concretos. Elas são realmente muito duras, mas são fundamentais neste momento crítico de crescimento dos casos”.
Recife
O prefeito do Recife, Geraldo Júlio (PSB), também se pronunciou, nas redes sociais, para pedir ações do governo federal no enfrentamento ao coronavírus. O gestor afirmou que está "nas mãos do governo federal" o futuro dos brasileiros nos próximos meses e pediu para que a União coloque mais moeda no mercado.
"Só o governo federal pode emitir moeda. É isso que todos os países mundo a fora estão fazendo, emitindo moeda e salvando as famílias, as empresas e seus empregados e os governos regionais. Governadores e prefeitos não podem emitir moeda, o presidente, pode. Numa situação como essa, cada um tem que fazer a sua parte. Os governadores e prefeitos estão tentando abrir leitos hospitalares, garantir merenda, distribuir cestas básicas, no entanto, muito mais do que isso será necessário", afirmou.
Ciclo do coronavírus — Foto: Foto: Arte/G1
Carta dos governadores na íntegra
"Nós, governadores do Nordeste, em videoconferência realizada neste dia 27 de março, assim nos manifestamos:
1) Com bom senso e equilíbrio, vamos continuar orientados pela ciência e pela experiência mundial, para nortear todas as medidas, diariamente avaliadas, nesta guerra travada contra
o Coronavírus. Reiteramos que parâmetros científicos indicam as ações preventivas e protetivas, de intensidade gradual e estágios progressivos ou regressivos, adequando-as sempre à realidade de cada região de nossos Estados.
2) Na ausência de efetiva coordenação nacional, que deveria ser assumida pelo Governo Federal, em articulação com os demais entes federativos, buscaremos avançar na integração regional e com as demais regiões, mobilizados pelo objetivo de salvar vidas e amenizar os impactos negativos sobre a economia dos estados. Acreditamos também que o Congresso Nacional tem papel decisivo no atual momento da vida brasileira.
3) Dispostos a fortalecer o embasamento de cada uma das nossas medidas, já construídas sobre as bases apresentadas pela OMS, solicitaremos um pronunciamento oficial do Conselho Federal de Medicina, do Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Saúde e da Sociedade Brasileira de Infectologia, além do acompanhamento e orientação do Ministério Público Federal e do Ministério Público dos Estados.
4) Manifestamos nossa profunda indignação com a postura do Governo Federal, que contraria a orientação de entidades de reconhecida respeitabilidade, como a OMS - que indicam o isolamento social como melhor forma de conter o avanço do Coronavírus -, e promove campanha de comunicação no sentido contrário, estimulando, inclusive, carreatas por todo o país contra a quarentena. Este tipo de iniciativa representa um verdadeiro atentado à vida.
5) De nossa parte, exigimos respeito por parte da Presidência da República, esperando que cessem, imediatamente, as agressões contra os governadores, assumindo-se um posicionamento institucional, com seriedade, sobre medidas preventivas. A omissão em padronizar normas nacionais e a insistência em provocar conflitos impedem a unidade em favor da saúde pública. Assim agindo, expõe-se a vida da população, além de assumir graves riscos no tocante à responsabilidade política, administrativa e jurídica.
6) Enfatizamos que sempre estaremos abertos ao diálogo, neste esforço que precisa ser coletivo, tendo como meta a superação da ameaça representada por esta doença, que continua matando milhares de pessoas. Temos absoluta convicção de que o diálogo, o equilíbrio e a união serão sempre o melhor caminho para revertermos este quadro crítico. Seguimos firmes e vigilantes em defesa da vida das pessoas, inclusive na luta para impedir atos que possam significar riscos à saúde pública."
Fonte: G1
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