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quinta-feira, março 05, 2020

Ex-secretário nacional de Justiça é suspeito de ajudar na fuga do empresário ‘Rei Arthur’

Astério Pereira dos Santos, procurador aposentado do Ministério Público do Rio, preso na manhã desta quinta-feira (5) na Operação Titereiro, é suspeito de ajudar na fuga do empresário Arthur Cesar de Menezes Soares Filho, o Rei Arthur, segundo investigação do Ministério Público Federal.

Segundo os procuradores, há indícios de que Astério, ainda na época que ocupava o cargo de secretário Nacional de Justiça, ajudou o empresário, alvo da operação Lava Jato, a fugir.

"Temos um depoimento consistente de um colaborador que estava junto com o Arthur Soares quando ele recebeu uma ligação e imediatamente se deslocou de Portugal para os Estados Unidos, sem maiores explicações. E esse mesmo colaborador disse ter recebido a confidência do Arthur Soares e que a informação veio de dentro do DRCI. A gente ainda não imputou esse crime contra o Astério, crime de ter ajudado na fuga, mas temos fortes indícios que houve o cometimento desse crime. As investigações prosseguem", Felipe Bogado, procurador da República durante entrevista coletiva.

Arthur Soares era dono das empresas que possuíam os maiores contratos com o governo do estado na gestão de Sérgio Cabral e acusado de envolvimento na compra de votos para a eleição do Rio como sede da olimpíada de 2016.

Astério Pereira na chegada à sede da Polícia Federal — Foto: Reprodução/GloboNews
Astério Pereira na chegada à sede da Polícia Federal — Foto: Reprodução/GloboNews

De acordo com o Ministério Público Federal, a relação foi revelada pelo sócio de Arthur Soares, Ricardo Siqueira Rodrigues. Em delação premiada, Ricardo contou que em agosto de 2017 - quando já havia mandado de prisão contra Arthur -, o empresário estava em Portugal e recebeu uma ligação do Brasil. Após a ligação, Rei Arthur ficou transtornado e retornou para os Estados Unidos.

Segundo Ricardo, meses depois ele encontrou Arthur Soares em Miami e o empresário revelou que a ligação teria sido de uma pessoa que teve acesso a documentos que tinham sido trocados no departamento de Ativos do Ministério da Justiça. Ricardo ainda disse que quem trabalhava lá era Astério Pereira dos Santos.

"A gente sabe exatamente onde ele está [Arthur Soares], mas não conseguimos alcançar porque nossos pedidos de cooperação jurídica não foram cumpridos. Embora tenhamos uma boa relação com as autoridades americanas, nesse caso não temos resposta. Eles simplesmente não respondem nossos pedidos. Acreditamos e há indícios que existe um acordo entre Arthur Soares e a Justiça americana", disse o procurador.

Na decisão, o juiz Marcelo Bretas destacou a relação de Astério e Rei Arthur. "Provável que o Astério, secretário à época, tenha repassado às informações sigilosas ao foragido Rei Arthur, mormente pela já mencionada relação de amizade entre eles", diz o documento.


O que diz a defesa do ex-secretário
Em nota, Fernando Augusto Fernandes, advogado de Astério, afirmou que ele vai provar que a denúncia "parte de informações inverídicas".

“Astério Pereira dos Santos manteve vida exemplar tendo prestado enorme serviço à sociedade como oficial, procurador de Justiça e secretário de Justiça. Ele acredita na Justiça e tem segurança que com os esclarecimentos prestados o processo provará que a denúncia parte de informações inverídicas. Importante ressaltar que a denúncia do Ministério Público não precedeu de nenhuma investigação anterior da Polícia Federal e foi ato exclusivo do MP sem bases probatórias", diz o texto.

Foragido
Rei Arthur ficou foragido desde 2017 e foi preso apenas no fim do ano passado. O nome de Arthur constava da lista de procurados da Interpol – a polícia internacional. A prisão, no entanto, foi feita por agentes da imigração americana, por outro motivo: falta de visto.

Em nota, a defesa afirmou que houve um "equívoco burocrático" que foi "devidamente sanado". "Arthur Soares se encontra em casa", diz o texto, negando que Arthur seja "foragido".

Arthur leva uma vida de luxo na cidade americana, como mostrou uma reportagem do Fantástico do dia 18 de agosto.

"Ele é chamado de Rei Arthur porque, ao longo de muitos anos, ele teve os maiores contratos com o Estado do Rio de Janeiro. Isso possibilitou a ele arrecadar um patrimônio milionário, talvez bilionário", explicou o procurador da República Stanley Valeriano.

Arthur Soares, conhecido como Rei Arthur, durante caminhada em Miami, nos Estados Unidos. Ele levava uma vida de luxo na cidade — Foto: Reprodução/ Fantástico
Arthur Soares, conhecido como Rei Arthur, durante caminhada em Miami, nos Estados Unidos. Ele levava uma vida de luxo na cidade — Foto: Reprodução/ Fantástico

‘Comissão’ de 15%
As prisões da Operação Titereiro são um desdobramento das operações Calicute, Eficiência, Descontrole e Quinto do Ouro, todas etapas da Lava Jato.

Além das informações apuradas nessas fases, também fazem parte desta investigação provas colhidas a partir de delações premiadas — como a do ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ), Jonas Lopes.

De acordo com o pedido de prisão, Lopes disse aos investigadores que usou o fundo especial do TCE para pagar fornecedores da Seap e do Degase.

Em troca, alguns conselheiros cobravam 15% dos valores pagos.

Jonas Lopes disse ainda que, para montar o esquema, precisou alterar a lei de criação do fundo. Para tal, procurou o então deputado Jorge Picciani.

O ex-conselheiro afirmou que Picciani indicou uma pessoa para organizar esses pagamentos. Esse encarregado seria Carlson Ruy.

Carlson era sócio de Astério na Dejund, empresa supostamente beneficiada nos contratos firmados com a Seap.

Segundo as investigações, o ex-secretário e o sócio teriam usado familiares como laranjas para ocultar o dinheiro ganho com o esquema ilegal.

Fonte: G1

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