A combinação pouco vento, muita umidade, diferença de temperatura entre o Atlântico Sul (mais quente) e o Atlântico Norte (mais frio), mais o esfriamento na superfície do Oceano Pacífico em latitudes tropicais criam as condições perfeitas para a atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). O sistema meteorológico é o principal responsável pelas precipitações sobre a região Nordeste do Brasil, e a previsão para o Rio Grande do Norte é que até o mês de maio as chuvas continuarão com índices normais e acima do normal. De acordo com a gerência de meteorologia da Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN (Emparn), são esperados mais 479,2 mm de chuva na região Oeste do Estado no acumulado entre os meses de março e maio.
Créditos: Adriano Abreu
O acumulado em Natal somou 51 mm, enquanto que em Mossoró registrou o maior índice em 56 anos com acumulado de 178 mm
As demais regiões também terão saldo positivo nos próximos três meses. Gilmar Bristot, gerente de meteorologia da Emparn, informou que são esperados “pelo menos” mais 376,9 mm de chuvas acumuladas na porção Central do Estado até maio; 342,2 mm no Agreste; e 533,8 mm no Litoral Leste.
Essa tendência foi confirmada no último dia 18 de fevereiro, durante a 3ª Reunião de Análise Climática que aconteceu na sede da Emparn e recebeu pesquisadores e especialistas de vários estados do Nordeste. “Tudo indica que as chuvas deste ano ficarão de normal a acima do normal. No Agreste e Litoral Leste teremos uma precipitação maior devido a quadra chuvosa ser mais intensa nos meses de abril e maio nessas regiões”, disse Bristot. O meteorologista acrescentou que “se esses índices mínimos de março a maio forem confirmados, teremos o enchimento de vários reservatórios no Alto Oeste do RN, região mais penalizada pela falta de água”.
Açude Dourados
As chuvas marcaram presença com destaque em todas as regiões do Estado. Conforme boletim pluviométrico da Emparn, vários municípios registraram chuvas acima dos 100 milímetros: no município de Jaçanã, Agreste potiguar, o índice alcançou 244,3 mm entre às 7h da sexta-feira (28) e a manhã dessa segunda (2). Ainda na região no Agreste, o pluviômetro em Coronel Ezequiel marcou 165,3 mm no mesmo período.
O acumulado em Natal somou 51 mm, enquanto as chuvas em Mossoró no Oeste do RN registraram o maior índice em 56 anos com acumulado de 178 mm no fim de semana.
Na região Central do Estado, a cidade de Lagoa Nova recebeu 130 mm de chuvas entre a manhã de sexta (28) e o início dessa segunda (2), e a expectativa é que o açude Dourados em Currais Novas 'sangre' e ajude a abastecer o Gargalheiras em Acari.
Vale salientar que há cerca de dez dias o açude Dourados, que pode armazenar até 10,3 milhões de m³ de água, estava com apenas 1,71% de sua capacidade. Ontem, segundo dados do Relatório de Situação Volumétrica dos Principais Reservatórios do RN divulgado pelo Instituto de Gestão das Águas do RN (Igarn) o nível do açude em Currais Novos já assinalava 81,02%. “Isso tudo é consequência da atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT)”, explicou Bristot, da Emparn.
O Igarn monitora 47 reservatórios no RN com capacidade superior a 5 milhões de m³ de armazenamento de água, e onze – apesar das chuvas – estão com volume inferior a 10% da capacidade total. Sete reservatórios do Estado ainda estão secos, entre eles o açude de Pau dos Ferros; o Inharé em Santa Cruz; Trairi em Tangará; e o Zangalheiras em Jardim do Seridó.
Alta umidade e superfície quente geram os raios
Entrevista: Gilmar Bristot, gerente de meteorologia da Emparn
A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) também recebe influência dos fenômenos La Niña (frio) e El Niño (quente), que interferem na temperatura do Oceano Pacífico. Algum deles está ativo?
Este ano não temos nem um nem outro, há uma condição de neutralidade sobre o Oceano Pacífico. Para chover na região Nordeste do Brasil a superfície do Pacífico deve estar fria (La Niña), mas em condições normais também temos essa condição favorável.
E como se explica a grande incidência de raios durante o fim de semana em Natal, mesmo sem chover tanto?
Com a alta umidade do ar, somada à superfície quente, temos esses raios. A ZCIT está agindo conforme a tendência, potencializando a formação de instabilidade, e há a formação de uma corrente vertical que ultrapassa as nuvens: esse movimento cria uma corrente elétrica, que é descarregada quando essa carga satura as nuvens. Apesar dessa dinâmica, tivemos pouca chuva, de fato era para ter havido uma precipitação bem maior no período.
É possível afirmar que a previsão para os próximos dias será de mais chuvas?
A tendência é favorável pelo menos até o próximo domingo: até lá teremos pouco vento e muita umidade, fatores que somados provocam essa sensação térmica de calor.
As queimadas na Amazônia e na Austrália interferem de alguma maneira nas chuvas aqui no RN?
A frente fria que ficou bloqueada sobre a região Sudeste, por isso as chuvas intensas em MG, SP e RJ, é alimentada pela umidade que vem da Amazônia. Era para essa frente fria ter se deslocado e se dispersado, e se o escoamento dessa frente fria tivesse sido um pouco melhor teríamos um excesso de chuva aqui na região Nordeste. Já o que acontece na Austrália reflete de forma mais direta por aqui: segundo estudos realizados por um instituto norte-americano, há uma onda planetária que circula o planeta de Oeste para Leste. Essa perturbação atmosférica se propaga e temos reflexos em 30 a 60 dias do que acontece lá. Mas como a ZCIT está bem atuante por sobre a região Nordeste do Brasil, não sentiremos tanto essa interferência que vem do outro lado do mundo.
Fonte: Tribuna do Norte
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante para nós, comente essa matéria!