O coronavírus se tornou oficialmente uma pandemia na quarta-feira (11/3), após um anúncio da Organização Mundial da Saúde (OMS).
5 de março: soldado sul-coreano usando equipamento protetor contra o Covid-19 ajusta a máscara. A Coreia do Sul é o segundo país mais atingido no mundo pelo novo coronavírus. — Foto: Lee Jin-man/AP
Naquele dia, o vírus já estava presente em 114 países, com mais de 115 mil pessoas infectadas e mais de 4 mil mortes registradas. China, Itália, Irã e Coreia do Sul são os países mais afetados pela propagação do vírus.
Para tentar impedir que o vírus alcance mais pessoas, os governos locais tomaram medidas drásticas.
A China, por exemplo, isolou várias cidades com milhões de habitantes e construiu hospitais em menos de uma semana para lidar com a emergência, enquanto o governo italiano decretou isolamento em todo o território peninsular. Os resultados têm sido diversos. Enquanto na China as medidas parecem ter conseguido frear o avanço acelerado do vírus, na Itália, os números de infectados e de mortes não param de crescer em escala exponencial.
Mas há um caso que está sendo tomado como exemplo de como lidar com o problema: o da Coreia do Sul.
Apesar de ter um alto número de casos diagnosticados (8.162, o quarto mais alto do mundo), o número de mortes no país até 16 de março foi de 75. Esse dado representa uma taxa de letalidade de 0,9% — menor que as taxas de Estados Unidos, Itália e Irã.
Mas como a Coreia do Sul reagiu à epidemia de coronavírus? E o que outros países podem aprender com ela?
"A Coreia do Sul realizou uma campanha agressiva para combater o vírus. Disponibilizou todo o seu sistema de saúde para diagnosticar a presença da Covid-19 nos habitantes de áreas críticas do país", explica Bugyeong Jung, jornalista do serviço coreano da BBC.
Há um exemplo interessante sobre isso: Estados Unidos e Coreia do Sul anunciaram o primeiro caso de coronavírus em cada um deles no mesmo dia, 20 de janeiro. Mas até a semana passada, os americanos tinham feito teste em 4,3 mil pessoas em seu território. Já o país asiático chegou a 196 mil testes no mesmo período.
"Este método, embora tenha sido descrito como invasivo, conseguiu salvar vidas", acrescenta Jung.
Diagnóstico massivo
4 de março: Soldados do exército da Coreia do Sul, vestidos com trajes de proteção contra o Covid-19, espalham desinfetante pelas ruas de Seul, na Coreia do Sul. — Foto: Ahn Young-joon/AP
Quando a epidemia eclodiu, no final de 2019, no norte da China, os países vizinhos seriam os primeiros onde o novo vírus chegaria.
Em 20 de janeiro, a Coreia do Sul confirmou a notícia do primeiro caso de coronavírus.
Logo, o sistema de saúde sul-coreano detectou a origem da epidemia em seu território: a cidade de Daegu, no norte, onde três quartos do total de casos foram registrados.
Desses, 63% dos casos de contágio estavam relacionados ao grupo religioso Igreja de Jesus de Shinchonji, um culto dedicado a expandir a ideia de que seu fundador, Lee Man-hee, é a segunda encarnação de Jesus Cristo.
"A Coreia do Sul está preparada para lidar com essa epidemia desde o ano passado, quando teve que lidar com a Mers (outra síndrome respiratória)", diz Jung.
A estratégia, coordenada pelo Ministério da Saúde, foi estabelecida desde o primeiro dia: o objetivo era criar uma rede abrangente de diagnóstico e de redução da taxa de letalidade.
"Detectar o vírus em seus estágios iniciais é essencial para poder identificar as pessoas infectadas, e, assim, impedir ou atrasar sua disseminação", disse à CNN Park Neunghoo, ministro da Saúde do país.
"Isso também nos permitiu planejar adequadamente os cuidados de saúde, porque apenas 10% dos infectados precisam de hospitalização", acrescentou.
Para especialistas, o método usado pela Coreia do Sul é o mais eficaz, pois permite a obtenção de um panorama mais amplo sobre a disseminação do vírus.
"A Coreia do Sul monitora 10 mil pessoas por dia, muitas das que tiveram resultados positivos apresentaram sintomas leves", explica Benjamin Cowling, professor de epidemiologia da Universidade de Hong Kong.
Críticas
Agentes de saúde usam máscaras faciais para aplicar desinfetante como precaução contra o novo coronavírus nesta quinta (27) em Seul, na Coreia do Sul. — Foto: Ahn Young-joon/AP
Mas a estratégia sul-coreana também enfrenta críticas.
Como aponta o jornalista da BBC Hyung Eun Kim, o volume de informações que o governo revelou à população — o que inclui saber se o seu vizinho de porta tem coronavírus — foi recebido com objeções.
"Existe um medo social que criou muitos momentos estranhos entre pessoas de várias cidades. O tempo todo a população recebe informações sobre pessoas infectadas em seus telefones celulares", diz o repórter.
"Isso também levou muitos a pedir ao governo para não divulgar seus dados pessoais, pelas implicações que isso possa ter", acrescenta.
A estratégia do país parece estar funcionando: o número de infectados diminuiu nos últimos 11 dias, o que fez o governo pensar que a epidemia já havia "atingido seu ponto mais alto" e estava sendo controlada.
No entanto, nesta quarta-feira, o próprio ministro da Saúde observou que 90 novos casos foram diagnosticados, o que aumentou novamente a taxa de infecções no país.
O principal motivo foi a detecção de um foco de infecção em um call center localizado na capital do país, Seul.
"As infecções conhecidas neste call center podem ser o início de uma nova onda que leva a um surto regional e à propagação da epidemia", disse Park, em comunicado.
Fonte: G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante para nós, comente essa matéria!