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quinta-feira, março 19, 2020

Bolsonaro e ministros usam máscaras em coletiva; especialistas apontam erros no uso do equipamento de proteção

O presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e outros integrantes do primeiro escalão do governo usaram máscaras de proteção durante entrevista nesta quarta-feira (18).

Bolsonaro durante entrevista sobre o coronavírus na tarde desta quarta-feira (18) — Foto: REUTERS/Adriano Machado
Bolsonaro durante entrevista sobre o coronavírus na tarde desta quarta-feira (18) — Foto: REUTERS/Adriano Machado

Médicos infectologistas ouvidos pelo G1 analisaram o uso e apontaram erros no procedimento. Além disso, recomendaram que uso do equipamento de proteção seja feito apenas por pacientes que apresentam os sintomas ou profissionais de saúde em atendimento.

O ministro da Saúde justificou o uso devido ao contato recente do grupo com o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, que apresentou teste positivo para a doença.

"Nós estamos nos comportando como profissionais da saúde. Nós temos uma cadeia de comando de todos os ministérios. Faz parte proteger. O uso não faz nada contra o que é recomendado. Estivemos com o nosso querido general Heleno. Ele tem sido talvez o grande elo, todos nós estamos preocupados", disse o ministro Mandetta.

O infectologista Caio Rosenthal diz que a finalidade do uso da máscara “é proteger outras pessoas”. As equipes de saúde, segundo ele, devem usar uma máscara do tipo N95, que garante a proteção durante o procedimento necessário. Marcelo Otsuka, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), também faz as mesmas recomendações.

"Existem grupos específicos que podem utilizar a máscaras. Os médicos por exemplo, que realizam o atendimento de um paciente usam uma máscara N95. Fora dessa situações, os pacientes utilizam máscara simples", disse Otsuka.

"Quem está doente ou quem tem alguma manifestação respiratória deve utilizar a máscara como uma medida protetiva para proteger as outras pessoas não infectadas. Elas só devem ser utilizadas para quem manifesta os sintomas, até para impedir que o paciente transmita a doença para outras pessoas." - Marcelo Otsuka, infectologista
Se uma pessoa apresenta os sintomas, também deve estar em isolamento e usar o equipamento de proteção apenas se precisar sair em casos de urgência. A distância mínima entre pessoas no mesmo ambiente deve ser de 1 metro, de acordo com os infectologistas.

"Quando você faz um diagnóstico, a pessoa precisa ficar isolada pelo período de até 14 dias. Mas o período crítico se apresenta somente até o 7º ou 9º dia. Em qualquer caso, se teve contato com o vírus, mantenho elas isoladas para não contaminarem outras pessoas. Quanto menos contatos você tem com outras pessoas, menor as chances de você transmitir”, completou Otsuka.

Uso correto
Durante a coletiva de imprensa, Jair Bolsonaro chegou a retirar a máscara e colocar novamente. De acordo com o infectologista Alexandre Naime, chefe do departamento de infectologia da Unesp e membro da SBI, o equipamento precisa ser utilizado de forma contínua e ser trocado a cada duas horas.

"Não teria sentido nenhum eu usar a máscara e na hora de eu falar eu tirar. Aí é que eu teria, se eu estivesse infectado, transmitido o vírus das outras pessoas", disse.
Além disso, a médica Tania Vergara, da Sociedade de Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro, também apontou erros.

"A máscara precisa ser utilizada para cobrir o nariz e a boca para evitar o risco de transmissão. Não adianta você utilizar sem necessidade e ainda assim ficar tirando e colocando para falar, sendo que sua mão toca várias superfícies aumentando o risco de contaminação. Outra coisa é deixar a máscara pendurada no rosto, isso não tem eficiência".
Para Lívio Dias, infectologista da Maternidade Pro Matre Paulista, a forma como a máscara foi utilizada durante a coletiva está incorreta. "Nós temos protocolos tanto de colocação como de retirada. A máscara serve para evitar que partículas possam entrar em contato com a face, então a medida que é manipulada a parte frontal, tocando a face ou tocando o olho, até para proteção individual ela deixa de servir. Existem protocolos sobre a forma que ela deve ser utilizada para ter a serventia de proteção".

Segundo Daniel Sonranz, epidemiologista e professor da Fundação Oswaldo Cruz a máscara pode ter sido utilizada corretamente como parte do protocolo sobre equipamentos de proteção individual da Organização Mundial de Saúde (OMS). "Existe um protocolo da OMS, que aponta que 'equipes de respostas rápidas' devem utilizar o objeto. Considerando o Ministério da Saúde como uma 'equipe de resposta rápida', nessa coletiva a máscara foi utilizada de forma correta".

"Durante a coletiva o que chamou atenção é a forma de manipular as máscaras. Não se deve pegar pela frente, não se deve retirar para falar ou pegar os copos. Mas essa demostração serve de exercício para toda a população e para o próprio Ministério da Saúde", afirma Sonranz.

Fonte: G1

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