“Se Lula for para a cadeia, o país vai pegar fogo.” “Quando Lula for solto, vai incendiar as massas.” Ditas e repetidas por aí, as frases apocalípticas acima não se materializaram. A mobilização em torno da prisão do ex-presidente decepcionou quem aguardava uma revolução. Sua libertação tampouco provocou o barulho esperado.
Depois de amargar 580 dias na carceragem, na volta às ruas, o petista desancou o atual governo, repisou o mantra de que é vítima de um complô das elites e jurou mais uma vez vingança a Sergio Moro, o responsável por sua condenação. Fora os aplausos da claque dos convertidos, os discursos caíram no vazio. No trabalho de articulação política, Lula agora mais desagrega do que une. Antigos aliados reclamam da insistência em priorizar interesses pessoais e os do PT como condição para formar uma frente de oposição a Jair Bolsonaro. Até mesmo dentro da sigla começaram a surgir vozes dissonantes, o que era impensável alguns anos atrás. Resultado: o Lula livre aprisiona hoje a esquerda em uma encruzilhada de difícil solução.
Explica-se o dilema: de fato, o ex-¬presidente ainda é o nome mais forte da oposição, conforme mostram as pesquisas. A questão é que ele está impedido de concorrer nas eleições em razão da Lei da Ficha Limpa, após ser condenado duas vezes em segunda instância no caso do tríplex do Guarujá e no do sítio de Atibaia. Para voltar ao jogo, o petista depende de uma improvável pirueta jurídica do Supremo Tribunal Federal (STF). Além disso, mesmo que concorra, Lula sofre um profundo desgaste de sua imagem. Um nome diferente poderia se beneficiar de sua força sem ser abalado por seus defeitos. Mas nem Lula nem o PT estão preparados para um movimento nessa direção.
Desde a fundação do partido, o ex-metalúrgico sempre impediu o crescimento de outras lideranças que fossem capazes de rivalizar com ele. Sua prisão, em abril de 2018, deu a alguns petistas e a integrantes de partidos aliados a esperança de que haveria enfim uma lufada de renovação, com a ascensão de outros nomes e, assim, novas alternativas de poder. Tanto que, no ano passado, líderes do PT, PCdoB, PDT, PSB e PSOL se reuniram seis vezes com o objetivo de construir uma pauta comum e formar uma ampla frente de oposição ao governo Bolsonaro, a qual poderia ser o embrião de uma aliança para a sucessão de 2022. Com a libertação de Lula, em novembro último, esperava-se que essas negociações ganhassem corpo e que o ex-presidente, condenado a quase 26 anos de cadeia e inelegível, ajudasse na costura dos acordos.
Fonte: No Minuto
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