sábado, novembro 02, 2019

Petroleira grega Delta Tankers diz que 'não há provas' de que o navio Bouboulina vazou petróleo na costa do Brasil

A petroleira grega Delta Tankers, proprietária do navio-tanque Bouboulina – apontado pela Polícia Federal como principal suspeito de ter derramado o óleo que desde o fim de agosto vem atingindo o litoral do Nordeste –, disse que "não há provas" de que a embarcação seja responsável pelo incidente.

Bouboulina, navio petroleiro operado por empresa grega suspeito de derramar o óleo que atinge o Nordeste, segundo a PF — Foto: Divulgação
Bouboulina, navio petroleiro operado por empresa grega suspeito de derramar o óleo que atinge o Nordeste, segundo a PF — Foto: Divulgação

As manchas de petróleo em praias da região atingiram pelo menos 286 localidades em 97 municípios de 9 estados. A substância é a mesma em todos os locais: petróleo cru. O fenômeno tem afetado a vida de animais marinhos e causado impactos nas cidades litorâneas.

Em nota divulgada neste sábado (2), a Delta afirmou que fez uma "pesquisa completa do material nas câmeras e sensores que todos os seus navios carregam como parte de suas políticas de segurança e ambientais" (leia, abaixo, a íntegra).


No comunicado, a Delta Tankers destaca 3 pontos:

'não há provas' de que o navio Bouboulina derramou óleo;
a empresa não foi procurada por autoridades brasileiras;
a embarcação, que saiu da Venezuela em 19 de julho, chegou ao destino final, na Malásia, e 'descarregou toda a carga sem qualquer falta'.
"Não há provas de que o navio tenha parado, realizado qualquer tipo de operação STS [transferência de um navio para o outro], vazado, desacelerado ou desviado da rota, em seu caminho da Venezuela para Melaka, na Malásia", diz o texto da Delta.

Em outro trecho do comunicado, a petroleira declarou não ter sido procurada por autoridades brasileiras, reafirmando o que já havia dito nesta sexta-feira (dia 1º). Disse também que a carga foi descarregada na Malásia "sem qualquer falta".

"Este material [da investigação interna] será compartilhado de bom grado com autoridades brasileiras, caso entrem em contato com a empresa com relação a esta investigação. Até agora, esse contato não foi feito. Como relatado ontem, dia 1º de novembro, no comunicado inicial da Delta Tankers, o navio partiu da Venezuela em 19 de julho de 2019, indo diretamente, sem paradas em outros portos, para Melaka, na Malásia, onde descarregou toda a carga sem qualquer falta."


A Delta foi fundada em 2006, mesmo ano de fabricação do Bouboulina. De acordo com os investigadores, 2,5 mil toneladas de óleo foram derramadas no oceano.

O petroleiro é do tipo Suezmax, e sua capacidade máxima é 1,1 milhão de barris. Considerando o valor atual de mercado do petróleo, o carregamento vale cerca de US$ 66 milhões. As 2,5 mil toneladas que vazaram na costa brasileira equivalem a quase três milhões de litros. Isso representa 1,8% da carga transportada pelo navio.

O Bouboulina foi carregado com 1 milhão de barris do petróleo tipo Merey 16 cru no Porto de José, na Venezuela, em 15 de julho. Zarpou quatro dias mais tarde.

A embarcação foi alvo da Operação Mácula, desencadeada pela PF nesta sexta. Ela foi apontada como suspeita com base em um relatório produzido pela empresa HEX Tecnologias Especiais, que afirma ter realizado a análise de dados de satélite para localizar as manchas e feito um cruzamento com softwares de monitoramento de navios para chegar ao resultado que aponta o navio grego como suspeito.

A indicação do Bouboulina vai contra duas tendências anteriormente apontadas pela Marinha pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) nas investigações.

A primeira é que a mancha teria sido localizada com imagens de satélite, enquanto o Ibama já tinha descartado essa possibilidade em estudos próprios, de agências espaciais e de universidades.

A segunda tem relação à data da passagem do navio pela costa e o fato de ele não estar operando como um "navio-fantasma".

Depois de sair da Venezuela e trafegar sempre com seu sistema de localização ativo, o navio Bouboulina passou a oeste da Paraíba em 28 de julho. As investigações do governo brasileiro apontam que a primeira mancha no oceano foi registrada em 29 de julho, a 733 km da costa da Paraíba. As primeiras praias do país afetadas foram no município paraibano de Conde em 30 de agosto.


"Nós temos a prova da materialidade e indícios suficientes de autoria. O que nos falta são as circunstâncias desse crime, se é doloso, se é culposo, se foi um descarte ou vazamento" - Agostinho Cascardo, delegado da PF no Rio Grande do Norte

De acordo com ele, a Marinha do Brasil apurou que, em abril, o navio grego ficou retido nos Estados Unidos durante 4 dias por causa de problemas no filtro de descarte da embarcação.

Leia, abaixo, a íntegra da nota da Delta Tankers:

"Atenas, 2 de novembro de 2019.

DELTA TANKERS LTD., responsável pelo navio-tanque de petróleo bruto Bouboulina, sob uma bandeira grega, informa agora que eles realizaram uma pesquisa completa do material nas câmeras e sensores que todos os seus navios carregam como parte de suas políticas de segurança e ambientais, para monitorar as atividades a bordo e ao redor da embarcação, bem como alternâncias de curso, de paradas, velocidade etc.


Não há provas de que o navio tenha parado, realizado qualquer tipo de operação STS [sigla para ship to ship; navio para navio], vazado, desacelerado ou desviado do curso, em seu caminho para Melaka, na Malásia.

Este material será compartilhado de bom grado com autoridades brasileiras, caso entrem em contato com a empresa com relação a esta investigação. Até agora, esse contato não foi feito.

Como relatado ontem, dia 1º de novembro, no comunicado inicial da Delta Tankers, o navio partiu da Venezuela em 19 de julho de 2019, indo diretamente, sem paradas em outros portos, para Melaka, na Malásia, onde descarregou toda a carga sem qualquer falta.

DELTA TANKERS LTD. opera seguindo rigorosas políticas ambientais, cumprindo os regulamentos internacionais, e as câmeras e sensores a bordo de todos os seus navios fazem parte dessas políticas".

Fonte: G1

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