O ministro Paulo Guedes (Economia) disse a jornalistas nesta segunda-feira (25), em Washington (EUA), para não se assustarem caso alguém peça o AI-5 diante de "quebradeira" nas ruas. Em seguida, ele se corrigiu e disse que a democracia brasileira não admitiria um ato de repressão.
Ele reagiu irritado às perguntas de repórteres sobre manifestações populares em países vizinhos, como Equador, Chile e Bolívia, contra reformas econômicas e também quando foi questionado se tinha medo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que criticou a política econômica do governo.
"É irresponsável chamar alguém pra rua agora pra fazer quebradeira. Pra dizer que tem que tomar o poder. Se você acredita numa democracia, quem acredita numa democracia espera vencer e ser eleito. Não chama ninguém pra quebrar nada na rua. Ou democracia é só quando o seu lado ganha? Quando o outro lado ganha, com dez meses você já chama todo mundo pra quebrar a rua? Que responsabilidade é essa? Não se assustem então se alguém pedir o AI-5. Já não aconteceu uma vez? Ou foi diferente?", disse Guedes.
Paulo Guedes foi questionado por um jornalista se uma aparente diminuição do ritmo das reformas econômicas não era medo do ex-presidente Lula. "Aparentemente digo que não [Bolsonaro não está com medo do Lula]. Ele só pediu o excludente de ilicitude. Não está com medo nenhum, coloca um excludente de ilicitude. Vam'bora."
Ao final da entrevista, após a declaração sobre o AI-5, Guedes se corrigiu e disse que seria inconcebível pensar num ato de repressão da ditadura militar.
"É inconcebível, a democracia brasileira jamais admitiria, mesmo que a esquerda pegue as armas, invada tudo, quebre e derrube à força o Palácio do Planalto, jamais apoiaria o AI-5, isso é inconcebível. Não aceitaria jamais isso."
A menção ao AI-5 lembrou a recente fala do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), ao falar de uma possível "radicalização da esquerda". "Vai chegar um momento em que a situação vai ser igual ao final dos anos 1960 no Brasil, quando sequestravam aeronaves, quando se sequestravam, executavam-se grandes autoridades, cônsules, embaixadores, execução de policiais, de militares. Se a esquerda radicalizar a esse ponto, a gente vai precisar ter uma resposta. E uma resposta pode ser via um novo AI-5”, afirmou Eduardo.
O Ato Institucional 5 foi assinado em 1968 e é considerado uma das principais medidas de repressão da ditadura. Entre as consequências dele estão o fechamento do Congresso Nacional, a retirada de direitos e garantias constitucionais, com a perseguição a jornalistas e a militantes contrários ao regime.
Reações
A declaração do Ministro da Economia provocou reações. O presidente do STF, Dias Toffoli, disse que "o AI-5 é incompatível com a democracia. Não se constrói o futuro com experiências fracassadas do passado”. A declaração foi feita durante Encontro Nacional do Poder Judiciário em Maceió.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, afirmou que "não dá mais para usar a palavra AI-5 como se fosse bom dia, boa tarde, oi cara, não dá". O deputado também se disse assustado com o comportamentos extremos dos políticos, que, para ele, parecem que "estão mais se preparando para uma briga campal do que pra uma disputa eleitoral no futuro".
"O que manifestação de rua tem a ver com AI-5? Se ela existir de forma democrática ordeira? O que ela tem a ver com fechamento do Congresso, fim do habeas corpus, fechamento das assembleias?", disse.
A declaração de Maia foi dada na mesa de abertura do Seminário Política, Democracia e Justiça, realizada pela Câmara dos Deputados.
Fonte: G1
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