quinta-feira, novembro 21, 2019

Empresário que socorreu professor da Unesp durante agressão diz que ouviu o suspeito chamá-lo de macaco

Uma das pessoas que testemunhou a agressão contra um professor da Unesp de Bauru (SP) confirma que ouviu o suspeito chamando a vítima de macaco. A agressão aconteceu nesta quarta-feira, 20 de novembro, quando se celebra o Dia da Consciência Negra.

Professor da Unesp é esfaqueado e diz ter sido vítima de racismo no Dia da Consciência Negra: 'Fui chamado de macaco' — Foto: TV TEM/Reprodução
Professor da Unesp é esfaqueado e diz ter sido vítima de racismo no Dia da Consciência Negra: 'Fui chamado de macaco' — Foto: TV TEM/Reprodução

Um empresário e o gerente do supermercado que fica próximo do local onde aconteceu a agressão são as testemunhas do caso, que foi registrado como injúria racial e lesão corporal. O professor Juarez Xavier foi atingido por golpes de canivete e precisou levar pontos.

O suspeito do crime foi liberado após pagamento de fiança no valor de R$ 1 mil. Vitor dos Santos Munhoz, de 30 anos, alegou que sofre de problemas mentais, no entanto, será investigado pelos crimes.

“Chegando perto da discussão, da briga, foi ouvido que o agressor chamou a vítima de macaco. Aí eu me aproximei para tentar separar, porque vi que ele estava com ferimentos graves”, explica o empresário Felipe Azevedo.
Felipe também deteve o suspeito até a chegada da Polícia Militar, que registrou a ocorrência no plantão da Polícia Militar.

O professor recebeu atendimento na Unidade de Pronta-atendimento do Núcleo Geisel. Ele ficou ferido no ombro e no braço e precisou receber cinco pontos para fechar os cortes. Na delegacia, o professor falou de sua indignação diante da agressão.

“Jamais imaginei que passaria por isso aqui [em Bauru], ser atacado por alguém que me xinga de 'macaco' e anda armado na rua. Isso é inaceitável. Sou capoeirista e acho que por isso estou agora falando sobre isso”, disse o professor do curso de jornalismo.

Professor da Unesp Bauru Juarez Xavier é esfaqueado e diz ter sido vítima de racismo no Dia da Consciência Negra — Foto: TV TEM/Reprodução
Professor da Unesp Bauru Juarez Xavier é esfaqueado e diz ter sido vítima de racismo no Dia da Consciência Negra — Foto: TV TEM/Reprodução

O ataque

Professor da Unesp Bauru Juarez Xavier é esfaqueado e diz ter sido vítima de racismo no Dia da Consciência Negra: 'Fui chamado de macaco', advogado Maurício Ruiz — Foto: TV TEM/Reprodução
Professor da Unesp Bauru Juarez Xavier é esfaqueado e diz ter sido vítima de racismo no Dia da Consciência Negra: 'Fui chamado de macaco', advogado Maurício Ruiz — Foto: TV TEM/Reprodução

Xavier explicou que caminhava pela rua quando o agressor o chamou de “macaco”. Ao tentar tirar satisfação sobre o xingamento, o homem sacou um canivete e atacou o professor.

Para o advogado Maurício Ruiz, que defende o professor, o suspeito cometeu injúria racial e tentativa de homicídio. Segundo ele, se não fosse a intervenção de terceiros, o professor poderia ter sido assassinado.

“Por isso entendemos que seria um caso de tentativa de homicídio e também de injúria racial, porque o agressor se utilizou de uma questão racial para ofender a dignidade e o decoro da vítima.”

No entanto, a Polícia Civil registrou o caso como lesão corporal e injúria racial, que difere do crime de racismo, uma vez que o primeiro é ofensa à dignidade da pessoa com base na raça ou na cor da pele; já o racismo é o crime de discriminação que atinge uma coletividade e não apenas um indivíduo.


A pena para o crime de injúria racial varia de 1 a 3 anos, por isso a possibilidade de arbitrar a fiança como foi feita neste caso.

Felipe conta que ouviu o agressor chamar o professor de macaco em Bauru  — Foto: TV TEM / Reprodução
Felipe conta que ouviu o agressor chamar o professor de macaco em Bauru — Foto: TV TEM / Reprodução

Nota de repúdio
A Associação dos Docentes da Unesp (Adunesp) e o Sindicato dos Trabalhadores da Unesp (Sintunesp) emitiram uma nota de repúdio o crime de racismo cometido contra o Professor Juarez Xavier, da Faculdade de Artes, Arquitetura e Comunicação da Unesp em Bauru.

No texto, os órgãos lamentam que, "em pleno 20 de novembro, dia consagrado à memória e à celebração da luta do povo negro, o docente foi vítima de xingamentos racistas em local público da cidade".


O sindicato e associação também reforçam a necessidade de impedir que este crime seja banalizado e esquecido. "A agressão a qualquer pessoa, motivada por sua condição étnico-racial, avilta valores civilizatórios mais fundamentais. O apartheid brasileiro, que tem existência de fato, deve ser combatido em todas as suas manifestações", escreveram.

Por fim, o Sintunesp e o Adunesp encerram a nota prestando solidariedade ao professor e repúdio ao ataque racista a ele dirigido. "Instamos o judiciário estadual a tomar todas as providências no sentido de assegurar que os perpetradores desta barbárie sejam responsabilizados civil e criminalmente pelos atos que cometeram", completam.

Vítima de racismo
O professor Juarez Xavier, 60 anos, é militante do movimento negro. Com mestrado e doutorado pela USP, ele é professor da Unesp Bauru e coordenador do Núcleo Negro Unesp para a Pesquisa e Extensão (Nupe).

Ao G1, ele relatou sobre preconceito que sofreu quando era aluno e também quando teve sua primeira experiência de ser vítima de racismo como professor, em 2015. A frase “Juarez macaco” foi achada em um dos banheiros da Unesp Bauru.

Na época, segundo o professor, o que mais marcou foi o fato de que as pichações foram achadas no banheiro contra ele e também contra mulheres negras.


"Foi a covardia do ato que me marcou. Pichação no banheiro da universidade, com ofensas extensivas aos estudantes e ao pessoal da limpeza. A forma vil e agressiva contra mulheres simples, trabalhadoras braçais", afirmou na época.

Após as pichações, uma comissão de professores na Unesp foi formada para investigar as frases encontradas no banheiro. Os professores ouviram algumas pessoas durante quatro meses, mas não identificaram os autores.

Fonte: G1

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