O presidente do Chile, Sebastián Piñera, afirmou nesta quarta-feira (4) que "não compartilha" das recentes declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre o pai de Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para Direitos Humanos.
O presidente do Chile, Sebástian Piñera, durante coletiva de imprensa em Biarritz, na França, durante o G7, em 26 de agosto — Foto: François Mori/Pool/AFP
Nesta manhã, Bolsonaro disse que se o general Augusto Pinochet (ditador chileno nas décadas de 70 e 80) não houvesse derrotado esquerdistas, entre eles Alberto, o pai de Bachelet, o Chile hoje seria "uma Cuba".
"Ela critica dizendo que o Brasil está perdendo o seu espaço democrático. Senhora Michelle Bachelet, se não fosse o pessoal do Pinochet derrotar a esquerda em 73, entre eles o seu pai, hoje o Chile seria uma Cuba. Acho que não preciso falar mais nada para ela", afirmou Bolsonaro.
Alberto morreu em 12 de março de 1974 na Prisão Pública de Santiago, possivelmente em decorrência das torturas sofridas na prisão.
Nesta tarde, em entrevista coletiva no Palácio La Moneda, em Santiago, Piñera afirmou:
"É de conhecimento público meu permanente compromisso com a democracia, a liberdade, o respeito aos direitos humanos, em todo o tempo, em todo o lugar e todas as circunstâncias", disse Piñera.
"Sem prejuízo aos diferentes olhares que podem existir sobre os nossos governos da década de 1970 e 1980, sempre essas visões devem ser expressadas com respeito às pessoas", afirmou o presidente chileno.
"Por isso, não compartilho, de jeito nenhum, da alusão feita pelo presidente [Jair] Bolsonaro sobre uma ex-presidente do Chile [Michelle Bachelet], e especialmente em um tema tão doloroso como a morte de seu pai."
O presidente do Senado do Chile, Jaime Quintana, afirmou que as declarações de Bolsonaro "são tremendamente graves não só para a presidenta [Bachelet] como para a memória dos chilenos":
"Este é um tema sensível no Chile. Parece-nos que o presidente Bolsonaro, de tempos em tempos, está acostumando à região e ao mundo a esse tipo de declarações. Estamos diante de uma pessoa que, no fundo, é um ditador vestido de democrata".
José Miguel Vivancos, diretor-executivo para as Américas da ONG Human Rights Watch, disse "rechaçar" as declarações de Bolsonaro. No Twitter, Vivancos afirmou que, "em vez defender os valores democráticos no Brasil, Bolsonaro opta, novamente, por atacar a memória de pessoas torturadas e assassinadas por uma ditadura, neste caso a de Pinochet".
Bachelet alerta sobre 'redução de espaço democrático'
Alta Comissária para os Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, participa de encontro em Genebra, na Suíça — Foto: Denis Balibouse/ Reuters
A representante da ONU – que também já presidiu o Chile – disse nesta quarta-feira (4) que houve uma "redução do espaço democrático" no Brasil, especialmente com ataques contra defensores da natureza e dos direitos humanos.
"Nos últimos meses, observamos [no Brasil] uma redução do espaço cívico e democrático, caracterizado por ataques contra defensores dos direitos humanos, restrições impostas ao trabalho da sociedade civil", disse Bachelet em entrevista coletiva em Genebra.
Ela falou sobre um aumento de violência policial. De janeiro a junho, disse ela, só no Rio de Janeiro e São Paulo, 1.291 indivíduos foram mortos pela polícia.
"Podem ser ações policiais, mas quero destacar que é uma alta de 12% a 17% comparado ao mesmo período do ano passado. Vimos que a alta da violência atinge mais as pessoas de ascendência africana ou as que vivem em favelas", disse a alta comissária.
Em Genebra, o porta-voz do escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Rupert Corville, ao ser questionado sobre as declarações de Bolsonaro, disse que geralmente a entidade não responde a esses tipos de comentários, "por mais imprecisos ou desagradáveis que possam ser".
Fonte: G1
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