O ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho deixou o presídio de Benfica, na Zona Norte da capital fluminense, às 10h35 desta quarta-feira (4), e a ex-governadora Rosinha Garotinho deixou no complexo penitenciário de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste, às 12h50.
Ele e a mulher, a também ex-governadora Rosinha Garotinho, foram presos, nesta terça (3), acusados de corrupção. A dupla passou apenas uma noite encarcerada, pois foi beneficiada por um habeas corpus concedido pelo Plantão Judiciário.
"Eu fui o autor das denúncias contra o Sérgio Cabral e todo aquele grupo. Eu espero que a Justiça julgue fatos, não pessoas. Não podemos ter uma Justiça nem partidária, nem personalista, que gosta de um e não gosta de outro", declarou.
Se eu tivesse recebido propina eu não estava morando de aluguel no Flamengo", afirmou o ex-governador ao deixar o presídio.
Veja o histórico de prisões de Garotinho e Rosinha
O casal Garotinho foi preso juntamente com outras três pessoas, todos suspeitos de participar de um esquema de superfaturamentos em contratos celebrados entre a Prefeitura de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, da qual ambos foram prefeitos, e a construtora Odebrecht, investigada no âmbito da Operação Lava Jato.
Rosinha deixou o presídio de Bangu por volta das 12h50 desta quarta-feira (4) — Foto: Reprodução / TV Globo
De acordo com o Ministério Público, autor da denúncia, o prejuízo aos cofres públicos com a fraude pode chegar a R$ 60 milhões.
Garotinho atacou a empreiteira ao sair da cadeia. "A Odebrecht está na Justiça contra a prefeitura. Ela quer receber R$ 62 milhões. A Justiça de Campos determinou uma perícia nas casas para ver quanto de fato ela tem a receber", explicou.
Ele atribuiu à queda no preço do petróleo os problemas no Morar Feliz. "Foi um lote de 10 mil casas. As 5 mil primeiras foram feitas, entregues e pagas. Na segunda, o petróleo começou a desabar. Caiu de 125 para 27 dólares o barril. Só foram entregues 2.700; as outras ficaram em pedaços. Nessas, a Odebrecht alega prejuízo", detalhou.
"Eu sabia que ia pagar esse preço, mas não pensei que a extensão da coisa fosse do tamanho que é. Eu tenho minhas mãos limpas, consciência tranquila, a Rosinha também", emendou.
Ex-governador Garotinho deixa cadeia de Benfica na manhã desta quarta (4) no Rio — Foto: Fernanda Rouvenat / G1 Rio
Rosinha Garotinho negou, ao sair da prisão, que as obras da empreiteira Odebrecht estivesse com preço alterado durante seu governo. Ela afirmou ainda que sua prisão foi realizada por "perseguição política".
“As obras da Odebrecht no meu governo não estavam com o preço alterado. Inclusive a Odebrecht tem processo contra a prefeitura porque eu não paguei as casas que eles não entregaram. Eu não fiz nenhuma casa que não oferecesse junto saneamento, asfalto, calçada com acessibilidade e iluminação pública”, disse Rosinha.
“Fiquei aqui menos de 24 horas e mais uma vez foi uma perseguição de um grupo político de Campos [dos Goytacazes] e da turma do Sérgio Cabral. Sempre brota em Campo tudo contra nós. Eu quero dizer que isso é uma perseguição de um grupo segmentado, que está partidarizado. Um grupo, infelizmente, do judiciário”, completou.
Ao pedir a prisão preventiva do casal, o MP alegou risco de interferência nas investigações devido ao "poder dissuasório" que ambos têm em Campos.
"É notório que eles podem fazer ou ameaça, ainda que psicológica, ou algum manejo em relação às testemunhas que foram arroladas”, argumentou a promotora Simone Sibilio, coordenadora do Grupo de Atuação Especializada e Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Já o desembargador Siro Darlan, que concedeu o habeas corpus, entendeu que o casal pode responder ao processo em liberdade, mesmo considerando a gravidade dos crimes pelos quais são acusados.
"Não se nega, na espécie, a gravidade das condutas imputadas ao paciente. Nada obstante, por mais graves e reprováveis que sejam as condutas supostamente perpetradas, isso não justifica, por si só, a decretação da prisão cautelar", destaca Siro.
A decisão define que, em liberdade, Garotinho e Rosinha não podem entrar em contato com outros réus ou testemunhas do caso e não podem sair do país sem autorização judicial, sendo obrigados a entregar os passaportes nos próximos cinco dias.
Ex-governadora do Rio de Janeiro Rosinha Garotinho em foto quando deixou a prisão, em 2017, na primeira vez em que foi colocada atrás das grades — Foto: Jose Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo
Os dois também deverão comparecer em juízo até o quinto dia útil de cada mês com uma prova de residência.
O texto de Siro afirma ainda que a prisão cautelar é uma medida excepcional que só deve ser usada quando amparada pela lei, em observância ao princípio constitucional da presunção de inocência.
Esquema com a Odebrecht
O casal foi preso desta vez em decorrência de uma operação da Polícia Federal batizada Secretum Domus. A ação foi realizada no Rio e em Campos a partir de investigações sobre superfaturamento em contratos celebrados entre a Prefeitura de Campos e a construtora Odebrecht para a construção de casas populares dos programas “Morar Feliz I” e “Morar Feliz II” durante os dois mandatos de Rosinha como prefeita, entre 2009 e 2016.
O esquema veio à tona após declarações prestadas ao Ministério Público Federal (MPF) por dois executivos da construtora. Em acordo de colaboração dentro da Operação Lava Jato, os denunciados Leandro Andrade Azevedo e Benedicto Barbosa da Silva Junior deram detalhes do esquema entre o município de Campos e a Odebrecht.
Somadas, as licitações ultrapassaram o valor de R$ 1 bilhão custeados pelos cofres públicos municipais. O MP estima que o prejuízo aos cofres públicos pode chegar a R$ 60 milhões.
Segundo a denúncia do MP, as contratações foram superfaturadas e permeadas pelo pagamento frequente de quantias ilícitas, em espécie, em favor dos ex-governadores. Durante as investigações, foi descoberto um sistema interno dentro da Odebrecht que ocultava valores de propina pagos ao ex-governador do Rio.
No Setor de Operações Estruturadas (SOE) da Odebrecht, o sistema utilizado para organizar e contabilizar os valores da propina era chamado de Drousys. Ele ocultava a origem dos valores e dos destinatários, dissimulando a ilegalidade nos pagamentos.
Nas planilhas do Drousys, segundo o Ministério Público, estavam registrados os valores que seriam pagos, os codinomes dos beneficiários, datas de pagamento, senhas e, em alguns casos, referências às obras relacionadas ao pagamento da quantia.
Um exemplo ocorreu em 2014: enquanto as obras estavam em andamento, o projeto Morar Feliz 2, para a construção de casas populares em Campos dos Goytacazes, aparecia na planilha de pagamento para Garotinho, pelo nome “Casas Campos II”.
Este sistema possibilitava que os funcionários do SOE mantivessem contato com os prestadores, como Álvaro Noviz, encarregados de disponibilizar os valores da propina em dinheiro vivo. Chamado de "Carioquinha" ou "Paulistinha". O dinheiro era pago através da sua corretora, a Hoya.
'Politização do Judiciário'
Em nota, a defesa de Anthony e Rosinha Garotinho negou as acusações, disse que a prisão é ilegal e infundada e criticou o que chamou de "politização do judiciário". (leia a íntegra abaixo).
"A defesa dos ex-governadores Rosinha e Garotinho afirma que a prisão determinada pela 2ª Vara Criminal de Campos é absolutamente ilegal, infundada e se refere a supostos fatos pretéritos.
Enfatiza que, no caso concreto, a prefeitura de Campos pagou apenas pelas casas efetivamente prontas e entregues pela construtora Odebrecht.
Se não bastasse, a Odebrecht considerou ter sofrido prejuízo no contrato firmado com a prefeitura de Campos e ingressou com ação contra o município para receber mais de R$ 33 milhões. A ação ainda não foi julgada e em janeiro deste ano a Justiça determinou uma perícia que sequer foi realizada.
É estranho, portanto, que o Ministério Público fale em superfaturamento quando a própria empresa alega judicialmente ter sofrido prejuízo.
A defesa de Rosinha e Garotinho lamenta a politização do Judiciario de Campos e do Ministério público Estadual, que teve vários de seus integrantes denunciados pelo ex-governador Antony Garotinho à Procuradoria Geral da República.
Histórico de prisões
Esta foi a segunda vez que Rosinha Matheus foi presa acusada de crimes relacionados à sua atuação política. Já para Garotinho, esta foi a quarta prisão. Relembre as outras três vezes em que o ex-governador foi preso:
Operação Chequinho. A primeira prisão de Garotinho foi em 16 de novembro de 2016, em uma investigação de um esquema de compra de votos envolvendo o programa social Cheque Cidadão na eleição municipal daquele ano. Dois dias depois, o ex-governador resistiu quando a Justiça determinou a transferência do Hospital Souza Aguiar, onde estava internado, para Bangu.
Garotinho resiste à transferência para presídio em 2016 — Foto: Reprodução / Tv Globo
Fraude eleitoral. A segunda prisão de Garotinho foi em 13 de setembro de 2017, enquanto apresentava seu programa de rádio, em decorrência de uma condenação judicial. O MP afirmara que, em troca de votos em candidatos a prefeito e vereadores em 2016, a Prefeitura de Campos oferecia inscrições no Cheque Cidadão, que dava R$ 200 por mês a cada beneficiário. Garotinho era secretário de Governo da mulher. A Justiça acabou liberando-o para cumprir a pena em casa, com o uso de tornozeleira eletrônica.
Contrato fantasma. A terceira prisão foi em novembro de 2017, junto com sua mulher, a também ex-governadora Rosinha Matheus. Segundo delação de Ricardo Saud, da JBS, foi firmado um contrato de R$ 3 milhões para serviços de informática que jamais foram prestados - a suspeita é de repasse irregular de valores para a utilização nas campanhas eleitorais.
Garotinho chegou a lançar sua candidatura ao governo do Rio de Janeiro nas eleições de 2018, mas o TSE barrou a candidatura. Candidato pelo PRP, Garotinho foi barrado com base na Lei da Ficha Limpa.
Este ano, a Justiça chegou a determinar duas vezes que Garotinho fosse monitorado por tornozeleira eletrônica - dentro da Operação Chequinho -, mas sua defesa conseguiu derrubar as medidas cautelares.
Fonte: G1
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