O cacique Raoni Metuktire afirmou nesta quarta-feira (24) que o presidente Jair Bolsonaro "não é uma liderança" e "tem que sair" do governo.
O cacique Raoni Metuktire durante entrevista na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (25) — Foto: Fernanda Calgaro/G1
A fala do cacique se deu um dia após ter ele sido citado em discurso do presidente na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
Conhecido internacionalmente pela defesa dos direitos dos povos indígenas, ele foi chamado por Bolsonaro de "peça de manobra" usada por governos estrangeiros para "avançar seus interesses na Amazônia".
"O Bolsonaro falou que não sou uma liderança. Ele que não é liderança e tem que sair", afirmou o líder indígena.
Em seu discurso, Bolsonaro não disse a quais governos se referia, mas recentemente Raoni se encontrou com o presidente da França, Emmanuel Macron, em busca de apoio para a defesa da Amazônia.
No giro europeu que fez na ocasião, o cacique também esteve com o papa Francisco e passou pelo Festival de Cannes.
Raoni foi ao Congresso Nacional participar de uma reunião do Fórum em Defesa da Amazônia, promovida por partidos de oposição ao governo Bolsonaro.
Ainda em seu discurso na ONU, o presidente brasileiro afirmou que "a visão de um líder indígena não representa a de todos os índios brasileiros".
Aos 89 anos, o cacique do povo caiapó é, há décadas, considerado um dos líderes indígenas de maior renome mundial.
Neste mês, a Fundação Darcy Ribeiro propôs a candidatura de Raoni ao Prêmio Nobel da Paz de 2020 por sua luta pelos povos e pela preservação da Amazônia.
Segundo Bolsonaro, pessoas dentro e fora do Brasil, com apoio de organizações não-governamentais, "teimam em tratar e em manter" os índios brasileiros "como verdadeiros homens das cavernas".
O presidente ainda defendeu uma "nova política indigenista" no país a fim de buscar "autonomia econômica" dos indígenas.
Índia que acompanhou Bolsonaro
Nesta quarta-feira (25), o líder do governo na Câmara, Major Vítor Hugo (PSL-GO) e deputados do PSL receberam a índia Ysani Kalapalo, que acompanhou, a convite, a participação do presidente Jair Bolsonaro na 74ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU).
Kalapalo é da aldeia Tehungu, no Parque Indígena do Xingu (MT). A presença da jovem na assembleia foi repudiada por representantes de 16 povos indígenas do Xingu.
Em nota, o grupo afirmou: “Não aceitamos e nunca aceitaremos que o governo brasileiro indique por conta própria nossa representação indígena sem nos consultar através de nossas organizações e lideranças reconhecidos e respaldados por nós”.
A visita de Kalapalo à Câmara foi acompanhada pela secretária Especial de Saúde Indígena (SESAI) do Ministério da Saúde, Silvia Waiãpi; e por outros quatro líderes indígenas.
O grupo afirmou que outros representantes de comunidades não puderam comparecer mas gravaram vídeos de apoio a Kalapalo.
Os líderes afirmaram ainda que representam mais de 58 povos indígenas. A pauta em comum é a liberdade para o desenvolvimento dos indígenas.
Questionada sobre a manifestação dos que protestaram pela escolha dela como representante dos indígenas brasileiros na ONU, Ysani Kalapalo afirmou:
“Sempre eles falaram por nós. Mas aqui estou eu, falando por mim e pela comunidade. Eles podem não se sentir representados por mim, mas eu estou aqui representando aquelas pessoas que não têm voz”, afirmou.
Durante entrevista na Câmara, Kalapalo disse que não há uma única liderança indígena que represente toda as comunidades.
“Cada aldeia tem o seu próprio cacique, a sua própria liderança. Um único cacique não fala por nós. Para você falar por todos os povos indígenas você tem que viajar todas as aldeias indígenas, você tem que conhecer a realidade daquela comunidade. Não existe um único cacique que fala por todos”, declarou.
Ela relatou que recebeu ameaças de morte e disse que já procurou as autoridades para investigar essas ameaças. Kalapalo se emocionou ao falar da morte de um tio, há quatro dias. Segundo ela, o tio se matou porque “não aguentava mais ser tratado como índio do século passado”.
Ysani Kalapalo defendeu que os indígenas devem ter liberdade de escolha e independência financeira, tese também defendida pelo presidente Jair Bolsonaro.
“Hoje, o índio que ter o mesmo direito que qualquer cidadão brasileiro tem", afirmou. “O índio quer sim garimpar, quer sim plantar, porque não? Por que o índio não pode ter sua independência financeira?”, acrescentou.
Fonte: G1
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