Um jovem de 18 anos morre ao levar um tiro disparado por um assaltante em fuga. Seu nome é Arthur Lima de Oliveira. Uma moça chamada Kívia Pereira dos Santos, 22, é perseguida e baleada por dois bandidos próximo a um churrasquinho. Um rapaz de 16 anos, Benes Junior, morre após ser atingido por um tiro vindo da polícia, momentos após ser sequestrado por uma dupla dirigindo o carro da mãe. Um dos assaltantes de Benes, Matheus da Silva Régis, de 17 anos, também morre no local. Esses casos aconteceram entre 2018 e 2019 no Rio Grande do Norte. Eles fazem parte de um total de 5.121 de jovens de 15 a 29 anos vítimas da violência no Estado entre 2015 e 2019, 57% de todos os homicídios no RN neste período.
Um dos casos que ilustra a realidade apresentada no relatório é o do sequestro seguido de morte de Benes Júnior em 2018
Embora apresentem índices tidos como alarmantes e preocupantes segundo interlocutores do setor, os números mostram queda no Rio Grande do Norte. A série histórica mostra que os números eram 967 em 2015, 1.130 em 2016 e tiveram um ápice em 2017, com 1.395 mortes de jovens, sendo considerado o anos mais violento. O número caiu para 1.102 em 2018 e 527 até 31 de agosto de 2019. Em comparação com o mesmo período do ano passado, por exemplo, há uma redução de 33,2%.
Os números foram retirados do relatório Mortandade da Juventude 2015 – 2019, produzido pelo Observatório da Violência Letal e Intencional no Rio Grande do Norte (OBVIO), divulgado nesta quarta-feira (25).
O pesquisador da área da Segurança Pública, violência e sistema prisional Francisco Augusto Cruz, disse que “quando o Estado não chega, o mundo do crime chega” e citou que, a nível nacional, não há uma política pública voltada para o âmbito da juventude. “Muito embora tenhamos um estatuto da juventude, um comprometimento do estado para com o público jovem, esse governo não está assumindo a responsabilidade”, comentou.
Entretanto, o pesquisador viu como positiva a atitude do poder executivo estadual de criar uma pasta para tocar o assunto no RN. “O Estado não pode fazer vista grossa dessa responsabilidade, ele também é corresponsável pelos números de mortalidade da juventude, desemprego, pelo menos na minha visão. Acho que é positivo a criação de uma secretaria destinada a políticas pra juventude”, disse.
Procurado pela reportagem, o secretário de segurança do Rio Grande do Norte, Coronel Francisco Araújo, preferiu não comentar o relatório alegando que não havia tido contato com o documento.
O estudo do Obvio é construído por meio do Sistema Metadados1 que consiste no tratamento interpolado de dados de diversas fontes governamentais e não-governamentais (Datasus, Sirc, Ciosp, Itep, Dhpp, Coine, MPRN, além de outras fontes.
“Esta publicação tem o objetivo de fundamentar decisões e diretrizes para ações daquela subsecretaria, estabelecendo uma linha contributiva com todas as entidades governamentais e/ou não-governamentais e com a sociedade norte-rio-grandense como um todo”, aponta o relatório.
Aliado a essas questões, o Rio Grande do Norte convive com problemas estruturais na segurança pública, fatos repercutidos em edições desta TRIBUNA DO NORTE. Há um déficit, por exemplo de aproximadamente 3,7 mil policiais civis, o que torna o RN, proporcionalmente a sua população, no quinto menor contingente entre estados brasileiros. Um concurso com 307 vagas está previsto para a área e a expectativa é que o edital saia ainda este ano.
A Polícia Militar também convive com dificuldades. O efetivo tem baixa de 6 mil profissionais, quando deveria ter pouco mais de 14 mil. Há um certame em andamento e os candidatos aprovados já estão iniciando os Testes de Aptidão Física (TAF) para entrarem na corporação. São 1.000 vagas, sendo 938 para homens e 62 para mulheres. A expectativa é de que esses agentes incorporem a PMRN em setembro de 2020.
Números
Homicídios entre jovens:
2015: 967
2016: 1.130
2017: 1.395
2018: 1.102
2019: 527 (até 31 de agosto)
Total: 5.121 jovens mortos
Homicídios Gerais
2015: 1.670
2016: 1996
2017: 2.407
2018: 1.962
2019: 974 (até 31 de agosto)
Total: 9.009 homicídios gerais
Mortandade da juventude potiguar: 57% das mortes entre os CVLIs do RN
Redução de 33,2% de 2019 para 2018 (período de janeiro e agosto)
Perfil das vítimas entre 2015 e 2019
Sexo
Homens: 4.870 (95%)
Mulheres: 251 (5%)
Estado Civil
Solteiro: 4.367 (85%)
Ignorado: 385 (8%)
União Consensual: 261 (5%)
Cor da pele
Parda: 2.989 (58%)
Preta: 1.632 (32%)
Branca 492 (10%)
Escolaridade
Ignorada: 2.965 (58%)
Fundamental: 1.436 (28%)
Médio: 671 (13%)
Renda Estimada
Sem atividade remunerada: 3.260 (64%)
Até 2 salários: 951 (19%)
Até 1 salário: 654 (13%)
Fonte: Tribuna do Norte
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