O presidente Jair Bolsonaro disse, nesta quarta-feira (14), que "bandidos de esquerda começaram a voltar ao poder" na Argentina, ao comentar a vitória da chapa de Alberto Fernández e Cristina Kirchner nas eleições primárias.
Presidente Jair Bolsonaro acena para multidão em Parnaíba, no Piauí — Foto: Andrê Nascimento/G1
"A Argentina está mergulhando no caos, a Argentina começa a trilhar o rumo da Venezuela, porque nas primárias bandidos de esquerda começaram a voltar ao poder", afirmou Bolsonaro em evento no Piauí.
Nesta terça-feira (13), Alberto Fernández chamou Bolsonaro de "racista, misógino e violento". A declaração foi feita em um programa de TV horas após Bolsonaro ter dito que o Brasil poderia ver uma onda de imigrantes fugirem da Argentina se políticos de esquerda vencerem as eleições presidenciais de outubro.
O presidente brasileiro apoia Mauricio Macri, candidato à reeleição no país vizinho. Diante da derrota nas primárias, o presidente argentino anunciou nesta quarta novas medidas econômicas, como elevação do salário mínimo, bônus a trabalhadores e congelamento do preço da gasolina por 90 dias.
Alberto Fernández, candidato à Presidência na chapa em que Cristina Kirchner é vice, vota nas prévias na Argentina — Foto: Agustin Marcarian/Reuters
Em discurso para moradores de Parnaíba (PI) que o aguardavam no aeroporto, Bolsonaro também criticou "corruptos e comunistas" do Brasil, voltando a usar o termo "cocô".
"O Mão Santa [prefeito de Parnaíba] me disse uma coisa: 'Vamos acabar com o cocô no Brasil'. O cocô é essa raça de corruptos e comunistas. Nas próximas eleições, nós vamos varrer esta turma vermelha do Brasil. Já que na Venezuela acabou, vou mandar este cambada para lá", afirmou.
Esta é pelo menos a quarta vez em que o presidente da República menciona a palavra "cocô", ou termo semelhante, ao falar em público nos últimos dias.
Na sexta-feira (9), ao ser questionado sobre preservação ambiental, sugeriu a repórteres em Brasília que "fazer cocô dia sim, dia não" poderia reduzir a poluição.
No sábado (10), repetiu a sugestão a jornalistas, dizendo que se tratava de uma brincadeira. "Para a gente preservar o meio ambiente, vai um dia no banheiro, e no outro dia, não. Um dia faz cocô, no outro não faz. Levaram para o lado sério."
Nesta segunda-feira (12), em visita ao Rio Grande do Sul, o presidente disse que encontrar "cocozinho petrificado em índio" impedia a realização de obras públicas.
Ida ao Nordeste
Nesta quarta, Bolsonaro teve o primeiro encontro com um governador do Nordeste após a polêmica causada por declaração sobre governadores da região. Ele foi recebido por Wellington Dias (PT), que o cumprimentou e logo voltou a Teresina.
A fala do presidente sobre o Nordeste foi gravada durante conversa informal com o ministro Onyx Lorenzoni no dia 19 de julho. Na ocasião, Bolsonaro afirmou que "daqueles governadores de 'paraíba', o pior é o do Maranhão".
Governadores reagiram, cobrando explicações do presidente, e afirmaram ter recebido "com espanto e profunda indignação a declaração".
No dia seguinte, Bolsonaro afirmou que fez uma “crítica” aos governadores do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), e da Paraíba, João Azevêdo (PSB), “nada mais além disso”.
Durante o discurso a apoiadores nesta quarta, Bolsonaro disse que "alguns governadores estão querendo separar o Nordeste do Brasil, estes cabras estão no caminho errado". "O caminho do Brasil é um só, um só povo, só raça, uma só bandeira verde-amarela."
"Nunca fechei as portas pra ninguém, eles que se reúnem, fazem manifestações contra mim, querem dividir o Nordeste, o Brasil é um país só, estamos nos livrando desse mal vermelho, do comunismo, isso é muito bom", afirmou.
Durante entrevista a jornalistas, o presidente também disse que ficou "muito honrado" com a concessão do seu nome a uma escola do Serviço Social do Comércio (Sesc) inaugurada nesta quarta em Parnaíba.
O letreiro chegou a ser colocado no prédio do imóvel, mas foi retirado. "Fico muito honrado com essa possibilidade. Ações na Justiça foram movidas, caso elas sejam vencidas, o prefeito que decide. No momento está sub judice, e não vim aqui pra fazer campanha antecipada", afirmou Bolsonaro.
Já o presidente do Sesc, Valdeci Cavalcante, disse: "No nosso coração, permanece o desejo de homenagear o presidente, dando o nome dele para a escola. Ainda nesta semana, ele me disse que vai pedir a autorização do jurídico do Planalto para poder aceitar o convite e ter seu nome em uma de nossas escolas do Sesc".
"O Bolsonaro prefere agir com mais cautela, para que as pessoas não se aproveitem da situação e façam jogo político ou antecipem campanha."
Bolsonaro também negou a possibilidade de criar um novo imposto – o chefe da Receita Federal, Marcos Cintra, pretende implantar a Contribuição Provisória (CP) para substituir impostos federais – e disse que ainda não escolheu o nome do próximo Procurador-Geral da República.
"A PGR ainda tenho tempo ainda, tá difícil a escolha, tem muitos bons nomes e tenho certeza que o escolhido além de ser aprovado no Senado [...]. Não tem nome A, B ou C", disse.
A viagem do presidente nesta quarta foi a primeira ao Piauí e a terceira ao Nordeste desde que ele tomou posse.
Depois da declaração polêmica sobre "governadores de 'paraíba'", Bolsonaro fez duas viagens à Bahia, mas não se encontrou com o governador Rui Costa (PT) em nenhuma delas.
Radares
O presidente voltou a criticar instalação de radares nas rodovias. Há dois dias ele disse que iria anunciar o fim dos radares móveis nas estradas federais. "A partir de segunda-feira, tá suspenso radar móvel", disse nesta quarta.
"Respeito a Justiça, mas não consigo entender. Se quiserem que eu instale mais de 8 mil pardais no Brasil, vai custar 1 bilhão pro povo, pra botar assaltantes na pista, pra roubar vocês, não queremos pardais mais. É nossa intenção, agora temos uma batalha pela frente", afirmou no Piauí.
Fonte: G1
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