A Polícia Civil cumpriu na manhã desta terça-feira (9) mandados de busca e apreensão na sede do Cruzeiro, no Barro Preto, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, e também na Toca da Raposa, centro de treinamento que fica na Região da Pampulha.
Policiais civis cumprem mandados de busca e apreensão na sede do Cruzeiro nesta manhã. — Foto: Vladimir Vilaça/TV Globo
A sede da torcida organizada Máfia Azul também é alvo da operação, batizada de Primeiro Tempo. Segundo a polícia, cerca de 100 agentes participaram da ação e 30 viaturas foram mobilizadas. O objetivo era cumprir, ao todo, 16 mandados.
As buscas também acontecem nas casas do presidente do Cruzeiro Wagner Pires de Sá, do vice de futebol, Itair Machado, do diretor-geral do clube, Sérgio Nonato e do empresário Cristiano Richard dos Santos Machado.
Sede da torcida organizada Máfia Azul — Foto: Vladimir Vilaça/TV Globo
O atual bicampeão da Copa do Brasil é investigado por suspeita de lavagem de dinheiro, uso de empresas de fachada e até pela venda de direitos de um menor de idade. A dívida do clube chega a R$ 500 milhões.
Em maio, a TV Globo teve acesso a documentos internos do clube que revelam transações irregulares e uso de empresas de fachada para ocultar crimes.
O Ministério Público informou que o processo corre em sigilo e que por isso não pode dar detalhes sobre as investigações.
Wagner Pires de Sá, Itair Machado e Sérgio Nonato informaram que não vão se pronunciar de forma individual, apenas pela nota divulgada pelo Cruzeiro. A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Cristiano Richard. A Diretoria da Máfia Azul disse que está à disposição da Justiça.
Em nota, a diretoria do Cruzeiro informou que "entregou às autoridades toda a documentação solicitada para a investigação. Lamentamos apenas que este fato esteja acontecendo exatamente às vésperas de uma decisão importante na Copa do Brasil. O Cruzeiro Esporte Clube informa que continuará à disposição das autoridades competentes para quaisquer tipos de outros esclarecimentos necessários."
Cruzeiro e Atlético se enfrentam nesta quinta-feira (11) pelas quartas de final da Copa do Brasil. O jogo será às 20h, no Mineirão.
A investigação
A Polícia Civil de Minas Gerais instaurou inquérito para apurar denúncias sobre falsificação de documento particular, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Os investigadores já ouviram 15 pessoas, todas elas relacionadas de alguma forma com o Cruzeiro – entre funcionários e ex-funcionários, dirigentes e prestadores de serviços que realizaram transações com o clube.
O inquérito se baseia em um balancete contábil analítico, que demonstra pagamentos feitos pelo Cruzeiro no decorrer de 2018, ao qual o Fantástico também teve acesso.
A reportagem foi além e conseguiu quase 200 páginas de contratos e planilhas de controle interno. Há evidências de que a diretoria cruzeirense quebrou regras da Fifa e da CBF, no âmbito do futebol, e do governo federal, por meio do Profut, programa de renegociação de dívidas fiscais com clubes.
Wagner Pires de Sá
Presidente do Cruzeiro, Wagner Pires de Sá (centro), prestou depoimento à Polícia Federal em Belo Horizonte em junho — Foto: Alex Araújo/G1
O presidente do Cruzeiro Esporte Clube, Wagner Pires de Sá, ainda é suspeito de participação em vazamentos de documentos sigilosos da Polícia Federal.
No dia 18 de junho, ele prestou depoimento sobre as investigações da Operação Escobar. Ela apura contratos de honorários com os advogados Carlos Alberto Arges Júnior e Ildeu da Cunha Pereira, que chegaram a ser presos no dia 5 de junho. A PF suspeita de lavagem de dinheiro e desvio do dinheiro para outros dirigentes do clube mineiro.
Após quase duas horas de depoimento na sede da PF, presidente do Cruzeiro foi questionado pela reportagem da TV Globo se o clube mantinha algum tipo de contrato com os advogados investigados.
"O Cruzeiro tem contrato com mais de mil advogados", respondeu Wagner Pires de Sá, disse ele na época.
A Operação Escobar é um desdobramento da Operação Capitu e prendeu dois advogados e dois servidores da Polícia Federal suspeitos de retirar documentos sigilosos do sistema da própria PF e vazar informações sobre as operações. São investigados os crimes de corrupção ativa, corrupção passiva, organização criminosa, obstrução de Justiça e violação de sigilo funcional. As investigações são coordenadas pelo delegado Rodrigo Morais Fernandes.
Os advogados Carlos Alberto Arges Júnior e Ildeu da Cunha Pereira, que também é conselheiro nato do Cruzeiro, Marcio Antonio Camillozzi Marra, servidor da PF e conselheiro efetivo do Cruzeiro e Paulo de Oliveira Bessa, servidor da PF, foram presos no início deste mês.
Itair Machado
No dia três de julho, a Justiça negou a tutela de urgência em ação de conselheiros do Cruzeiro para afastar Itair Machado de suas funções administrativas. Um grupo de 31 conselheiros e associados do Cruzeiro ajuizou ação cível contra o clube e principalmente contra ele.
Este pedido, rejeitado, tinha o poder de afastar Itair Machado da diretoria do Cruzeiro até que a ação fosse julgada no sistema judiciário de Minas Gerais.
Os conselheiros autores da ação, incluindo o ex-presidente Gilvan de Pinho Tavares, argumentaram que "a nomeação do Vice-Presidente executivo se deu de forma irregular, na medida em que existem em desfavor do réu condenações trabalhistas, previdenciárias e criminais, o que contraria o estatuto do clube e a lei 9.615, de 1998". A intenção seria de afastamento imediato de Itair ou, de forma alternativa, que o vice de futebol fosse afastado "temporariamente por 60 dias".
É citada na petição inicial que "há fortes indícios de gestão temerária/fraudulenta junto ao Cruzeiro", tendo como base as denúncias apresentadas pelo Fantástico e também as investigações da Polícia Civil contra a gestão atual da Raposa. A parte autora ainda relata que em 28 de junho de 2019 "foi protocolizada representação perante o Conselho Deliberativo do clube requerendo o afastamento do 1º réu (Itair)".
Entretanto, a juíza aceitou a argumentação do Cruzeiro na questão, de que é o estatuto do clube, por meio de convocação de Assembleia Geral, que deverá tratar de afastamento de membro da diretoria.
Prosseguindo na decisão, a julgadora da questão ainda afirmou que as ações trabalhistas e criminais nas quais Itair Machado estaria envolvido não transitaram em julgado (não tiveram o julgamento finalizado). Itair se manifestou voluntariamente na ação e requereu segredo de justiça, algo que não foi concedido pela juíza.
Fonte: G1
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