A Câmara dos Deputados aprovou na
noite desta quarta-feira (10) em primeiro turno, por 379 votos a 131, o
texto-base da proposta de emenda à Constituição (PEC) de reforma da
Previdência, que altera as regras de aposentadoria.
Para concluir a votação, os
parlamentares ainda precisam analisar emendas e destaques apresentados pelos
partidos para tentar alterar pontos específicos da proposta.
Considerada uma das principais
apostas da equipe econômica para sanear as contas públicas, a proposta de
reforma da Previdência estabelece, entre outros pontos:
imposição de idade mínima para os
trabalhadores se aposentarem: 65 anos para homens e 62 anos para mulheres;
tempo mínimo de contribuição
previdenciária passará a ser de 15 anos para as mulheres e 20 anos para os
homens;
regras de transição para quem já está
no mercado de trabalho.
Após a aprovação do texto-base, os
deputados votaram um único destaque, rejeitado. Em seguida, o presidente
Rodrigo Maia (DEM-RJ) encerrou a sessão, que será retomada na manhã desta
quinta (11).
O destaque rejeitado pretendia mudar
as regras previstas para professores na reforma. Apresentado pelo PL, propunha
para professores da rede pública de ensino a aposentadoria com 55 anos de idade
e 30 de contribuição para homens, e com 50 anos de idade e 25 anos de
contribuição para mulheres.
A mudança foi rejeitada, mesmo com
maioria de votos favoráveis ao destaque. O placar foi de 265 votos a favor e
184 contra. Mas, por se tratar de PEC, eram necessários pelo menos 308 votos
para a aprovação.
O resultado da votação do texto-base
desta quarta superou as expectativas dos próprios governistas. Até domingo (7),
o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, estimava que a proposta receberia
cerca de 330 votos.
Contribuíram para o resultado os
votos de deputados de partidos de oposição, como PSB e PDT, que tinham fechado
questão contra a reforma da Previdência. No PSB, dos 32 deputados da bancada,
11 votaram a favor da reforma. No PDT, oito dos 27 deputados votaram pela
aprovação do texto.
Obstrução
Antes de conseguir aprovar o
texto-base, os deputados favoráveis à reforma tiveram que analisar no plenário
requerimentos regimentais de obstrução apresentados pelos partidos contrários
às mudanças nas regras previdenciárias.
O objetivo dos oposicionistas com o
uso do chamado "kit obstrução" era atrasar o máximo possível a
votação. Porém, todos os requerimentos de obstrução foram rejeitados pela
maioria dos deputados ao longo desta quarta-feira.
Por um placar de 334 votos a 29, os
defensores da reforma derrubaram um pedido do PSOL que solicitava a retirada de
pauta da proposta. Com a rejeição, ficaram prejudicados outros requerimentos
que pediam o adiamento da votação.
A oposição fez outra tentativa para
atrasar os trabalhos ao pedir que o texto fosse analisado de forma fatiada,
votando cada artigo separadamente.
Para contornar a situação, deputados
favoráveis à PEC da Previdência usaram uma manobra regimental e apresentaram
seis requerimentos que tratavam de procedimentos de votação.
Nessa situação, quando há mais de
cinco pedidos no mesmo sentido, o regimento interno da Câmara determina que o
presidente da Casa consulte o plenário sobre o procedimento em uma única
votação. O plenário acabou rejeitando a votação parcelada por 299 votos a 43, e
duas abstenções.
Em seguida, os parlamentares
derrubaram em bloco a admissibilidade dos destaques simples, que são as
sugestões apresentadas por deputados individualmente. Assim, eles partiram
diretamente para a análise dos destaques de bancada.
Embates no plenário
Durante a sessão, parlamentares
pró-reforma e oposicionistas travaram uma série de embates sobre as mudanças
nas regras previdenciárias.
Parlamentares da oposição afirmaram
que a economia prevista com a reforma é injusta e feita em cima dos que ganham
menos.
Eles também criticaram a liberação de
emendas parlamentares por parte do governo, dizendo que isso faz parte da
negociação de votos a favor das mudanças nas regras previdenciárias.
“O governo teve seis meses para
tentar convencer o Congresso, o povo brasileiro de que essa reforma combateria
privilégios e seria boa para a economia, mas só conseguiu convencer parte dos
parlamentares liberando R$ 40 milhões extras em emendas para acabar com a vida
do povo trabalhador”, disse deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP).
Parlamentares pró-reforma, por outro
lado, repetiram que o texto combate privilégios e que é necessário para cobrir
o rombo da Previdência. Eles também refutaram as falas de que a liberação de
emendas foi feita em troca de votos.
“Estão aqui parlamentares pensando no
Brasil e nas próximas gerações, em detrimento de uma minoria que será
derrotada, que só pensa no populismo, em se dar bem, em manter privilégios para
corporações e nas eleições do ano que vem”, disse o líder do Cidadania, Daniel
Coelho (PE).
“Por que esta reforma vai passar
hoje? A esquerda diz que é porque o governo comprou a todos nós. [...]. O
governo Bolsonaro acelerou o pagamento de emendas de parlamentares ao orçamento
da União nos últimos meses. Em maio, foram quase R$ 600 milhões. O partido que
mais se beneficiou não foi o PSL. Foi o PT. A bancada do PT foi a que mais
recebeu recursos. Sabe quanto? 69 milhões. Será que Bolsonaro está querendo
comprar o PT? Não. Porque Bolsonaro não compra ninguém, e muito menos compraria
quem quebrou esta nação, quem quebrou o Brasil”, disse o líder do PSC, Otoni de
Paula (RJ).
Oposição e governistas agitam faixas e bandeiras na Câmara antes da votação da reforma da Previdência — Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Cartazes e bandeiras
Além dos embates verbais, os parlamentares
protagonizaram um confronto visual no plenário, com cartazes, camisas e
bandeiras.
Deputados do PDT, por exemplo,
subiram à tribuna com cartazes com os dizeres: “Eu não voto contra professoras
(es)”. Integrantes do PCdoB usaram camisas com a inscrição: “Não à reforma”; e
cartazes com a frase “Reforma injusta”. Parlamentares do PT, do PSOL e do PSB
utilizaram recursos visuais semelhantes.
Deputados governistas empunharam
bandeirinhas do Brasil e cartazes que diziam que as “únicas reformas que o PT
apoiou” foram as do tríplex do Guarujá (SP) e do sítio de Atibaia, em uma
referência a processos e acusações que pesam contra o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chora após ser aplaudido em plenário durante votação da reforma da Previdência — Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Lágrimas de Maia
Em um momento da sessão, antes da
votação do texto-base, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chorou.
O deputado foi às lágrimas quando o
líder do PSL, delegado Waldir (GO), pediu aos apoiadores da reforma uma salva
de palmas a Maia por seu empenho e condução na análise da PEC.
Vários deputados presentes ao plenário
atenderam ao pedido e prestaram a homenagem ao deputado do DEM.
Antes do anúncio do resultado,
Rodrigo Maia deixou a mesa e foi à tribuna para discursar. Ele fez a defesa da
reforma.
"Nosso sistema previdenciário
coloca o Brasil numa realidade muito dura. Para cada um idoso abaixo da linha
de pobreza, nós temos cinco crianças, e essas reformas vêm no intuito de
reduzir as desigualdades e esse, eu tenho certeza, que é o objetivo de todos os
deputados presentes que votaram a favor e os que votaram contra",
declarou.
Ele também agradeceu aos líderes
partidários. "Nós só chegamos aqui por isso, porque muitas vezes os nossos
líderes são desrespeitados, às vezes na imprensa, criticados de forma
equivocada, mas são esses líderes que estão fazendo as mudanças no Brasil,
junto com deputados e junto com as deputadas", disse.
Emendas e destaques
Entre as emendas que serão apreciadas
pelos deputados há uma que flexibiliza as regras de aposentadoria para uma
série de carreiras policiais. A emenda, que obteve o apoio do PSL – partido do
presidente Jair Bolsonaro – foi apresentada pela bancada do Podemos.
Veja quais são as propostas de
mudanças na PEC que serão analisadas pelos deputados
A proposta que será analisada pela
Câmara – que atende a pedido do próprio presidente da República – cria uma nova
regra para a aposentadoria de policiais federais, rodoviários federais,
ferroviários federais, legislativos e policiais civis do Distrito Federal, além
de agentes penitenciários e socioeducativos.
Há também na lista de destaques uma
proposta apoiada pela bancada feminina da Câmara que pede alterações no cálculo
do valor da aposentadoria das trabalhadoras do sexo feminino. O texto prevê que
as mulheres possam se aposentar com 15 anos de contribuição recebendo 60% do
valor do benefício integral.
Outro destaque que será apreciado
pelo plenário, de autoria da bancada do PL, propõe critérios diferentes dos que
o governo sugeriu para a concessão de aposentadoria para professores que atuem
no ensino público da União, dos estados e dos municípios.
Tramitação
Por se tratar de uma proposta de
emenda à Constituição (PEC), é necessário que o texto da reforma da Previdência
seja aprovado, em dois turnos, na Câmara e no Senado com votação qualificada,
ou seja, com os votos de, pelo menos, 60% dos parlamentares de cada uma das
casas legislativas. A expectativa é de que a votação em segundo turno ocorra
ainda nesta semana.
Na Câmara, para o texto ir adiante,
era preciso que, no mínimo, 308 dos 513 deputados votassem a favor da PEC. Ao
final da análise dos destaques, a Casa terá que analisar novamente o texto,
para que, enfim, possa ser submetido à apreciação dos senadores.
O Senado começará a analisar a
reforma previdenciária no retorno do recesso parlamentar de julho, que terá
início no dia 18.
Manifestantes
Enquanto os deputados discutiam na
tarde desta quarta a proposta de reforma da Previdência, um grupo de
manifestantes protestava contra a PEC do lado de fora do prédio do Legislativo.
Segundo a Polícia Militar do Distrito Federal, 300 pessoas participaram do
protesto.
Logo no início da manifestação, foi
registrado um princípio de tumulto, que foi contido por policiais legislativos.
Após o incidente, policiais militares e legislativos bloquearam o acesso ao
Anexo II da Câmara, uma das principais portas de entrada do prédio da Casa.
Com as portas cerradas, PMs formaram
uma barreira humana na entrada do prédio. A confusão aumentou quando policiais
legislativos usaram spray de pimenta para conter o grupo que protestava contra
a reforma previdenciária.
Mesmo com a barreira policial, os manifestantes
continuaram o ato do lado de fora. Em nota, a Câmara dos Deputados informou que
"devido a uma tentativa de invasão, a portaria do edifício do Anexo II da
Câmara dos Deputados foi fechada".
Fonte: G1
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