Ao menos 40 corpos foram retirados do rio Nilo na capital do Sudão, Cartum, de acordo com líderes de protestos pró-democracia no país.
Fiéis se reúnem, nesta quarta-feira (5), em torno de uma mesquita próxima a locais onde ocorreram protestos em Cartum, capital do Sudão. — Foto: Associated Press
Chega a cem o número de mortes em decorrência da dispersão dos protestos que aconteciam do lado de fora de um quartel militar na cidade.
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O comitê dos médicos afirmou que os corpos foram resgatados na terça (4) e que foram levados por paramilitares de um grupo chamado Forças de Apoio Rápido a um local desconhecido.
O protesto foi dispersado na segunda (3) pelos militares.
Uma ativista, Amal as-Zein, diz que o número pode ser ainda maior. De acordo com ela, dúzias de corpos foram retirados do Nilo em diferentes pontos perto de onde aconteciam as manifestações e foram levados ao necrotério de um hospital.
“Alguns corpos tinham ferimentos de balas, outros pareciam ter sido agredidos e jogados no Nilo”, ela disse.
Os líderes dos protestos desistiram de diálogos com os generais que estão no poder, dizendo que eles não podem falar seriamente sobre negociações enquanto as tropas atiram em manifestantes.
Uma porta-voz dos manifestantes afirmou que eles seguirão em sua campanha pró-democracia para pressionar os militares a transferir o poder a uma autoridade civil.
Após ataques de militares, general convoca oposição para um diálogo
O líder do conselho militar, o general Abdel-Fattah Burhan, disse que os militares estão prontos para negociar e que não haverá vetos, nos diálogos, a pessoas que participaram das manifestações.
“Nós abrimos as nossas mãos para negociar com todas as partes, pelo interesse da nação”, disse. Ele afirmou ainda que os responsáveis pela dispersão violenta dos protestos serão responsabilizados.
Mais cedo, o general Burhan havia cortado as negociações e cancelado todos pontos negociados entre os militares e a aliança civil que lidera as manifestações.
A proposta do general foi totalmente rejeitada, segundo Mohammed Yousef al-Mustafa, um porta-voz da Associação de Profissionais do Sudão, um dos grupos que lideram a aliança civil.
“Esse convite não é sério. O Burhan e seus subordinados mataram sudaneses e continuam a fazê-lo. Os carros deles patrulham as ruas e disparam contra as pessoas. Nós seguiremos nossos protestos, a nossa resistência, a greve e a desobediência civil.”
Grupos pró-democracia tentam mostrar que ainda conseguem organizar protestos
As baixas são o desafio mais recente ao movimento, que agora tem como objetivo mostrar que ele pode manter a pressão nas ruas depois do núcleo das manifestações ter sido dispersado –era um acampamento do lado de fora do quartel-general em Carum que durou semanas.
Em abril, o protesto foi bem sucedido na sua tentativa de forçar os militares a derrubarem o homem forte do regime, Omar al-Bashir.
O acampamento, então, seguiu, com a demanda de que os generais que tomaram o poder o entregassem a civis.
O último balanço de mortes causadas era de 40, mas o comitê de médicos afirmou que as forças mataram ao menos 10 na quarta-feira (5) em Cartum e na cidade vizinha de Omdurman.
Na terça (4) 10 tinham sido assassinadas.
O número total de cem inclui os 40 corpos que foram resgatados do rio Nilo.
O comitê dos médicos também afirma que ao menos 326 pessoas foram feridas em confrontos nos últimos dois dias e que tinha receio de que o balanço final de mortes seja mais alto.
Os ativistas Mohammed Najib e Hashim al-Sudani disseram que no começo desta quarta (5) em dois distritos da capital Cartum houve batalhas entre manifestantes e as forças de segurança, especialmente dos paramilitares.
“Houve muitos disparos e bombas de gás.”
O partido oposicionista Congresso relatou que mais os protestos seguiram, e publicou imagens de centenas de pessoas em marcha na cidade de Omdurman.
Na segunda, os paramilitares atacaram os civis com tortura, mortes e estupros na região de Darfur.
Outras tropas abriram fogo na multidão do lado de fora do quartel-general de Cartum, e pequenos acampamentos de manifestantes forma escorraçados.
Negociações entre militares e civis fracassaram
Depois da queda de al-Bashir, houve negociações durante semanas sobre como seria a transição até eleições que aconteceriam em três anos.
Os manifestantes queriam que os civis dominassem o conselho de transição, mas os generais resistiram.
Com o ataque, chega a um fim o período de paz que caracterizava as conversas e marca que os militares perderam a paciência com as demandas dos ativistas. Os dois lados caminham para uma escalada de conflitos violentos.
O chamado para negociação feito pelo general Burhan marcou uma mudança de seu discurso televisionado na véspera, quando ele culpou os líderes dos protestos pela situação volátil e os acusou de abandonar as negociações e tentarem excluir forças políticas e de segurança de integrar o governo de transição.
Ele anunciou ainda os militares vão montar um governo interino e chamar eleições mais cedo, entre sete e nove meses, sob supervisão internacional.
Os manifestantes rejeitaram essa proposta porque colocaria os militares no comando das próprias eleições.
Desde segunda (3), a tensão é alta em Cartum e em outras partes do país. Os manifestantes fizeram alguns protestos, bloquearam ruas com barricadas.
As forças de segurança patrulham os distritos das cidades.
Madani Abbas Madani, um líder ativista, diz que os protestos vão seguir com desobediência civil até que o conselho militar seja derrubado.
“O que aconteceu na segunda (3) foi uma tentativa de impor repressão ao povo do Sudão”, afirmou.
Em um documento assinado em conjunto, os Estados Unidos, a Noruega e o Reino Unido condenaram os ataques das forças de segurança. O comunicado, publicado na terça (4) à noite, dizia que os militares “colocam o processo de transição e as conversas de paz em risco.”
fonte: G1
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