O presidente Jair Bolsonaro aumentou ainda mais a polêmica sobre pornografia e carnaval nas redes sociais nesta quarta-feira (6). Ele havia compartilhado, na véspera, um vídeo de um bloco de carnaval em São Paulo em que dois homens dançam sobre um ponto de táxi. Em determinado momento, um deles coloca o dedo no ânus e se abaixa para que o outro urine nele.
Nesta quarta, o presidente tuitou: "O que é golden shower?".
Bolsonaro faz postagem sobre golden shower, termo usado para definir relações sexuais envolvendo o ato de urinar no(a) parceiro(a). — Foto: Reprodução
"Golden shower" significa "ducha dourada" (em tradução literal). É um termo em inglês usado para definir relações sexuais envolvendo o ato de urinar no(a) parceiro(a).
Bolsonaro tem quase 3,5 milhões de seguidores no Twitter e usa a plataforma para anunciar iniciativas do governo e se comunicar com a população. O post do presidente com o vídeo teve mais de 8 mil retuítes, mais de 46 mil curtidas e 39 mil comentários até as 12h de quarta. Já a pergunta sobre golden shower teve 28 mil retuítes, mais de 54 mil curtidas e 18 mil comentários até o mesmo horário.
O assunto está entre os mais comentados na rede social internacionalmente. Entre as principais hashtags dos Trending Topics estão #ImpeachmentBolsonaro, #BolsonaroTemRazão, #goldenshowerpresidente, #VergonhaDessePresidente.
Ambas as postagens estão disponíveis a qualquer pessoa que acesse a conta dele, e causaram críticas tanto de opositores como de apoiadores do presidente.
Usuários críticos às postagens destacaram que práticas como a que foi divulgada pelo presidente da República não ocorreram na absoluta maioria dos blocos de carnaval. Além disso, ao postar o vídeo em sua conta no Twitter, Bolsonaro levou a milhões de internautas temas que ele próprio sempre considerou impróprios para circulação em massa.
Em novembro de 2017, quando ainda era deputado federal, Bolsonaro criticou a liberação do acesso de menores a uma exposição sobre sexualidade no Museu de Arte de São Paulo (Masp). "Os canalhas não querem deixar as crianças em paz!", escreveu sobre o assunto, também no Twitter.
Dois meses antes, ao encampar uma campanha contra uma exposição que contava com um homem nu, o presidente havia colocado uma tarja no vídeo que divulgou na mesma rede social – algo que ele não fez com o vídeo divulgado nesta terça.
Postagem de Bolsonaro contra performance no Museu de Arte Moderna que exibia um homem nu; presidente botou tarja. — Foto: Reprodução
Reações
Entre as pessoas que criticaram o presidente por divulgar o vídeo pornográfico, está o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), um dos líderes do Movimento Brasil Livre (MBL). Em uma série de postagens no Twitter na manhã desta quarta, o parlamentar destacou que chegou a fazer campanha por Bolsonaro no segundo turno da eleição de 2018, mas que o tuíte do presidente "é incompatível com a postura de um presidente, ainda mais de direita."
"Há muitas boas razões para criticar o carnaval, não faltam problemas que poderiam ser evidenciados e evitados. Isso não justifica mostrar uma obscenidade para milhões de famílias por meio de uma rede social sob o pretexto de criticar a festa. Isso não é postura de conservador", disse Kataguiri.
Também integrante do Movimento Brasil Livre (MBL), o vereador de São Paulo Fernando Holiday (DEM) afirmou que o vídeo compartilhado pelo presidente é "indigno para o cargo".
"Se um Primeiro-ministro inglês compartilhasse algo semelhante ao que Bolsonaro compartilhou no Twitter haveria um escândalo de proporções épicas. O partido conservador seria o primeiro a lançar ações de desagravo", escreveu Holiday.
A economista Ana Carla Abrão, que foi secretária de Fazenda de Goiás, classificou o post como "absurdo":
"Passei o carnaval no Rio. Fui em bloquinho, em blocão, na Sapucaí... tinha festa na praia, no centro, em clube. Triste chegar à quarta-feira de cinzas com um post absurdo do Presidente da República estragando a imagem de uma festa brasileira tão alegre e bonita."
A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) defendeu Bolsonaro e comparou a reação aos vídeos às críticas feitas ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por ter divulgado vídeos antimuçulmanos.
"Em 2017, a turma politicamente correta atacou Donald Trump por simplesmente ter denunciado atrocidades de radicais islâmicos mostrando vídeos no twitter. Agora, guardadas as proporções, faz o mesmo contra Bolsonaro. A esquerda adora culpar o mensageiro, nunca o autor do crime", escreveu a partalmentar.
Vídeo teve visualização restringida
O vídeo foi gravado no desfile do Blocu, em São Paulo, na segunda-feira (4). Na postagem de terça, o presidente escreveu:
"Não me sinto confortável em mostrar, mas temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades. É isto que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro. Comentem e tirem suas conslusões (sic)".
Imagem compartilhada pelo presidente Jair Bolsonaro no Twitter — Foto: Reprodução/Twitter
Inicialmente, o vídeo era exibido automaticamente a quem acessasse a conta. Foi só algumas horas depois que a sequência passou a ter a visualização restrita: em vez do vídeo, a rede social exibe um alerta de que a mídia pode conter material sensível. A sequência, desde então, só é exibida caso o usuário clique em "ver".
Tuíte do presidente Jair Bolsonaro sobre os blocos de rua do carnaval — Foto: Reprodução/Twitter
Palácio do Planalto não se manifestou
O G1 procurou o Palácio do Planalto duas vezes nesta quarta, mas a Presidência não se manifestou até as 12h.
O Twitter foi questionado se a visualização foi restringida por Bolsonaro ou pela própria rede social. A empresa disse que não faz comentários sobre contas específicas, mas informou que tem regras sobre os conteúdos permitidos na plataforma e que "eventuais violações estão sujeitas a medidas cabíveis."
As regras do Twitter impedem a publicação de conteúdo adulto em vídeos ao vivo, em imagens de capa ou de perfil. Nos demais casos – como vídeos gravados ou fotos –, as mídias devem ser marcadas com a opção "sensível".
Quando isso não é feito, outros usuários podem denunciar. A rede social, então, inclui um alerta. Além disso, se o Twitter considerar o conteúdo inapropriado, o autor do post pode ser notificado, com exigência de remoção do conteúdo e até bloqueio a conta.
fonte: G1
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