O Papa Francisco pediu nesta quinta-feira (21) aos líderes da Igreja de todo o mundo que adotem "medidas concretas" para combater a pedofilia, na abertura de uma reunião histórica no Vaticano sobre o tema que abala a Igreja.
"O povo de Deus nos observa e espera não óbvias e simples condenações e sim medidas concretas e eficazes. Escutemos o grito das crianças que pedem justiça", afirmou o pontífice diante de quase 200 líderes religiosos.
"Iniciemos nosso percurso armados de fé (...) de coragem e de concretização", pediu o papa ao convidar cardeais, arcebispos, bispos e superiores religiosos a encarar a "praga dos abusos sexuais" cometidos por membros da Igreja.
Papa Francisco cumprimenta nesta quinta-feira (21) um cardeal durante a abertura de reunião que vai discutir a crise provocada por casos de pedofilia que têm abalado a igreja — Foto: Vincenzo Pinto / AFP
Esta é a primeira vez na história que os líderes da Igreja católica se reúnem a pedido do papa para debater a pedofilia, crime que minou a credibilidade da instituição em todos os continentes e que foi acobertado e negado durante décadas.
"Peço ao Espírito Santo que nos ajude nestes dias a transformar este mal em uma oportunidade para tomar consciência e como purificação. Que a Virgem Maria nos ilumine para tentar curar as graves feridas que o escândalo da pedofilia provocou tanto aos pequenos como aos fiéis", disse.
O dia começou com um momento de oração, seguido por um vídeo com depoimentos de vítimas e as palavras de introdução de Francisco, que viu seu pontificado ofuscado pela multiplicação de denúncias nos Estados Unidos, Chile, Austrália e Espanha.
O pontífice latino-americano deseja mudar a mentalidade dos bispos com um método jesuíta, com três dias de debates, discursos, reuniões intercaladas com orações, mas sobretudo com os depoimentos comoventes de vítimas de abusos sexuais quando eram crianças.
Bispos, cardeais e lideranças religiosas participam nesta quinta-feira (21) de reunião histórica no Vaticano para discutir casos de abuso sexual de crianças — Foto: Vincenzo Pinto / AFP
"É o momento da verdade. Apesar de dar medo e nos humilhar", admitiu o arcebispo maltês Charles Scicluna, um dos maiores especialistas sobre o tema e um dos organizadores da reunião.
Desde que explodiram os primeiros escândalos há 35 anos, a hierarquia da Igreja católica adotou uma série de medidas preventivas, aprovou leis, pediu desculpas e anunciou condenações, mas sem conseguir acabar com o que é conhecido como "cultura de acobertamento", ou seja, o silêncio.
As leis canônicas reconhecem um vínculo teológico, como o que existe com o pai, entre o bispo e seus padres, o que representa um aspecto muito difícil de mudar, explicou o alemão Hans Zollner ao falar sobre os princípios que regem os mais de 5.000 bispos da Igreja católica.
Até domingo
O tema da prestação de contas será abordado na sexta-feira, enquanto o sábado ficará concentrado na transparência. O discurso do papa no domingo (24) para encerrar o encontro gera muitas expectativas.
Apesar do tom duro prometido e da introdução do delito contra menores no início de seu pontificado, Francisco não conseguiu em seis anos o apoio concreto dos episcopados para combater a pedofilia com armas judiciais civis, com algumas exceções.
Os organizadores da reunião esperam, por este motivo, que anuncie uma série de medidas a curto, médio e longo prazo.
Fonte: G1
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