A Missão da ONU no Sudão do Sul (Unmiss) denunciou neste domingo (02) que cerca de 125 mulheres e meninas foram estupradas nos últimos dez dias numa região controlada pelas tropas governamentais no estado de Unity, no norte do país.
Violência já provocou fuga de um terço da população do país africano — Foto: Siegfried Modola/ Divulgação Médicos Sem Fronteira
De acordo com a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), algumas das vítimas teriam menos de 10 anos e outras, mais de 65. Mulheres grávidas também teriam sido estupradas, afirmou a ONG humanitária.
"Mulheres e meninas chegaram em massa à clínica dos MSF em Bentiu na última semana, depois de sobreviverem à horrível violência sexual", afirmou Ruth Okello, uma parteira que trabalha para a MSF no Sudão do Sul.
Segundo a MSF, os ataques ocorreram entre 19 e 29 de novembro, e não foi possível determinar quem os realizou.
As vítimas foram violadas, "chicoteadas, espancadas ou golpeadas com bastões ou armas" e ainda lhes foram retiradas as roupas, sapatos, dinheiro e cartões de comida.
"Há três anos venho trabalhando no Sudão do Sul, nunca vi um aumento tão dramático no número de pessoas que sobreviveram à violência sexual e que vieram ao nosso programa para obter ajuda médica", disse Okello.
"Nós tratamos de 104 sobreviventes de violência sexual nos primeiros dez meses deste ano, e ajudamos 125 durante a última semana", sublinhou.
Segundo a Unmiss, mulheres e meninas que estavam viajando a pé de seus vilarejos para a cidade de Bentiu foram atacadas por homens jovens vestidos com uniformes militares.
"Esses ataques violentos ocorreram numa área controlada pelo governo, e este tem a principal responsabilidade pela segurança dos civis", assinalou o chefe da organização, David Shearer, ao qualificar os estupros de ações "absolutamente abomináveis".
Shearer exigiu que as Forças Armadas garantam o controle sobre suas tropas. "A missão da ONU realizou reuniões urgentes com as autoridades e exigiu que elas tomassem medidas imediatas para proteger as mulheres e as meninas na região e para fazer com que os autores desses crimes terríveis sejam responsabilizados", declarou.
A Unmiss abriu uma investigação para identificar os autores dos estupros, enviou patrulhas à região e uma equipe de engenheiros para retirar vegetação das margens da estrada para evitar novos ataques.
O comitê de monitoramento do cessar-fogo no Sudão do Sul, pertencente à Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento no Leste da África (IGAD, na sigla em inglês), também anunciou a abertura de uma investigação.
O governo e os grupos rebeldes do Sudão do Sul assinaram um acordo de paz em 5 de agosto para tentar pôr fim ao conflito que começou no final de 2013, dois anos depois da independência do país.
O Sudão do Sul entrou em guerra civil em dezembro de 2013, em Juba, capital do país, quando o presidente Salva Kiir acusou Riek Machar, o seu ex-vice-presidente, do grupo étnico nuer, de planejar um golpe.
O conflito, marcado por atrocidades étnicas e pela violência, já provocou mais de 380 mil mortes, segundo um estudo recente, e levou mais de quatro milhões de sul-sudaneses, ou quase um terço da população, à fuga.
Fonte: G1
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