“To vendo a hr esse povo entregar nois. só dei um tiro no cachorro”. A transcrição ao lado, na íntegra, é apenas uma das várias mensagens encontradas no aparelho celular de um dos suspeitos presos por participação direta no assalto a um ônibus escolar que terminou com a morte do cabo da Polícia Militar Ildônio José da Silva, de 43 anos. O crime aconteceu no dia 16 deste mês na RN-117, entre as cidades de Caraúbas e Governador Dix-Sept Rosado, na região Oeste potiguar.
Mensagens encontradas estavam no celular de um dos suspeito preso pela PRF no dia seguinte ao assassinato do PM (Foto: Redes sociais )
O policial, que estava a caminho de uma faculdade em Mossoró, foi identificado pelos bandidos, retirado do veículo, deitado no chão e executado com vários tiros. O último disparo, na cabeça, foi de espingarda calibre 12.
Policial militar Ildonio José foi morto entre Caraúbas e Mossoró, interior do RN (Foto: Reprodução/redes sociais)
O celular foi apreendido no dia seguinte ao assassinato. O aparelho pertence a um dos três presos pela Polícia Rodoviária Federal durante a abordagem a um Gol preto na BR-110, em Campo Grande, cidade vizinha a Caraúbas. O motorista foi indiciado por favorecimento. Já os outros dois, a polícia acredita que estavam no assalto e que também participaram da execução.
Após ter acesso ao conteúdo das mensagens, o G1 procurou o delegado Sandro Régis, titular da Delegacia Regional de Patu. Foi ele o plantonista que fez o flagrante da prisão dos suspeitos. Além de confirmar a autenticidade das mensagens, o delegado ainda revelou que elas fazem parte do conjunto de provas que compõem o inquérito.
Mensagens
Abaixo, na íntegra, estão transcrições de trechos de mensagens apreendidas no celular do suspeito. São mensagens de WhatsApp datadas do dia 17/08, dia seguinte ao assassinato do cabo Ildônio.
Os nomes dos envolvidos, inclusive nomes e apelidos que são citados durante as conversas, o G1 suprimiu para não comprometer as investigações.
Parte das mensagens são do próprio suspeito durante uma conversa com uma pessoa que a polícia acredita ser uma irmã, momentos antes dele ser preso pela PRF. Essa irmã e a mãe, inclusive, foram presas nesta sexta-feira (24), em Caraúbas, suspeitas de darem apoio ao bando.
Irmã: “ainda bem que sabe”
Irmã: “mataram o caboco (xxx)”
Suspeito preso: “to ligeiro. mataram não”
Irmã: “a Meu Deus. você tava?”
Suspeito preso: “tava sim bandida. dei apoio aos parceirinhos”
Mais adiante, o suspeito e a irmã voltam a trocar mensagens:
Mensagens encontradas no celular do suspeito (Foto: Reprodução/G1)
Irmã: “ei fique ligeiro ai. Passou um Honda Civil de cor preto com dois homens de preto. É polícia. tá passando devagar”
Suspeito preso: “estão fardados?”
Suspeito preso: “prenderam meu pai inocente. venham atras de min seus fela da puta. Num sou eu que voçês querem seus vermes”
Irmã: “pare com isso. não poste isso. voçes estão dentro do quartinho?”
Suspeito preso: “estamos no muro, eu e boy (xxx). me arrume o celular da sobrinha”
Irmã: “certo. Vou colocar pelas telhas. a casa esta aberta para enganar os policiais”
Irmã: “o advogado disse que pai vai ser só interrogado e vai ser liberado”
Irmã: “mãe disse que vai arrumar um carro para colocar você e (xxx) e saírem daqui de caraúbas. mais tá fechado de polícia”
Irmã: “fique com a porta fechada. viu?”
Irmã: “você fica se amostrando com essas fotos com arma. identificaram você”
Suspeito preso: “chegou gente aí?”
Irmã: “fale baixo. da pra ouvir a zuada de você e (xxx) aqui. tá passando dois carros de polícia agora”
Suspeito preso: “era os que tava apitando?”
Irmã: “mãe tá terminando de ajeitar o almoço. ela vai deixar a comida e a água aí viu”
Suspeito preso: “to vendo a hr esse povo entregar nois. só dei um tiro no cachorro”
Suspeito preso: “dê um dinheiro ai pra (xxx) abastecer ae pra ele tirar noiz daki”
Suspeito preso: “vá deixar 100 a (xxx). ele tá la em frente a (xxx)”
Irmã: (xxx) já foi deixar. Ele vai abastecer o carro”
Em outra conversa, cujas mensagens também estão no celular do suspeito, um outro homem que a polícia confirma que ainda não foi preso fala que continua escondido no mato e conta que soube da prisão do irmão dele e das armas que a polícia apreendeu:
Foragido: “dá um jeito ai, nem que seja no mato. Ei tô no mato também”
Suspeito preso: “só. demorou primo. fica escondido ai”
Foragido: “enviou uma foto do (xxx) com o helicóptero”
Suspeito preso: “contato de Dr. (xxx)”
Foragido: “mo fi, voçes saia o mais rapido dai ou vocês se entreguem ou corra. viu?”
Foragido: “pode sair fora. quando tiver por aqui me avise”
Foragido: “omi, eu sei lá, só sei que foram lá e levaram foi tudo. meu irmão (xxx) e meus dois sobrinhos. meu sobrinho (xxx) disse umas besteiras lá, entregou tudo boy, disse umas besteiras la na delegacia. voçês saiam dai. ate as armas apreenderam”
Suspeito preso: mensagem apagada
Foragido: “doido é, (xxx) disse que era polícia demais, só bico vei. a polícia assanhou ate no inferno. a laranjada está toda pra min parceiro. (xxx) disse umas beiteiras na delegacia mermão. entregou todo o serviço”
Suspeito preso: “se ligue na idéia, minha irmã foi ali agora e viu o Fiat Uno de (xxx). Tá ligado?”
11 presos
Até o momento, a polícia já prendeu 11 pessoas por envolvimento direto no assalto e na morte do PM ou por favorecimento aos bandidos. Por participação direta, são três: dois homens e uma mulher. Os outros oito foram todos indiciados por terem, de alguma forma, colaborando com a quadrilha – seja tentando ajudar os bandidos a fugirem do cerco que a polícia montou na região, ou mesmo dando guarida aos criminosos.
Participação direta
Os dois homens presos suspeitos de terem participado diretamente do assalto e da morte do cabo Ildônio foram pegos pela polícia no dia seguinte ao assassinato. Foi durante uma abordagem da PRF a um Gol preto na BR-110, em Campo Grande, cidade vizinha a Caraúbas. Os dois, inclusive, já tinham mandados de prisão em aberto por assaltos e outros homicídios na região. Além da dupla, na ocasião também foi preso o motorista do veículo, que foi indiciado por favorecimento, já que a polícia entende que ele estava dando fuga aos bandidos.
Já a mulher, é uma estudante de Direito que foi presa no dia 19 na cidade de Caraúbas. Segundo o delegado, a universitária foi a única que não foi roubada pelos criminosos que assaltaram os passageiros do ônibus. Além disso, teria sido ela a pessoa que avisou os bandidos que havia um policial militar armado no veículo. "Ela, inclusive, é namorada de um dos criminosos que ainda está sendo procurado", acrescentou o delegado Sandro Régis.
Além da dupla e da universitária, outros seis homens, todos com mandados de prisão já expedidos pela Justiça, ainda estão sendo procurados pela polícia – todos suspeitos de também terem participado do assalto e da execução do PM.
Favorecimento
Por favorecimento, são oito os suspeitos detidos até agora. Um deles é o motorista do Gol, abordado pela PRF em Campo Grande. Outro, é um motociclista que foi preso em Assu. Este homem, segundo as investigações, estava a espera da dupla que o motorista do Gol estava conduzindo, e também foi indiciado por dar guarida aos criminosos.
Outro que foi indiciado por favorecimento é um homem que é conhecido como coiteiro, que é justamente como é chamada a pessoa que dá esconderijo a bandidos. No sítio onde mora, foram encontradas duas espingardas calibre 12. Uma delas, a polícia acredita ter sido a arma utilizada no disparo que foi dado na cabeça do PM.
E ainda tem um desempregado e uma outra mulher, ambos de Caraúbas, que foram presos no dia 22, e que também foram autuados por darem abrigo aos fugitivos.
No dia seguinte, também em Caraúbas, os policiais chegaram a um outro homem. Na casa dele foram apreendidos um revólver com seis munições e uma motocicleta roubada, e que também foi indiciado por dar refúgio à quadrilha.
E, por último, já nesta sexta-feira (24), foram presas outras duas mulheres. Elas são mãe e irmã de um dos homens presos no Gol, que a polícia acredita ter participação direta na execução do cabo Ildônio. “A mãe e a irmã também deram apoio aos criminosos. Inclusive, ficaram levando comida ao bando”, acrescentou o delegado.
Advogado investigado
A polícia ainda investiga um advogado que atua na região Oeste. Segundo o delegado Christiano Othon, que preside o inquérito que apura a morte do PM, o advogado é suspeito de ter repassado informações confidenciais à estudante de Direito, que é apontada como membro da quadrilha.
Fonte: G1
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