Nicolás Maduro, logo após o anúncio de vitória nas eleições deste domingo (20) (Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins)
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, foi reeleito para mais 6 anos de mandato após um dia de votação que teve horário ampliado, denúncias de fraude, tentativa de boicote da oposição e falta de reconhecimento por grande parte da comunidade internacional.
Segundo o Conselho Nacional Eleitoral, Nicolás Maduro venceu a eleição deste domingo (20) com 67,7% dos votos válidos. O chavista obteve 5.823.728 votos, com 96,6% das urnas apuradas até as 23h30.
Em seu discurso da viória, em frente ao Palácio Miraflores, em Caracas, Maduro disse que obteve um 'recorde histórico'. "Nunca antes um candidato presidencial venceu com 68% dos votos populares e nunca antes havia conseguido 47% do segundo candidato", afirmou.
Em segundo lugar, ficou o candidato da oposição Henri Falcón, com 1,8 milhão de votos (21%). Pouco antes do anúncio do resultados da eleição, Falcón declarou que não reconheceria o processo eleitoral deste domingo e exigiu a convocação de novas eleições.
O pastor evangélico Javier Bertucci obteve 925 mil votos (11%), e ficou em terceiro lugar. Bertucci também contestou a votação e afirmou que fez um balanço da presença do que chamou de "manchas vermelhas" perto das seções eleitorais "que poderiam ter influenciado os resultados".
Membros da guarda presidencial de Nicolás Maduro votam neste domingo (20) em Caracas (Foto: Juan Barreto/AFP)
Ainda de acordo com a presidente do Conselho Nacional Eleitoral, Tibisay Lucena, a votação teve a participação de 46% do eleitorado e um total de 8,6 milhões de votos.
Diálogo
Ainda em seu discurso, após o anúncia do resultado das eleições, Maduro convocou os três candidatos derrotados para um diálogo a fim de atender as diferenças e enfrentar a crise do país.
"Henri Falcón, Javier Bertucci (...) todos os líderes da oposição, que nos reunamos, nos encontremos e falemos da Venezuela, convido-os aqui e assumo a responsabilidade deste chamado", disse Maduro nos arredores do palácio de Miraflores, em frente a centenas de simpatizantes.
O líder, eleito com um das porcentagens de participação mais baixa da história venezuelana, repudiou a posição do candidato opositor Henri Falcón de não reconhecer o pleito.
Eleições em meio à crise
Desde 2013, quando assumiu o governo, a Venezuela sofreu ondas de protestos violentos, que deixaram cerca de 200 mortos, e uma derrocada socioeconômica.
Adversários de Maduro o acusam de empurrar o país para o abismo com medidas econômicas disparatadas, de submeter o povo à fome e de ser um "ditador", sustentado por militares.
No entanto, ele diz ser um "presidente democrático" e "vítima" dos Estados Unidos e a "guerra econômica da direita", à qual culpa pela hiperinflação e falta de comida.
Veja como foi o processo eleitoral desta vez:
Votação nos acréscimos
As cerca de 14,5 mil urnas deveria ser fechadas oficialmente às 18h (19h de Brasília), mas diversos colégios eleitorais continuaram abertos por horas depois do prazo.
Maduro havia indicado mais cedo que os locais de votação continuariam a atender as pessoas que estavam na fila, para "garantir o direito" ao sufrágio, mas colégios sem filas também seguiram abertos aguardando um sinal de Caracas.
Abstenções
Cerca de 20,5 milhões de eleitores estavam registrados para votar, mas o comparecimento foi de 32% (até as 18h), segundo fontes do governo, o que significaria aproximadamente pouco mais de 6 milhões.
No fim do dia, Maduro ainda ordenou ao partido do governo que fornecesse meios de transporte para sua militância para se deslocar às urnas, após relatos sobre baixa participação. O voto não é obrigatório no país.
Carnê da pátria é necessário para ter acesso aos programas sociais do governo de Nicolas Maduro (Foto: Fernando Llano/AP)
Denúncias de fraude
Agências internacionais e membros da oposição apontaram irregularidades nos chamados "pontos vermelhos", barracas instalados pelo partido de Maduro, com objetivo de checar quem votou por meio do "carnê da pátria" - usado para ter acesso aos programas sociais do governo.
Durante a campanha, Maduro chegou a prometer "prêmios" para quem participar da eleição. Não há informação oficial, mas testemunhas afirmaram que o prêmio seria de 10 milhões de bolívares - cerca de US$ 13 no mercado paralelo.
O ex-pastor evangélico Javier Bertucci, que concorreu contra Maduro, afirmou ter recebido mais de 1.400 denúncias de irregularidades, todas elas documentadas.
Venezuelanos protestam em Miami (Foto: Joe Skipper/Reuters)
Desconfiança internacional
Estados Unidos, Canadá, União Europeia (UE) e vários países latino-americanos afirmam que a eleição não é justa, nem transparente, e acusam Maduro de sufocar a democracia.
O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, classificou as eleições na Venezuela como "fraudulentas" e disse que elas "não mudam nada" no cenário do país.
Os EUA anteciparam há um mês que não reconheceriam o resultado do pleito de hoje como estava sendo preparado, e o vice-presidente do país, Mike Pence, pediu recentemente que Maduro suspendesse as eleições, consideradas "falsas".
Combinação de fotos mostra candidatos presidenciais na Venezuela: Nicolás Maduro, Henri Falcón e Javier Bertucci (Foto: Marco Bello/ Carlos Garcia Rawlins/ Carlos Jasso/Reuters)
Boicote da oposição
A coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) se recusou a participar por considerar o processo uma "fraude" para perpetuar Maduro no poder. Mas o ex-chavista Henri Falcón ignorou a determinação e foi o principal rival do presidente nas urnas.
Os dois maiores rivais de oposição já estavam impedidos de concorrer: Leopoldo Lopez está em prisão domiciliar e Henrique Capriles está impedido de se candidatar a qualquer cargo por um período de 15 anos.
Depois de votar em uma escola da zona oeste de Caracas, Maduro advertiu que "a vontade do povo venezuelano será respeitada aqui e no mundo". Também pediu o fim da "feroz campanha" dos Estados Unidos e de vários países contra seu governo.
Clima
Tirando todo o debate político, a sensação nas ruas é de apatia: o cenário de apagões, falta de comida, remédios, transporte e água, hiperinflação, com um salário mínimo que permite a compra de um quilo de leite em pó, provocou uma emigração em massa nos últimos quatro anos.
Maduro, no entanto, promete prosperidade. "A economia que existe hoje não nos serve porque foi infectada de neoliberalismo", disse o governante, que alega não ser um "novato" como em 2013.
Apesar da reprovação de 75% dos venezuelanos a sua gestão, Maduro se beneficia dos eleitores leais ao falecido Hugo Chávez (que foi presidente de 1999 a 2013) e da dependência de setores populares de programas sociais e clientelistas.
Protestos
Em várias cidades ao redor do mundo, venezuelanos convocaram protestos contra as eleições. Muitos culpam o governo socialista pelo colapso, enquanto Maduro atribui a situação a uma "guerra econômica" da oposição de direita aliada a Washington.
Neste domingo, o papa Francisco rezou pela Venezuela: "Peço ao Espírito Santo que dê a todo o povo venezuelano, a todos, governantes, povo, a sabedoria para encontrar o caminho da paz e da unidade".
Fronteira fechada com Brasil
A fronteira com o Brasil foi fechada ainda no sábado, para "resguardar a soberania territorial" da Venezuela e para que as Forças Armadas controlem todo território nacional, segundo explicou o cônsul-adjunto da Venezuela em Roraima, José Martí Uriana.
A medida fez com que venezuelanos procurassem rotas clandestinas para comprar mantimentos no Brasil.
Fonte: G1
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