Palestinos correm para se proteger de bombas de gás atiradas por tropas israelenses na fronteira entre Gaza e Israel após protestos contra a inauguração da embaixada dos EUA em Jerusalém (Foto: Mohammed Abed/AFP)
Cinquenta e oito palestinos morreram e mais de 2200 ficaram feridos em confrontos com soldados israelenses nesta segunda-feira (14) na fronteira entre a Faixa de Gaza e Israel, anunciaram autoridades do território palestino.
Os confrontos começaram poucas horas antes da inauguração da embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém, iniciada pontualmente às 16h locais (10h em Brasília).
A cerimônia de abertura foi conduzida pelo embaixador americano em Israel, David Friedman. Em uma mensagem gravada em vídeo, o presidente Donald Trump disse que era necessário "admitir o óbvio": que a capital de Israel é Jesusalém. Também afirmou que os EUA estão comprometidos com a paz na região.
"Os EUA continuam totalmente comprometidos em facilitar um acordo de paz duradouro", disse.
A data marca o dia em que o Estado de Israel completa 70 anos. Os palestinos protestam na fronteira desde o dia 30 de março, na chamada Grande Marcha do Retorno, que evoca o direito dos palestinos de voltarem para os locais de onde foram removidos após 1948, pela criação do Estado de Israel.
Bejnamin Netanyahu acena ao chegar para a inauguração da Embaixada de Israel nos EUA (Foto: Reuters/Ronen Zvulun)
Milhares de palestinos se reuniram nesta segunda em diversos pontos próximos à fronteira e pequenos grupos se aproximaram da cerca de segurança vigiada por soldados israelenses. Os grupos tentaram avançar contra a barreira e lançaram pedras na direção dos soldados, que responderam com tiros.
A Autoridade Palestina acusou Israel de cometer um "massacre horrível" na fronteira. Yusuf al-Mahmud, porta-voz da autoridade, pediu em um comunicado "uma intervenção internacional imediata para frear o massacre horrível em Gaza cometido pelas forças israelenses de ocupação contra nosso heroico povo".
Manifestantes palestinos são vistos durante confronto com tropas israelenese na fronteira entre Israel e Gaza após protestos contra a inauguração da embaixada dos EUA em Jerusalém (Foto: Abraheem Abu Mustafa/Reuters)
As forças de segurança israelenses já vinham se preparando para os protestos de dezenas de milhares de palestinos nesta segunda tanto na Faixa de Gaza, submetida ao bloqueio israelense, como na Cisjordânia ocupada.
No domingo e nesta segunda-feira, o exército israelense lançou panfletos em Gaza para advertir os palestinos que participam nas manifestações de que se expõem ao perigo e que não permitiria danos à cerca de segurança ou ataques aos soldados ou aos civis israelenses vizinhos do território palestino. De acordo com o jornal israelense "Haaretz", milhares de policiais estão posicionados na cidade.
Palestino lança pedras contra soldados israelenses durante na fronteira da protesto na Faixa de Gaza com Israel (Foto: Mohammed Salem/Reuters)
O presidente americano Donald Trump disse no Twitter que esta segunda é "um grande dia para Israel". Trump não fez referência à violência e pediu a seus seguidores que assistam ao vivo a cerimônia de inauguração da sede diplomática.
O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, disse que estava "profundamente emocionado e profundamente grato".
"Que dia glorioso. Lembrem este dia. Que dia histórico!", afirmou.
Entre as personalidades israelenses também estavam presentes o presidente de Israel, Reuven Rivlin, e o prefeito de Jerusalém, Nir Barkat. Entre a delegação americana, Ivanka Trump e Jared Kushner, filha e genro e conselheiros do presidente americano, e Steven Mnuchin, secretário de Tesouro dos EUA.
Decisão polêmica
A decisão de Trump de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel e de transferir a representação diplomática de Tel Aviv para essa cidade foi muito polêmica, criticada pela União Europeia e por países árabes porque rompe com o consenso internacional de não reconhecer a cidade como capital da Palestina ou de Israel até que um acordo de paz seja firmado entre as duas partes.
Palestinas reagem aos efeitos de bombas de gás lacrimogêneo lançadas contra a Faixa de Gaza durante confronto nesta segunda-feira (14) (Foto: Ibraheem Abu Mustafa/Reuters)
Numa primeira fase, a embaixada ficará dentro da seção de vistos do consulado-geral dos EUA em Jerusalém. O imóvel sofreu adaptações para receber o embaixador Friedman e sua equipe. Em até um ano, um novo anexo será construído para ampliar o espaço da embaixada. O objetivo é construir uma sede própria para a representação diplomática em até dez anos.
Bejnamin Netanyahu acena ao chegar para a inauguração da Embaixada de Israel nos EUA (Foto: Reuters/Ronen Zvulun)
A nova embaixada está no bairro de Arnona, em Jerusalém Ocidental, num prédio construído em 2010. Parte do terreno era considerada, até a Guerra dos Seis Dias (1967), terra de ninguém.
A liderança da Autoridade Palestina se recusa a conversar com os representantes do governo Trump desde o anúncio da transferência da embaixada, nem sequer com o genro do presidente, Jared Kushner, que havia sido designado para estimular o processo de paz.
Entenda a disputa
No conflito entre Israel e palestinos, o status diplomático de Jerusalém, cidade que abriga locais sagrados para judeus, cristãos e muçulmanos, é uma das questões mais polêmicas e ponto crucial nas negociações de paz.
Soldados israelenses são vistos nesta segunda-feira (14) durante confronto com manifestantes na Faixa de Gaza (Foto: Baz Ratner/Reuters)
Israel considera Jerusalém sua capital eterna e indivisível. Mas os palestinos reivindicam parte da cidade (Jerusalém Oriental) como capital de seu futuro Estado.
Apesar de apelos por parte de líderes árabes e europeus, e de advertências que a decisão poderia desencadear uma onda de protestos e violência, Trump resolveu adotar uma nova abordagem sobre o tema, considerando que mesmo com a postura anterior dos EUA, a paz na região até hoje não foi atingida.
EUA reconhecem Jerusalém como capital de Israel (Foto: Arte/G1)
Atualmente, a maioria dos países mantém suas embaixadas em Tel Aviv, justamente pela falta de consenso na comunidade internacional sobre o status de Jerusalém. A posição da maior parte da comunidade internacional é a de que o status de Jerusalém deve ser decidido em negociações de paz.
Jihad convocada
O líder da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, convocou no domingo a jihad contra os EUA, ao afirmar que a instalação da embaixada do país em Jerusalém é a prova de que as negociações e o "apaziguamento" não ajudaram os palestinos.
Palestino ferido em confronto na fronteira da Faixa de Gaza com Israel nesta segunda-feira (14) é transportado (Foto: Said Khatib/AFP)
Em um vídeo de cinco minutos com o título titulado "Tel Aviv também é um território dos muçulmanos", o médico egípcio que assumiu a liderança da Al-Qaeda após a morte de seu fundador, Osama bin Laden, em 2011, chama a Autoridade Palestina de "vendedores da Palestina" e convoca seus adeptos a pegar em armas.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, "foi claro e explícito e revelou a verdadeira face da Cruzada moderna (...) O apaziguamento não funciona com ele, e sim a resistência (...) pela via da jihad", afirmou Al-Zawahiri de acordo com uma transcrição do grupo SITE, que monitora os sites de internet de movimentos radicais islâmicos.
Fonte: G1
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