O Ministério Público do Paraná (MP-PR) deflagrou, na manhã desta quinta-feira (5), uma operação em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, que investiga pagamento de propina a vereadores e compra de terrenos superfaturados. Quinze pessoas tinham sido presas, até a última atualização desta reportagem.
O vereador e ex-prefeito Wilson Roberto David da Mota, o Betão – que é ex-prefeito – está entre os detidos. Outro ex-prefeito também é alvo da operação: Olizandro José Ferreira. Conforme o MP, ele está foragido.
A defesa nega. O advogado Luiz Gustavo Pujol informou que o cliente está viajando.
Câmara Municipal de Araucária é alvo da operação (Foto: Amanda Menezes/RPC)
Há um mandado de prisão contra o ex-prefeito Rui Sérgio de Souza, contudo, ele já está preso. Rui Sérgio de Souza foi condenado a 50 anos de prisão por crimes contra a administração.
De acordo com o MP-PR , além dos ex-prefeitos, funcionários da prefeitura e vereadores estão entre os alvos da operação, batizada de "Sinecuras".
Ao todo, foram expedidos 22 mandados de busca e apreensão – todos foram cumpridos, de acordo com o MP – e mais 21 ordens de prisão na Câmara Municipal de Araucária, em outros locais da cidade e também na capital paranaense.
A operação foi realizada com o apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
São 19 prisões preventivas, que é por tempo indeterminado, e duas temporárias. Edson Casagrande, ex-secretário do governador Beto Richa (PSDB), e os vereadores Vanderlei de Oliveira, Francisco Carlos Cabrini também foram presos.
Gaeco cumpre mandados na Câmara Municipal de Araucária (Foto: Amanda Menezes/RPC)
As prisões temporárias foram decretadas contra um empresário e uma ex-diretora financeira da Companhia de Habitação (Cohab) de Araucária.
As preventivas atingem dois ex-prefeitos, três vereadores, sete ex-vereadores, um ex-secretário, três ex-servidores municipais, um empresário e dois corretores de imóveis.
As buscas e apreensões foram cumpridas em três gabinetes da Câmara Municipal de Araucária; em uma empresa em Curitiba; e em 18 residências – uma em Colombo, uma em Pinhais, duas em Curitiba e 14 em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba.
O que dizem os citados
Os advogados de Vanderlei de Oliveira e de Francisco Carlos Cabrini disseram que estão se inteirando dos fatos e que os clientes não oferecem perigo à sociedade, nem à instrução criminal. Eles ainda afirmaram que os parlamentare estão dispostos a colaborar nas investigações.
A assessoria de Betão informou que não vai se manifestar, no momento, sobre o ocorrido.
O advogado de Olizandro José Ferreira afirmou que a prisão é desnecessária e que o o ex-prefeito não atrapalhou as investigações. "Olizandro tem comparecido a todas as audiências nas ações civis públicas que tramitam no Fórum de Araucária e dizem respeito a questões que envolvem à sua gestão na prefeitura", pontuou em nota.
A situação dos parlamentares envolvidos na operação ainda será analisada pelo Legislativo, segundo a Casa. O G1 tenta contato com as defesas dos outros citados.
Operação foi deflagrada na manhã desta quinta-feira (5) (Foto: Amanda Menezes/RPC)
A operação
A operação investiga, entre outros crimes, pagamentos a três vereadores e a sete ex-vereadores. Segundo o MP, esses pagamentos foram feitos por ao menos três empresas que tinham contratos com a Prefeitura para a compra de apoio a projetos do Executivo de interesse delas.
Os valores pagos somam aproximadamente R$ 120 mil mensais, conforme as investigações.
Ainda conforme o MP, o acordo em troca de apoio permitia aos vereadores a indicação de pelo menos cinco servidores para ocupação de cargos em comissão na prefeitura - alguns vereadores chegaram a indicar ocupantes para 11 cargos comissionados.
A situação durou de janeiro de 2013 a julho de 2016, totalizando pagamentos de aproximadamente R$ 5 milhões, segundo as investigações. Os três vereadores que continuam nos cargos tiveram seus mandatos suspensos.
Outra denúncia investigada na operação é a aquisição de um imóvel com valor superfaturado, por R$ 1,84 milhão, pela extinta Companhia de Desenvolvimento de Araucária (Codar), em agosto de 2016. Avaliações do imóvel indicaram um valor de, no máximo, R$ 1,1 milhão.
A área estava sendo objeto de disputa judicial, por parte de terceiros que reivindicavam sua posse.
Foram impostas, então, medidas alternativas à prisão aos proprietários do terreno - como o comparecimento mensal em Juízo, a proibição de se ausentar da cidade sem autorização e a proibição de manter contato com os envolvidos nos fatos investigados.
Por envolvimento nesse fato, os dois ex-prefeitos, os servidores ligados à Codar e os proprietários do imóvel tiveram bens sequestrados por ordem da Justiça.
Também é investigada na operação a permuta de sete imóveis de empresas privadas por dois imóveis da Cohab, em meados de 2015, havendo a suspeita de que o então prefeito tenha recebido propina em dinheiro e um imóvel em Curitiba para facilitar a permuta.
As negociações envolvem ainda, conforme o MP, o pagamento de propina por um empresário. Isso para que uma pessoa indicada por ele ficasse responsável pelo setor de informática da prefeitura. A intençãoi era comandar e dirigir licitações na área.
Apesar da nomeação do funcionário indicado, o plano de direcionamento das licitações não foi adiante; o funcionário foi exonerado.
Três fases
A operação, conforme as Promotorias de Justiça de Araucária, foi dividida em três fases: "Mensalinho", "Alqueire de Ouro" e "Vida Fácil".
A "Mensalinho" está relacionada a pagamentos aos vereadores de Araucária, enquanto a "Alqueire de Ouro" remete-se à compra do terreno superfaturado pela Companhia de Desenvolvimento do Município de Araucária (Codar).
Já a "Vida Fácil" envolve propina a uma construtora e terrenos da Companhia de Habitação Popular (Cohab) de Araucária.
Para chegar aos alvos, as promotorias contaram com colaborações premiadas e quebras de sigilos bancários. Além disso, há imagens de acertos para os vereadores envolvidos, que embasaram a operação.
Os mandados foram expedidos pelo juiz Sergio Bernardinetti, da Vara Criminal de Araucária.
Gaeco apoiou a operação deflagrada nesta quinta-feira (5) pelo MP-PR em Araucária (Foto: Weliton Martins/RPC
Fonte: G1
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