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quarta-feira, fevereiro 14, 2018

Um ano após acidente, Paraíso do Tuiuti dá volta por cima e é vice-campeã do carnaval

Um ano após um carnaval de acidentes e tristes lembranças, a Paraíso do Tuiuti deu a volta por cima e conquistou o vice-campeonato em 2018. A tragédia que causou uma morte e deixou 19 feridos, atropelados por um carro alegórico desgovernado, ainda está fresca na memória e tornou ainda mais emocionante o resultado anunciado nesta Quarta-feira de Cinzas (14). Uma espécie de renascimento da escola de São Cristóvão, que nunca havia subido ao pódio do Grupo Especial.

“A Tuiuti veio de uma terra arrasada para provar que com trabalho, honestidade e dedicação pode ser competitiva“, comemorou Thiago Monteiro, um dos diretores de carnaval da Tuiuti.

Carro do Paraíso do Tuiuti (Foto: Marcos Serra Lima/G1)
Carro do Paraíso do Tuiuti (Foto: Marcos Serra Lima/G1)

Críticas na Avenida
Com o enredo "Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”, a Paraíso do Tuiuti, do carnavalesco Jack Vasconcelos, levou à Sapucaí críticas à reforma trabalhista em seu desfile na madrugada de segunda (12).

No último carro, batizado de "Neo tumbeiro", o destaque no alto foi um "presidente vampiro" do neoliberalismo, representado pelo professor de história Léo Morais. Assistente do carnavalesco, ele não admite abertamente que o vampiro representava Michel Temer, mas afirmou que é a favor dos protestos contra o presidente.

Outra crítica do carnavalesco foi colocar na avenida uma ala com fantasias de "manifestantes fantoches", ironizando os que foram às ruas vestindo camisas do Brasil pedindo impeachment.

Mestre Ricardinho comemora vice-campeonato (Foto: Andressa Gonçalves / G1)
Mestre Ricardinho comemora vice-campeonato (Foto: Andressa Gonçalves / G1)

“A escola fez uma crítica que está entalada na goela do brasileiro. Os empresários e governantes sempre ficam fazendo o povo de escravo. Mas nós estamos felizes com o segundo lugar por mostrar para o mundo que não somos escravos. A bateria não foi o que esperávamos ainda. Mas a gente ainda não está pensando no ano que vem, agora é comemorar”, afirmou o mestre Ricardinho, um os diretores da bateria.

Muito emocionados, os integrantes comemoraram o vice como se fosse um título. “É muita emoção. Isso é fruto de muito trabalho que um grupo que começou o ano rebaixado e a gente chega a vice-campeão do carnaval. Parabéns à Beija-Flor, parabéns a todas as escolas“, disse Thiago.

Ala da Tuiuti ironiza manifestantes "fantoches" (Foto: Reprodução/TV Globo)
Ala da Tuiuti ironiza manifestantes "fantoches" (Foto: Reprodução/TV Globo)

O título de vice-campeã pegou muitos moradores do bairro de São Cristóvão de surpresa. Por volta de 17h, o entorno da escola Paraíso do Tuiuti ainda estava deserto. Mas dentro da quadra, integrantes da escola já comemoravam a notícia. O trânsito na Rua Figueira de Mel foi fechado às 17h30.

Moradora da região, Joyce Pimenta se emocionou ao falar da luta depois do último carnaval. “Nós moramos na comunidade do Tuiuti. Quando soubemos que a escola estava precisando de ajuda, a gente desceu para o barracão para colocar a mão na massa (...) Somos uma comunidade unida, que lutou muito. Até na concentração a gente lutou. Eu entrei na avenida com a minha roupa branca toda suja, porque eu estava ajudando em mil lugares, tudo para o carnaval sair. E agora a gente vê um resultado trilhado desde maio”, disse.

Andréa Maria Laurino disse que espera há, pelo menos, sete anos ver a escola ser vista.

“Esse grito já era para ter saído há muito tempo. Nós não somos vice, nós somos campeões. Porque foi merecido. Foi suor de um ano.”
Edson Reis chegou apressado para começar as vendas na calçada da escola. “Agora todo o encalho do ano passado vai embora. Trouxe 100 blusas, mas com certeza vai acabar rápido. Cada uma custa R$ 50. Vai ser sucesso”, garante.

Relembre o acidente
Um carro alegórico da Tuiuti deixou 20 pessoas feridas no o primeiro dia de desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Rio em 2017 – 26 de janeiro de 2017, domingo de carnaval.

O problema ocorreu quando o carro ficou desgovernado logo na entrada no sambódromo da Marquês de Sapucaí, na altura do Setor 1 da arquibancada. Pessoas ficaram prensadas na grade que separa a pista da arquibancada.

A radialista Elizabeth Ferreira Joffe, de 55 anos, também conhecida como Liza Carioca, morreu cerca de dois meses após o acidente. No dia do acidente, em fevereiro, ela chegou a ser levada para o Hospital Souza Aguiar, mas depois foi transferida para o Hospital Quinta D'Or, em São Cristóvão, onde teve anemia e pegou uma infecção bacteriana. Segundo a família de Liz, ela foi submetida a sete cirurgias após o acidente.

Outra vítima do acidente que ficou em estado grave é a fotógrafa Lúcia Regina de Mello Freitas, de 56 anos, que passou quatro meses internada. Ela teve fratura exposta na perna e ficou em estado grave na UTI do hospital Miguel Couto. 'A luta foi pra eu ficar com a minha perna e eu estou indo para a casa com ela', festejou.

A Polícia Civil indiciou quatro pessoas pelo acidente no domingo de carnaval. O motorista Francisco de Assis, o engenheiro Edson Gaspar e os diretores de carnaval, Leandro Azevedo, e de alegorias, Jaime Benevides. Eles responderão por imperícia, imprudência e negligência. O motorista foi indiciado também por lesão corporal culposa.

O motorista do carro pediu perdão às vítimas do acidente e disse não ter tido culpa no episódio. Dois filhos dele afirmaram que o pai não sabia que o carro alegórico dirigido por ele seria acoplado a outro veículo.

Fonte: G1

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