O sargento da Aeronáutica Lopes Junior, de 40 anos, está sendo investigado pela Polícia Civil de Roraima por suspeita de ter aplicado golpes de estelionato milionários em dezenas de pessoas no estado.
Segundo a Polícia Civil, ele firmava contratos para construção de imóveis, mas não executava as obras. Os golpes ultrapassam R$ 6 milhões, de acordo com o delegado do caso, Rodrigo Gomide, da Delegacia de Repressão a Crimes contra a Administração Pública.
A empresa usada para a fraude, segundo apontam as investigações, era a construtora RWA, localizada na Avenida Getúlio Vargas, no Centro de Boa Vista.
Procurado pela reportagem, o sargento negou envolvimento nos golpes e disse que nunca foi dono da construtora. "Essas pessoas [vítimas] têm de provar", disse.
Embora a legislação não permita que militares ativos tenham empresas em seus nomes, as investigações sustentam que a construtora era administrada pelo sargento por intermédio de um sócio, representante legal da firma e supostamente primo dele. A empresa teria sido fechada em meados de dezembro do ano passado.
O militar e o sócio teriam feito pelo menos 30 vítimas que buscavam realizar o sonho da casa própria, informou o delegado. As fraudes se iniciaram em fevereiro de 2017. O G1 tentou contato com o sócio do sargento, mas as ligações e mensagens não foram respondidas.
Entre as vítimas do sargento, que atua na Ala 7, antiga Base Aérea de Boa Vista, estão políticos, servidores federais e até um juiz. Os danos causado às vítimas variam de R$ 80 mil a R$ 1,7 milhão.
“Ouvimos muitas vítimas. Entre elas há policial federal, magistrado, deputados estaduais, auditor fiscal, defensor público. Só uma teve o prejuízo de R$ 1,7 milhão. Ela pagou pela construção da casa e foi lesada por esse sargento”, declara o delegado.
Para ganhar confiança dos clientes, Gomide afirma que o sargento dizia ser piloto de avião. No entanto, ele trabalha no setor de manutenção de aeronaves.
“Teve ocasião em que ele estava com vítimas e quando passava um avião ele dizia que aquele horário específico era para ele estar pilotando, sendo que ele não é piloto”, revela.
Segundo Gomide, diversas testemunhas foram ouvidas e mais vítimas do suposto estelionato envolvendo o sargento e o sócio dele ainda poderão ser localizadas.
"Acredito que há mais [vítimas], entretanto, algumas fazem algum tipo de pressão nele e conseguem receber, por isso não procuram a delegacia”, emenda o delegado, que recomenda a outras vítimas que procurem a unidade policial para formalizarem a denúncia contra o militar e o dono da construtora.
Golpes em clientes e funcionários
Uma das vítimas disse ao G1 que a obra contratada com o suspeito e o primo dele, que era representante oficial da empresa, foi iniciada, mas menos de um mês após a negociação o empreendimento foi parado.
“Quando o procuramos ele alegava que a empresa não tinha mais condições de continuar com a construção porque não tinha mais recursos, mas ele continuava fechando contrato com outras pessoas”, conta.
Ainda de acordo com a vítima, o sargento era quem fechava os contratos, entretanto, quando era cobrado, exigia que as vítimas procurassem outros funcionários da construtora. “Dizia que não era o responsável e que havia sido enganado por pessoas”, diz.
Uma mulher contou ter firmado um acordo com a empresa no valor de R$ 180 mil. “Dei de entrada R$ 30 mil em agosto do ano passado. Só vim saber que a empresa faliu quando retornei de viagem. Procurei ele e outros funcionários, mas não atendiam minhas ligações”, explica, afirmando que vai à Justiça para recuperar o dinheiro perdido.
Ela disse ainda que o militar não figurava formalmente nos contratos, mas usava outras pessoas para isso. “Ele não podia aparecer formalmente nos contratos, por isso havia outros funcionários. Mas era ele quem decidia tudo”, declarou.
Vítimas conversavam com o militar por WhatsApp questionando o andamento das obras. (Foto: Arquivo pessoal)
Embora negue que tenha participado de qualquer negociação na RWA, uma mulher trocou mensagens com o sargento em outubro do ano passado, dizendo que teve prejuízo de R$ 100 mil.
Nas conversas, ela pergunta a Junior se a construção da casa havia retornado e ele responde que "ainda não".
Em outra conversa, a vítima fala com a esposa do militar. Ela exercia a função de secretária na RWA. A vítima questiona se a obra retornou e a mulher replica: "Não retornou não. São pedreiros que estão dormindo lá [construção]".
Outra vítima, um homem revelou ter dado uma picape no valor de R$ 80 mil como entrada para a construção da casa própria. De acordo com ele, o sargento se desfez do carro, mas não estava pagando os boletos como ficou acordado e nem deu andamento à obra da residência. “Tomei o carro de volta. Sabia que tinha caído em um golpe”, acentua.
Suriname Bastos, ex-namorada do suspeito disse também que após o fechamento da empresa ele deixou de pagar os salários de pelo menos 150 pessoas. "Ele tinha pedreiro, carpinteiro, pintor. Todos ficaram sem receber”, assegura, acrescentando que enquanto esteve com o militar não sabia que ele aplicava os golpes e nem que ele já era casado.
Ela afirma ainda que o primo do militar era quem assinava os papéis, mas o sargento é quem decidia tudo na empresa. “ Ele [primo] só assinava os documentos. Era um laranja”, diz Suriname Bastos lembrando que o militar não poderia ser dono da construtora por ser militar.
Denúncias foram feitas em delegacias e no MPE
Diversos boletins foram feitos por vítimas no 1º Distrito Policial e em outras delegacias. Conforme os documentos, elas relataram que pagaram ou deram algum veículo como entrada para a construção da casa e foram enganadas pelo militar. Todas declaram que negociaram diretamente com o sargento.
Denúncias também foram feitas na Procuradoria de Justiça do Consumidor e Cidadania do Ministério Público de Roraima. A reportagem entrou em contato com a instituição para saber detalhes acerca do andamento das denúncias, mas não obteve resposta.
Base Aérea acompanha investigações
Em nota, a assessoria de comunicação social da Ala 7 da Base Aérea de Boa Vista informou que foi instaurado um processo administrativo a fim de averiguar denúncias feitas contra o militar; A investigação deve ser concluída no início de fevereiro.
A reportagem fez diversas ligações e mandou mensagens para o primo do sargento, que seria dono legalmente da construtora, e não obteve êxito.
Sargento nega envolvimento em golpe
Ao G1 , o sargento negou ter qualquer envolvimento em golpe milionário. Ele afirmou que nunca foi dono da construtora.
"Essas pessoas [vítimas] me procuram porque não conseguem falar com o dono da construtora [primo]. A empresa sempre foi dele", alega, citando não saber os motivos de ser apontado como golpista e não ter negociado nenhuma venda de construção na RWA.
Ainda de acordo com ele, embora comparecesse na empresa, não exercia função alguma e nem assinava documentos.
"Só ajudava quando ele [dono] pedia", diz, não especificando qual tipo de ajuda prestava. "Essas pessoas [vítimas] têm de provar".
O sargento disse que desconhece qualquer investigação feita pela Polícia Civil. O militar acrescentou ainda que está de férias, por isso não tem ido à Ala 7. Ao ser questionado sobre os diversos boletins de ocorrência contra ele nas delegacias de Boa Vista, o sargento se recusou a comentar.
Fonte: G1
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