A Polícia Federal deverá pedir a prorrogação do prazo de um inquérito no qual o presidente Michel Temer é suspeito de beneficiar a empresa Rodrimar na renovação de concessões no Porto de Santos, num decreto editado em maio do ano passado.
O prazo termina no próximo dia 20, mas de acordo com investigadores, apesar de a apuração ter avançado, ainda é preciso esclarecer alguns pontos, há diligências em andamento, e várias outras pendentes.
Recentemente, peritos da Polícia Federal sugeriram ao delegado responsável que peça a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico dos investigados, inclusive de Temer. Além disso, depois do carnaval, o ex-diretor da J&F Ricardo Saud e um dos donos da empresa, Joesley Batista vão prestar depoimento e a expectativa é que eles revelem outros detalhes do caso.
A renovação do prazo e a autorização para medidas como a quebra de sigilos dependem do relator do inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso.
O inquérito foi aberto em maio do ano passado com base na delação premiada de Joesley e Saud. Telefonemas gravados com autorização do STF mostraram auxiliares de Temer conversando sobre o decreto – entre eles, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, famoso por ter sido flagrado com a mala de R$ 500 mil entregue pela J&F.
Rocha Loures aparece em uma conversa gravada com Gustavo Rocha, subchefe para assuntos jurídicos da Casa Civil, defendendo interesses de empresas que atuam nos portos brasileiros. Eles falam sobre uma mudança no decreto dos portos que poderia beneficiar também quem conseguiu concessões antes de 1993, caso da Rodrimar.
Gustavo, no entanto, alertou que Temer ficaria exposto demais e o decreto dos portos foi assinado sem incluir as concessões anteriores a 1993. Por isso, a defesa do presidente diz que não houve benefício à empresa no decreto e, portanto, não há corrupção no episódio. A Rodrimar também nega irregularidades e obtenção de benefício com o decreto.
Permanece a suspeita de que Rocha Loures agia em defesa dos interesses da Rodrimar dentro do governo.
Na última sexta (9), o diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, deu uma entrevista em que, segundo a agência Reuters, indicou uma tendência de arquivamento do inquérito contra Temer. Na avaliação do chefe da PF, as investigações não confirmaram pagamento de propina pela empresa Rodrimar.
Na entrevista, ele disse também que o delegado responsável pelo caso, Cleyber Malta Lopes, pode até ser investigado, se houver uma reclamação formal da Presidência da República.
Reação
As declarações de Segovia tiveram grande repercussão, principalmente entre delegados e associações de integrantes da Polícia Federal. Eles criticaram os comentários sobre uma investigação em andamento e consideram que a as explicações de Segovia até o momento são insuficientes.
No Planalto, a avaliação é que a entrevista reacendeu o assunto, embora auxiliares do presidente afirmam que não se cogita a saída do diretor-geral da PF.
As declarações de Segovia também provocaram reação do ministro Luís Roberto Barroso, relator do inquérito dos portos no Supremo. Ele cobrou explicações do diretor-geral, que na próxima segunda (19) terá que ir pessoalmente à Corte.
No despacho, o ministro disse que o inquérito tem diversas diligências pendentes, razão pela qual não deve ser objeto de comentários públicos.
Fonte: G1
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