Preso neste sábado (10) em Boa Vista suspeito de incendiar casas de venezuelanos, o guianense Gordon Fowler, de 42 anos, disse em depoimento à Polícia Civil que não se arrepende do que fez. Cinco pessoas ficaram feridas nos ataques, incluindo uma menina de 3 anos.
O suspeito, que é andarilho, foi ouvido pelo delegado do caso, Cristiano Camapum, logo após ser preso. Ele contou no depoimento que não tinha a intenção de ferir as duas mulheres e a criança, mas apenas homens venezuelanos.
Suspeito é guianense, morador de rua e disse ter aversão a venezuelanos (Foto: Polícia Civil/Divulgação)
No momento em que foi detido, o guianense foi flagrado com três garrafas de álcool, isqueiro e uma garrafa com vestígios de gasolina. Por isso, o delegado acredita que ele iria cometer outros ataques.
"Ele disse que não estava arrependido, mas que não queria ter ferido mulheres e crianças, só homens. [...] Se ele continuasse solto, iria cometer outros ataques, talvez até mesmo durante essa madrugada", afirmou Camapum.
De acordo com o delegado, o suspeito, que agiu sozinho, admitiu também que foi motivado por raiva contra os imigrantes. Ele disse que teve uma bicicleta roubada e que foi agredido por venezuelanos. Ele mora em Roraima há dois anos.
"Ele criou uma aversão geral aos venezuelanos. Na cabeça dele podemos falar que de certa forma os atos tiveram, sim, traços de xenofobia".
Na casa abandonada onde ele foi preso, no Mecejana, mesmo bairro onde as vítimas moram, a polícia achou também uma placa de incêndio. Ela estava afixada na porta do cômodo em que ele dormia. A polícia chegou até o endereço por meio de investigações. "Pelo perfil dele temos certeza que é um piromaníaco mesmo", pontuou Camapum.
Material apreendido com suspeito inclui garrafas com álcool, vestígios de gasolina, isqueiro e uma placa de incêndio (Foto: Emily Costa/G1 RR)
Gordon Fowler, que é conhecido como 'Jamaica', foi autuado em flagrante por tripla tentativa de homicídio qualificado por motivo torpe e uso de recurso que dificultou a defesa das vítimas, que estavam dormindo no momento dos ataques.
"Agora, pelo inquérito aberto vamos indiciá-lo por tentativa de homicídio com as mesmas qualificadoras contra as vítimas do primeiro ataque. Ele foi o autor único, confessou, temos provas testemunhais, vídeos e ainda teremos as provas periciais dos líquidos. A investigação já está praticamente fechada".
Ainda conforme a polícia, suspeito também é o autor de um ataque semelhante em um posto de gasolina em janeiro. Na ocasião, um venezuelano ficou ferido. O posto fica ao lado da casa onde ocorreu o segundo incêndio. "Também foi ele, mas a vítima não procurou a polícia".
O guianense está irregular no Brasil mas, segundo o delegado, não deve ser deportado em razão dos crimes pelos quais agora vai responder.
Casa alvo de 2º ataque : incêndio atingiu quarto e destruiu colchões, roupas e móveis. (Foto: Alan Chaves/G1 RR)
Após a prisão, Gordon Fowler foi levado para audiência de custódia, que definirá se ele fica preso ou se responderá em liberdade pelos crimes.
Ataques a residências
Foram dois incêndios em três dias em casas no bairro Mecejana, na zona Oeste da capital, onde moram os imigrantes.
O primeiro ocorreu na madrugada de segunda (5) e uma mulher de 24 anos foi atingida pelas chamas enquanto dormia em uma rede na varanda de casa. Um homem também se machucou. Ao todo, 31 imigrantes moram nessa casa.
O segundo ataque foi na terça (8) quando uma menina de 3 anos e o pai dela ficaram feridos após os suspeito atear fogo no quarto onde as vítimas dormiam. Nessa residência vivem 13 pessoas.
A menina teve queimaduras de segundo grau e está internada no Hospital da Criança. O pai permanece na ala de trauma do Hospital Geral de Roraima e teve 36% do corpo queimado. Apenas a mãe da criança recebeu alta.
Venezuelanos em Roraima
Desde 2015, milhares de venezuelanos tem migrado para Roraima em busca de qualidade de vida. No estado, eles reclamam da crise no país vizinho, falta de comida, medicamento, emprego e segurança. Quatro abrigos para imigrantes foram criados em Roraima para receber venezuelanos em dificuldades, mas muitos vivem nas ruas ou dividindo casas alugadas.
Na capital, Boa Vista, centenas de imigrantes são vistos nas ruas da cidade, praças e avenidas pedindo comida e emprego. Eles também fazem fila todos os dias em frente a sede da Polícia Federal para conseguir o visto de permanência no país.
Na quinta-feira (8) os ministros da Justiça, Torquato Jardim, Defesa, Raul Jungmann, e do Gabienete de Segurança Internacional, Sérgio Etchegoyen, estiveram em Boa Vista para discutir medidas para o intenso fluxo de imigrantes do estado.
Fonte: G1
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