O ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, relatou à Polícia Federal como o ex-procurador de sua equipe, Marcelo Miller, tentou que o acordo de leniência da J&F – uma espécie de delação premiada das empresas – corresse na Procuradoria-Geral da República, e não no Ministério Público Federal em 1ª instância, onde esse tipo de acordo com empresas é feito. As tentativas ocorreram depois que Marcelo se tornou advogado da J&F, do mesmo grupo da JBS, cuja delação premiada esteve no centro da crise política em 2017.
As declarações foram dadas por Janot no inquérito que apura se Miller orientou os executivos da empresa na delação. Janot não é investigado. O depoimento foi prestado no dia 15 de janeiro, e a TV Globo teve acesso ao documento.
Trecho do depoimento de Janot para a Polícia Federal (Foto: Reprodução)
Janot relatou que foi informado por procuradores que a J&F pediu que a delação e a leniência fossem conduzidas de forma conjunta e “simultânea” na PGR. E que isso foi pedido em uma reunião em que Miller estava presente. Janot diz que não estava na reunião, não se recorda da data que ela ocorreu mas que, assim que foi informado, negou o pedido e determinou que Miller “não poderia participar de nenhum ato relacionado a colaboração de executivos da JBS” e que deveria ser informado a Miller que a leniência seria acertada com o MPF em 1ª instancia.
Janot disse que, posteriormente, tomou conhecimento que Miller voltou à PGR e se identificou na portaria. O ex-procurador-geral disse que “imediatamente pediu que informassem para Marcelo Miller que deveria se dirigir ao MPF-DF pra tratar do processo de leniência, não devendo mais buscar informações sobre esse tema na PGR”.
Janot afirmou que, depois desse episódio, ficou sabendo que o procurador Anselmo Lopes Cordeiro, do MPF-DF [onde Janot disse que era pra ser feita a leniência], também pediu que Miller se retirasse do processo de leniência.
Trecho do depoimento em que Janot diz que não há chance de Miller ter orientado a JBS enquanto trabalhava na PGR (Foto: Reprodução)
Saída de Miller
Janot também relatou que a saída de Miller da Procuradoria causou constrangimento, “tendo em vista que até pouco tempo atrás Marcelo Miller executava ações como integrante do GT/PGR [grupo de trabalho da Lava Jato na PGR] e agora passava a atuar na defesa de investigados junto ao próprio grupo de trabalho que pertencia”.
O ex-procurador-geral também reforçou que não viu ato criminoso de Miller. Segundo Janot, o único impedimento para assumir a o cargo junto à J&F era a quarentena que Miller teria que cumprir em ações junto à Justiça Federal no Rio, porque era lotado no MPF-RJ.
Janot disse que não sabe informar se Miller orientou os executivos da J&F a gravar autoridades, como o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves. Janot ainda garantiu que ele próprio ou outros procuradores do grupo de trabalho da Lava Jato não deram qualquer orientação nesse sentido ou na seleção do material: “não há menor chance de Marcelo Miller , em conjunto com membros do GT/PGR, participado da seleção de material apresentado à PGR [da delação de executivos da J&F].
Em seguida Janot disse que não sabe informar se Miller teve acesso ou selecionou tais documentos por parte e em atuação no interesse da JBS.
Fonte: G1
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