sexta-feira, janeiro 19, 2018

Morre terceiro preso em cela da Papuda, em Brasília, em menos de um mês

Prédio do Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília (Foto: Gabriel Jabur/Agência Brasília)

Um preso de 27 anos foi encontrado morto, na madrugada desta quinta-feira (18), em uma cela do Centro de Detenção Provisória da Papuda (CDP), em Brasília. Esta é a terceira morte no presídio em menos de um mês. As outras duas vítimas – um homem de 39 anos e outro interno de 24 – morreram após paradas cardíacas em 31 de dezembro do ano passado e no último dia 2 de janeiro.

A morte do detento nesta quinta foi confirmada pela Secretaria de Segurança Pública (SSP). Segundo a pasta, o homem estava no presídio desde o dia 12 de dezembro, pelo crime de tráfico de drogas.

O local foi periciado ainda na madrugada. O caso foi registrado na 30ª Delegacia de Polícia, em São Sebastião, que também apura como aconteceram as outras duas mortes.

Ao G1, o delegado responsável pela 30ª DP, João Guilherme Carvalho, afirmou que no boletim de ocorrência da morte do interno não constava se ele tinha machucados pelo corpo. Segundo ele, por volta de 1h, presos do bloco 6 do Centro de Detenção Provisória "começaram a gritar e a pedir por socorro".

"Os agentes foram até lá e acharam o preso no chão, e outros detentos tentando reanimá-lo."
O mandado de prisão condenatória teria sido expedido pela justiça do Maranhão. Segundo a Segurança Pública, o preso "passou mal dentro da cela e faleceu". Ele chegou a ser atendido por uma equipe do Samu, diz a secretaria, mas as tentativas de reanimação foram em vão.

"A investigação continua para saber se foi morte natural ou homicídio. Vamos precisar tocar a investigação para constar quem estava ao lado dele no momento."
Outras mortes
Na noite de réveillon e no último dia 2 de janeiro, outros presos morreram no CDP após passarem mal em celas da Papuda. Uma das vítimas, de 24 anos, estava presa há três meses por tráfico de drogas e aguardava julgamento. Ele teria solicitado atendimento médico na unidade prisional no dia 29 de dezembro e se queixava de dores lombares.


Após atendimento da equipe médica, a Segurança Pública afirma que o detento recebeu medicação para cessar as dores e "não solicitou mais atendimento".

Já a segunda vítima foi atendida pelo Samu, que, segundo a secretaria, fez os procedimentos de reanimação, "mas o interno não resistiu à parada cardíaca e faleceu". O detento estava preso desde o dia 15 de dezembro por embriaguez ao volante.

Ainda de acordo com a secretaria, ele já tinha sido condenado anteriormente por porte ilegal de armas e não teria solicitado atendimento médico desde a chegada à unidade prisional.

Detentos na Papuda, em imagem de arquivo (Foto: Ministério Público/Divulgação)
Detentos na Papuda, em imagem de arquivo (Foto: Ministério Público/Divulgação)

Déficit de profissionais da saúde
No início deste mês o G1 mostrou que o Centro de Detenção Provisória da Papuda, em Brasília, tem um déficit de 12 profissionais na composição das equipes de saúde. Os dados consideram o mínimo estabelecido na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP), instituída em 2014.

A portaria determina que unidades prisionais que abrigam mais de 3.601 detentos – como é o caso do CDP – tenham pelo menos 38 profissionais da área de saúde. Com 3.648 custodiados, a unidade administrada pelo governo do Distrito Federal oferece apenas 26 atendentes do tipo, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP).

Tabela de composição de equipes de saúde em unidades prisionais do país (Foto: Ministério da Saúde/Reprodução)
Tabela de composição de equipes de saúde em unidades prisionais do país (Foto: Ministério da Saúde/Reprodução)

Em uma conta simples, a diferença representa um déficit de 31%. A política nacional também define especialidades médicas que devem ser contempladas na equipe, mas o governo não forneceu informações que permitiriam essa checagem (veja abaixo). Além de presos provisórios, o CDP também abriga ex-policiais e internos com direito a prisão especial.

Nas últimas três mortes registradas de presos na Papuda, não havia médicos no momento em passaramn mal. Os profissionais trabalham das 9h às 16h, apenas em dias úteis. Apesar disso, em nota, a Secretaria de Segurança informou que, por este motivo, pelo menos os dois primeiros presos que morreram foram atendidos por equipes de socorristas do Corpo de Bombeiros e Samu.

"Todos os procedimentos de intervenção foram tomados, mas a vítima não resistiu à parada cardíaca. [...] A unidade se prontificou a prestar todo amparo social que o fato necessita."

Fonte: G1

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