quarta-feira, dezembro 20, 2017

Polícia investiga ameaça a professora da Unicamp por expor conteúdo sobre homossexualidade

Professora do Profis, programa de ensino da Unicamp, sofreu ameaça após abordar conteúdo (Foto: Reprodução/EPTV)A Polícia Civil de Campinas (SP) investiga uma ameaça a uma professora da Unicamp feita por telefone por um suposto pai de aluno. Em entrevista ao G1, a docente contou que o homem questionou o conteúdo exposto em aula sobre homossexualidade e disse que iria "acabar com a vida" dela, caso continuasse a tratar do tema.

A investigação informou, nesta terça-feira (19), que aguarda mais informações para abertura de inquérito. Por nota, a universidade disse que "está buscando elementos internamente para colaborar nas investigações que estão sendo conduzidas pela autoridade policial". O suspeito ainda não foi identificado.

"Disse de que não estava brincando, que conhecia a minha rotina. E que, segundo ele, era um criminoso, que já tinha sido preso e que não custava nada cometer outro crime. Isso num tom de voz alterado. [...] Fiquei bastante apavorada", conta Cyntia Agra de Brito Neves.
Cynthia é professona no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da universidade e lecionava a disciplina "leitura e produção de textos acadêmicos II" para a turma do Profis quando foi ameaçada, neste semestre. O Profis é o Programa de Formação Interdisciplinar Superior que garante aos melhores alunos de escolas públicas a chance de ingressar na graduação sem prestar o vestibular.

A ligação foi atendida pela secretária do IEL no dia 5 de outubro. Ela relatou o ocorrido à coordenação do curso, que informou a professora. Cynthia registrou boletim de ocorrência no 7º Distrito Policial de Campinas e decidiu se afastar por um mês até que se sentisse mais segura para voltar às aulas.

"Ficou acertado que a Unicamp ia atrás de descobrir quem era o ameaçador e tomar as devidas providências. A Unicamp disponibilizaria seguranças para me acompanhar quando eu retornasse. No mês de novembro voltei às aulas pedindo essa proteção. Acessei a segurança automotiva, me acompanhavam até a sala, vinham me buscar", conta a docente.

Campus da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) possui escolta mediante solicitação (Foto: Antoninho Perri/Ascom /Unicamp)
Campus da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) possui escolta mediante solicitação (Foto: Antoninho Perri/Ascom /Unicamp)

Conteúdo polêmico
Segundo Cynthia, os dois únicos conteúdos que de alguma forma abordaram o tema da homossexualidade durante o semestre foram um curta metragem sobre dois adolescentes que se apaixonam e um texto acadêmico que movimentava a discussão sobre museus e diversidade sexual.

"Em novembro eu retornei. O diretor do meu curso não queria que eu retornasse, mas eu disse que eu não podeia acabar com o curso em função essa ameaça. [...] É um absurdo. Isso não vai nos calar. [...] Não poderia terminar o curso, virar o ano, sem que isso viesse à tona", diz a docente.
A turma dela tem cerca de 110 alunos e o suposto aluno filho do ameaçador não foi identificado.

"Isso foi um caso pontual e atípico ao Profis. Os alunos do Profis, de modo geral, são muito bons, muito receptivos à minha aula. Eles adoraram o curso", completa.

Cena do curta brasileiro 'Eu não quero voltar sozinho' exibido em aula do Profis, na Unicamp, em Campinas (Foto: Reprodução/Filme)
Cena do curta brasileiro 'Eu não quero voltar sozinho' exibido em aula do Profis, na Unicamp, em Campinas (Foto: Reprodução/Filme)

Após o afastamento - período em que não foi substituída por outro docente, mas por monitores que já faziam parte das aulas - a professora e a coordenação do curso decidiram comunicar a congregação da Unicamp, que reúne todos os institutos.

"Meu instituto escreveu uma carta a essa congregação explicando tudo o que tinha acontecido comigo e a congregação unanimamente decidiu que o IEL deveria escrever uma moção de repúdio ao ocorrido", conta. A moção foi divulgada este mês.

Segundo Cynthia, a universidade chegou a ter autorização para quebrar o sigilo telefônico do instituto, mas só descobriu que a ligação ameaçadora foi feita de um telefone público. Ela aguarda solução para esse caso.

"Não vou deixar que a Unicamp esqueça. Vou atrás".
Mudança de rotina
A professora conta que precisou mudar a rotina na universidade e também na vida pessoal. Após a ligação, disse ter recebido outros telefonemas de números anônimos. As ocorrências foram relatadas às autoridades da universidade, segundo ela.

"Ainda no mês de outubro, eu tinha recebido ligações no celular de um número privado, daquelas que você atende fala "alô" e a pessoa não responde", diz.
Quando voltou à Unicamp, mudou o horário de atendimento aos alunos da pós-graduação. Cynthia passou a trabalhar mais de casa e comunicou ao zelador do prédio onde mora sobre o ocorrido.

Indicador de chamada no aplicativo Botão de Pânico, da Unicamp (Foto: Reprodução/EPTV)
Indicador de chamada no aplicativo Botão de Pânico, da Unicamp (Foto: Reprodução/EPTV)

Segurança na Unicamp
Em nota, a Unicamp informou que disponibiliza escolta dentro do campus para acompanhar as pessoas aos seus carros no estacionamento, principalmente no período noturno. Para isso, é preciso solicitação e registro.

A universidade conta, também, com o Botão de Pânico, "um aplicativo para celulares que permite a comunicação direta e rápida com a equipe de vigilância interna", diz a nota.

Fonte: G1

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