Depois de alerta de aliados, o presidente Michel Temer decidiu poupar em definitivo ministros na mira da Lava Jato da mudança no primeiro escalão. A iniciativa vai preservar diretamente os ministros Marcos Pereira (Indústria e Comércio), do PRB, e Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia e Comunicações), do PSD.
Houve forte mobilização na base aliada sobre a delicada situação de Kassab e Pereira, que, sem foro especial, passariam a ter seus casos analisados pela primeira instância da Justiça Federal. Os dois foram citados nas delações da Odebrecht e da JBS.
Esse fato também pesou na avaliação de Temer de reduzir o tamanho da reforma ministerial neste momento, para evitar atritos com a base aliada num momento em que o governo tenta conseguir votos para aprovar a reforma da Previdência. Com isso, a mudança deve ficar muito restrita, contemplando apenas algumas pastas, como o Ministério das Cidades e a Secretaria de Governo – feudos tucanos.
Ao Blog, interlocutores de Temer advertiram que seria injusto tirar Pereira e Kassab com o argumento de que vão disputar eleições no próximo ano, mantendo outros ministros também citados em delações, como Moreira Franco (Secretaria da Presidência), Eliseu Padilha (Casa Civil) e Aloysio Nunes (Relações Exteriores).
“Seria muito ruim para Temer fazer esse gesto de entregar Kassab e Marcos Pereira. Isso teria repercussão negativa na base. Além disso, iria refletir na imagem do próprio governo, pois os dois ficariam fragilizados na primeira instância [da Justiça]”, disse ao Blog um ministro próximo de Temer.
Como noticiou o Blog, apesar da intenção inicial do governo de fazer uma reforma ministerial ampla até "meados de dezembro", houve forte reação de aliados. Os próprios ministros políticos avisaram que preferem sair apenas perto do prazo de desincompatibilização, em abril de 2018.
Ex-prefeito de São Paulo e presidente licenciado do PSD, Gilberto Kassab é alvo de cinco inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF): dois deles investigam denúncias contra Kassab apresentadas por delatores da Odebrecht e outros três são da época em que ele era prefeito da capital paulista.
Em um dos inquéritos ligados à Lava Jato, delatores afirmaram que, à frente da prefeitura de São Paulo e do Ministério das Cidades, entre 2008 e 2014, Kassab recebeu R$ 20 milhões, distribuídos ao longo de vários episódios.
Em outro inquérito que tramita no Supremo, o ministro de Ciência e Tecnologia é acusado de ser um dos beneficiários de um esquema de pagamentos de vantagem indevida a agentes públicos em obras viárias de São Paulo, em 2008.
Em junho, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou parecer ao STF no qual defendeu retirar do âmbito da Lava Jato dois inquéritos abertos para investigar Kassab.
Presidente licenciado do PRB, o ministro Marcos Pereira também é alvo de um inquérito aberto no STF relacionado às delações da construtora Odebrecht. Os delatores afirmaram ter feito repasses de R$ 7 milhões para o PRB. O pagamento teria sido feito diretamente a Marcos Pereira.
O ministro do Desenvolvimento Econômico também foi citado nas delações de executivos do grupo J&F, dono do frigorífico JBS. O empresário Joesley Batista entregou ao Ministério Público uma gravação na qual cita a palavra saldo e indica que ele e o ministro estão tratando de repasse de propina.
Fonte: Blog do Camarotti
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