A notícia da suspensão da liminar que proibiu a apresentação da peça "O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu” em Jundiaí (SP), no interior de São Paulo, não foi recebida com surpresa pela diretora do espetáculo, Natália Mallo.
Em entrevista ao G1, ela disse que já esperava que o Tribunal de Justiça de São Paulo fosse tomar uma decisão favorável à peça.
"Aquela liminar era muito explícita na crença pessoal e até no preconceito, que orientou aquela primeira decisão. E era juridicamente muito frágil. Então, a gente já esperava esse resultado, mas o recebemos com alegria, é claro".
A decisão do desembargador José Luiz Mônaco da Silva que derrubou a liminar foi publicada na manhã de terça-feira (3).
Apesar de não ter ficado surpresa com a suspensão da liminar que proibiu a exibição da peça em Jundiaí - que aconteceria no dia 15 de setembro - , a diretora acredita que ela abre um precedente positivo na luta contra a censura que, segundo ela, deve continuar em outras cidades.
"É um precedente possitivo, porque a gente sabe que esse movimento de censura não vai parar. Então, estamos colecionando esses bons resultados e, ao mesmo tempo, preparados e amparados para continuar resistindo", acrescenta.
Ainda segundo a diretora, ainda não há uma nova data da apresentação em Jundiaí. No dia seguinte à proibição, a peça foi encenada em São José do Rio Preto (SP), onde foi ovacionada por centenas de espectadores.
A atriz Renata Carvalho, que é travesti e militante ativista da causa LGBT, conversou com a reportagem do G1 após a apresentação em Rio Preto. Ela contou que a proibição foi motivo de choro da equipe de produção e técnicos do teatro, mas o que mais emocionou foi o apoio que recebeu de espectadores.
“Eles quiseram me consolar, e isso foi de uma emoção muito forte. Me abraçaram e aplaudiram. Eu chorei muito, mas foi um choro de alívio, porque o carinho de cada mensagem que recebo é muito maior que as críticas”, disse.
Peça 'O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu' foi apresentada em Rio Preto (Foto: Anderson Carvalho/Divulgação)
Proibição
Na liminar que proibiu a peça, o juiz Luiz Antônio de Campos Júnior, da 1º Vara Cível de Jundiaí, dizia que "muito embora o Brasil seja um Estado Laico, não é menos verdadeiro o fato de se obstar que figuras religiosas e até mesmo sagradas sejam expostas ao ridículo, além de ser uma peça de indiscutível mau gosto e desrespeitosa ao extremo".
O espetáculo é uma mistura de monólogo com contação de histórias e traz Jesus representado por uma mulher transgênero. O grupo teatral que encenaria o espetáculo - classificado para maiores de 18 anos - lamentou a decisão da Justiça na época.
Na ocasião, em uma publicação nas redes sociais a diretora da peça, Natália Mallo disse que foi a primeira vez que o espetáculo foi impedido de ser apresentado.
"O espetáculo busca resgatar a essência do que seria a mensagem de Jesus: afirmação da vida, tolerância, perdão, amor ao próximo. Para tanto, Jesus encarna em uma travesti, na identidade mais estigmatizada e marginalizada da nossa sociedade. A mensagem é de amor, mas é também provocadora."
Fonte: G1
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