A Polícia Federal (PF) cumpriu na manhã desta quinta-feira (14) mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao ex-governador de Mato Grosso e atual ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP), entre os quais o apartamento em que ele mora na Asa Sul, zona nobre de Brasília. Policiais federais também fizeram diligências em São Paulo e Mato Grosso.
Os mandados de busca fazem parte da Operação Malebolge, 12ª fase da Ararath, que desmantelou um esquema de corrupção que atuava em Mato Grosso. Em delação premiada, o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) acusou Blairo Maggi de pagar para uma testemunha mudar seu depoimento.
As ordens judiciais foram expedidas pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Procuradoria Geral da República (PGR). Para Fux, há indícios de obstrução de justiça e formação de organização criminosa.
Mandados judiciais
Luiz Fux autorizou a PF e o MPF a apreenderem, entre outros, documentos, livros contábeis, recibos, agendas, ordens de pagamentos, além de acessarem o conteúdo e os dados armazenados em arquivos eletrônicos, como HDs, laptops, notebooks, pendrives e smartphones.
Ao todo, estão sendo cumpridos mandados em 64 endereços, em dois estados e na capital federal. Em Mato Grosso, há diligências em nove municípios: Cuiabá, Rondonópolis, Primavera do Leste, Araputanga, Pontes e Lacerda, Tangará da Serra, Juara, Sorriso e Sinop.
Segundo a assessoria da PF, há 270 policiais federais e procuradores da República envolvidos na operação desta quinta.
O relator da Operação Ararath no STF expediu mandados para apreensão de provas nas residências de Blairo Maggi em Brasília e em Rondonópolis. Os policiais também receberam autorização judicial para ir a uma sala comercial, em Cuiabá, usada pelo ministro para exercer atividades profissionais na Amaggi, o grupo empresarial da família de Blairo.
Também foram feitas buscas na casa e no gabinete do prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (PMDB). Emanuel foi flagrado em um vídeo gravado na sala do então chefe de gabinete de Silval Barbosa enchendo os bolsos do palitó de dinheiro, deixando até cair no chão. Ele, em seguida, se agacha e junta os maços de dinheiro.
Policiais também cumpriram mandados no gabinete do deputado federal Ezequiel Fonseca (PP-MT) na Câmara.
Agentes estiveram ainda nos gabinetes dos deputados estaduais de Mato Grosso Gilmar Fabris (PSD), Silvano Amaral (PMDB), Oscar Bezerra (PSB), Wagner Ramos (PSD), Ondanir Bortolini (PSD), conhecido como Nininho, e Romoaldo Júnior (PMDB).
O ministro do STF determinou o afastamento de conselheiros do Tribunal de Contas do Mato Grosso. Carros da PF estiveram no tribunal nesta manhã.
O que disseram os alvos da operação
A assessoria de Blairo Maggi no Ministério da Agricultura informou que o ministro está em Brasília e deve ir para seu gabinete ainda na manhã desta quinta. Ainda de acordo com os assessores, o ministro pretende convocar uma coletiva de imprensa para o final da manhã para se manifestar sobre a operação da Polícia Federal.
Em nota, o presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, Eduardo Botelho (PSB), informou que os mandados estão sendo cumpridos nos gabinetes dos deputados que aparecem nos vídeos entregues por Silval.
Conforme o comunicado, os agentes não recolheram nenhum documento nos setores administrativos da casa legislativa. Botelho disse ainda que não abriu investigação contra os parlamentares citados nas delações de Silval porque aguarda o resultado das investigações da Procuradoria Geral da República.
Também por meio de nota, a direção do TCE-MT informou que expediente do tribunal foi suspenso nesta quinta em razão da operação da PF. Segundo a assessoria da Corte, o órgão vai se manifestar sobre o assunto ainda nesta quinta.
Delação de Silval
A colaboração premiada de Silval Barbosa foi homologada, em agosto, pelo ministro Luiz Fux, do STF. Na delação, Silval contou à PGR como funcionava o esquema de corrupção no governo de Mato Grosso. O delator foi vice-governador no segundo mandato de Blairo – de 2007 a 2010. Em 2010, Silval assumiu o governo mato-grossense, quando Blairo Maggi saiu do Executivo estadual para concorrer ao Senado. No mesmo ano, o delator foi reeleito.
Silval relatou ao Ministério Público Federal que o senador Cidinho Santos (PR-MT) prometeu ajuda de Blairo, do atual governador de Mato Grosso, Pedro Taques (PSDB), e do senador Wellington Fagundes (PR-MT) para que ele não fizesse delação premiada. O acordo acabou sendo feito e foi homologado pela Justiça.
Segundo o ex-governador, Maggi também pagou R$ 3 milhões ao ex-secretário de Fazenda de Mato Grosso Eder Moraes, para que ele mudasse um depoimento. Silval teria pagado outros R$ 3 milhões a Eder. Após a divulgação da delação, o ministro disse que jamais autorizou atos ilícitos ou ações para obstruir a justiça.
Silval Barbosa foi preso exatamente há dois anos, em 14 de setembro de 2015, acusado de recebimento de propina na distribuição de incentivos fiscais. Ele permaneceu quase dois anos na cadeia, mas foi autorizado a ficar preso em regime domiciliar em junho deste ano.
Lava Jato
Blairo Maggi também é investigado na Operação Lava Jato por suposto recebimento de R$ 12 milhões em sua campanha à reeleição, em 2006, com base em relatos de delatores da construtora Odebrecht. O governo Temer tem dez ministros investigados no Supremo.
Fonte: G1
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