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terça-feira, setembro 05, 2017

'Farra dos Guardanapos' pode ter sido comemoração antecipada da vitória da Rio 2016, diz MPF

A operação Unfair Play, deflagrada na manhã desta terça-feira (5) no Rio e que investiga a compra de votos para a escolha do Rio como sede da Olimpíada de 2016 diz que a "Farra dos guardanapos" pode ter sido comemoração antecipada da vitória da Rio-2016. “O que nós temos de informação é que Lamine Diack era um frequentador assíduo de Paris e pode ter havido (na farra dos guardanapos) uma comemoração antecipada (da vitória da Rio-2016) daqueles que mais lucraram com a Olimpíada no Brasil”, destacou a procuradora Fabiana Schneider. A Unfair Play, uma referência a "Jogo Sujo", é mais uma etapa da Lava Jato no Rio de Janeiro.
A suposta celebração ficou conhecida como "farra dos guardanapos" após uma foto, que veio a público em 2012, publicada pelo blog do ex-governador Anthony Garotinho, mostral Cabral e amigos – muitos deles hoje acusados de envolvimento em esquemas de corrupção – confraternizando em um restaurante em Paris usando guardanapos amarrados na cabeça.
A procuradora explicou a campanha eleitoral para a escolha do Rio como sede da Olimpíada e lembrou a comemoração em Paris, envolvendo o ex-governador Sérgio Cabral Filho. "O Rio de Janeiro recebeu um prêmio em Paris. Foi o famoso fato que ficou conhecido, quando saíram as fotografias, como a 'farra do guardanapo'. É uma imagem em que todos vão se lembrar daquela festa, daquela comemoração que vários dos nossos, agora investigados, estavam presentes", afirmou a procuradora.
Ela ainda ressaltou que o evento aconteceu no dia 14 de setembro em Paris e que no dia 23 do mesmo mês ocorreu a primeira transferência bancária confirmada por meio de cooperação internacional da Metlock para a conta de Papa Diack, que é filho de Lamine Diack, um dos jurados da eleição que definiu o Rio como sede dos jogos.
Ainda segundo a procuradora, no dia 29 de setembro de 2009, a Matlock fez dois depósitos, um de R$ 1,5 milhão na conta de uma empresa que é de Papa Diack, e mais US$ 500 mil numa agência do Senegal. "Dessa vez, em outras agências, outros países, esses depósitos são efetivados. No dia 2 de outubro de 2009, poucos dias depois, acontece o evento na Dinamarca, em Kopenhagem, em que o Rio de Janeiro vence e ganha a posição para sediar os jogos olímpicos, mesmo tendo as piores condições dentre todos os candidatos, lembrando que Chicago tinha melhores condições tecnicamente, estaria na frente e caiu na primeira rodada", afirmou Fabiana.

Ainda de acordo com a procuradora, há informações de que membros africanos do COI "votavam em grupo”. “É possível que tenha influência ou distribuição da propina [para outros eleitores] – mais uma vez, não estou afirmando – de uma votação em grupo. Nesse momento só estamos indicando um voto por meio de um agente privado, o Arthur. Mas podem existir outros agentes privados que também podem ter transferido (dinheiro) ou comprado (votos)”.
Jean-Yves Iourguilloux, procurador francês explicou que os continentes podem votar em bloco ou em separado. Diack, hoje, é presumido inocente, só no final poderemos dizer o que aconteceu. Mas os R$ 2 milhões podem ter sido não só pra comprar um voto, mas pra ter um impacto muito maior”, afirmou.

Carlos Arthur Nuzman na sede da PF (Foto: Reprodução/GloboNews)
Carlos Arthur Nuzman na sede da PF (Foto: Reprodução/GloboNews)

Durante a operação, na manhã desta terça, os policiais federais prenderam Eliane Pereira Cavalcante, ex-sócia de Arthur César de Menezes Soares Filho, conhecido como Rei Arthur, ex-dono da empresa Facility, que ainda é procurado pelos agentes. Os agentes também cumpriram mandados de busca e apreensão na casa de Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e do Comitê Rio 2016.
O advogado de defesa de Carlos Nuzman afirmou que o cliente não cometeu ilegalidades. "Vou examinar o processo e daremos as explicações. Ele está tranquilo e sereno", afirmou o advogado Sergio Mazzillo, garantindo que "nenhuma irregularidade foi cometida". O G1 ainda não conseguiu contato com as defesas de Arthur e de Elaine.

O COI afirmou, em nota, que está colaborando com as investigações e que tem total interesse que o assunto seja esclarecido. O COB, o comitê organizador dos jogos e a defesa de Sérgio Cabral ainda não se pronunciaram.
De acordo com as investigações, Sérgio Cabral recebeu, por meio de um banco em Antigua e Barbuda, mais de US$ 10 milhões. "A empresa [de Arthur] abriu uma conta no mesmo banco com Renato Chebar, principal operador financeiro de Cabral. Passo seguinte foi uma procuração que deu poderes a Renato Chebar para movimentar a conta de Arthur. Em posse dessa procuração, passou a movimentar para suas próprias contas bancárias que pertenciam, de fato, a Sérgio Cabral”, explicou Eduardo El Hage, procurador do Ministério Público Federal.
Por quebra de e-mails trocados entre os sócios, o MPF descobriu que o Arthur pretendia se mudar para o Uruguai. Como há suspeitas de que o presidente do COB tenha nacionalidade russa, ele está proibido de se ausentar do país e deverá entregar todos os passaportes que possuir.
As investigações encontraram indícios de que Nuzman teve participação na compra de votos de membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) para os jogos e que teria sido o responsável por interligar corruptos e corruptores.

Agentes deixaram a casa de Nuzman carregando malotes por volta das 9h30 desta terça  (Foto: Henrique Coelho / G1)
Agentes deixaram a casa de Nuzman carregando malotes por volta das 9h30 desta terça (Foto: Henrique Coelho / G1)

Os agentes encontraram indícios de que Nuzman teve participação na compra de votos de membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) para os jogos e que teria sido o responsável por interligar corruptos e corruptores.
De acordo com as investigações, um dos votos foi comprado de Lamine Diack – então presidente da Federação Internacional de Atletismo e então membro do Comitê Olímpico Internacional –, por meio de seu filho, Papa Massata Diack. Ou seja, o dinheiro da compra de votos de Lamine Diack foi pago através de Papa Diack.
“Investigação apurou o pagamento de propina em troca de contratos com Governo do Estado, de terceirização. Os pagamentos teriam sido feitos tanto em espécie ou por celebração de contratos fictícios, além de pagamento de despesas pessoais”, explicou Frederico Skora, delegado da Polícia Federal.
Principais pontos da investigação:
A Justiça francesa investiga denúncia de compra de votos na escolha do Rio como sede da Olimpíada de 2016.
A suspeita é que um dos votos comprados é o de Lamine Diack, então membro do Comitê Olímpico Internacional.
Segundo o MPF, o dinheiro para a compra do voto de Lamine saiu de uma empresa de Arthur Soares, o Rei Arthur.
Uma empresa de Soares transferiu US$ 2 milhões para Papa Diack, filho de Lamine.
Para o MPF, as ‘negociações’ feitas por Carlos Arthur Nuzman foram ‘essenciais’ para o repasse da propina.

Fonte: G1

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