O empresário Wesley Batista, dono da J&F, preso na manhã desta quarta-feira (13) em São Paulo, passou por uma audiência de custódia na Justiça Federal no início da tarde e seguiu de volta para a sede da Polícia Federal, na Lapa, Zona Oeste de São Paul, onde permanecerá preso. Durante a audiência de custódia, Wesley afirmou que não sabia o motivo de estar preso.
"Não sei que crime cometi. Começo a achar que o crime foi ter assinado um acordo de delação com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Pergunto se o crime que cometi foi ter me tornado colaborador", afirmou Wesley ao juiz João Batista Gonçalves, da 6ª Vara Federal, quando questionado sobre se sabia por qual crime estava preso.
Em seguida, o juiz explicou para ele que o crime que ele cometeu foi ter feito uma operação financeira - o MPF reuniu provas de que os irmãos Batista, durante o processo de delação premiada, vendiam ações em alta e compravam dólares. Com o noticiário do escândalo, lucraram R$ 100 milhões com a operação.
O entendimento da Polícia Federal é que houve o descumprimento do acordo de delação premiada. Conforme o delegado da PF Rodrigo de Campos Costa, os irmãos Batista descumpriram o acordo de delação premiada por continuaram cometendo crimes. "O grande prejudicado nessa prática criminosa deles é o próprio Brasil." Por isso a necessidade da prisão preventiva dos irmãos nesta quarta-feira, afirmou o delegado.
Wesley Batista, um dos donos da J&F; e diretor presidente da JBS deixa a sede da Polícia Federal, para ir prestar depoimento na Justiça Federal, após ser preso na Operação Tendão de Aquiles, em São Paulo, nesta quarta-feira (13) (Foto: Marcos Bezerra/Futura Press/Estadão Conteúdo)
Wesley disse que a operação com dólares na véspera da divulgação da delação não foi atípica e que o grupo já tinha feito até operações maiores. O empresário disse ainda que a prisão dele atinge o grupo, que ele comava mais de 30 empresas com 250 mil funcionários. "Ontem mesmo visitei meu irmão na prisão em Brasília. Não imaginava que hoje estaria aqui", afirmou.
Tanto ele quanto o advogado de defesa, Pierpaolo Bottini, fizeram questão de ressaltar que Wesley não gravou ninguém. O advogado pediu ao juiz que a prisão fosse reconsiderada ou convertida em domiciliar. O juiz não aceitou o pedido. Alegando problemas de segurança, a defesa pediu para que Wesley não fosse levado para uma penitenciária, mas que permanecesse na carceragem da Polícia Federal na Lapa. MPF aceitou esse pedido e o juiz autorizou.
Em nota divulgada após o depoimento, Bottini afirma que “a prisão é baseada em elementos que comprovam a inocência dos acusados e em documentos entregues à Justiça pelos próprios colaboradores, sem qualquer fato novo”. "A investigação corre há meses, com plena participação dos investigados. Não há um elemento que sustente essa prisão, que além de ilegal e arbitrária, coloca em descrédito o instituto da colaboração", disse Bottini.
Prisão
Wesley teve a prisão preventiva decretada pela 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo em uma investigação sobre o uso de informações privilegiadas para lucrar no mercado financeiro entre abril e 17 maio de 2017, data de divulgação de informações relacionadas ao acordo de colaboração premiada firmado entre executivos da J&F e a Procuradoria Geral da República (PGR).
Sobre Joesley Batista, que está preso em Brasília em uma prisão temporária solicitada pela Procuradoria-Geral da República (PRG) e determinada pelo Supremo Tribunal Federal, o juiz informou que assim que a prisão temporária acabar, passa a valer a prisão preventiva. E Joesley terá que vir para São Paulo e permanecer preso aqui.
O delegado da Polícia Federal Victor Hugo Rodrigues Alves, que investigou o caso e prendeu Wesley, afirmou durante coletiva na manhã desta quarta-feira (13), que os crimes praticados pelos irmãos Wesley Batista e Joesley Batista abalaram a confiança do mercado. "As vítimas não foram só os acionistas da JBS, mas em um contexto mais amplo, a vítima é o próprio país em que vivemos, os crimes abalaram a confiança do mercado", disse.
O também delegado da PF Rodrigo de Campos Costa afirmou que foi demonstrado que eles descumpriram o acordo de delação premiada por continuaram cometendo crimes. "O grande prejudicado nessa prática criminosa deles é o próprio Brasil." Por isso a necessidade da prisão preventiva dos irmãos, afirmou.
O irmão de Wesley, Joesley, que está preso em Brasília, também foi alvo de mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça Federal em São Paulo nesta mesma ação. Ele já está preso desde domingo (10), mas por outra acusação. O relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, acolheu o pedido de prisão temporária por conta de indícios de que Joesley tenha omitido informações na delação feita à PGR – o que anularia o acordo que lhe garante imunidade.
Joesley vai continuar preso em Brasília enquanto durar a prisão temporária decretada pelo STF por conta da outra acusação a qual responde. O prazo é de cinco dias, mas ele pode ser prorrogado a desejo da Justiça, que também pode decidir por converter a prisão em preventiva - sem prazo para expirar. Caso nenhum das medidas seja tomada, Joesley deve, então, ser transferido para São Paulo para cumprir a prisão preventiva decretada nesta fase da Operação Tendão de Aquiles.
Preso, Wesley Batista chega à PF (Foto: Marcos Bezerra/Futura Press/Estadão Conteúdo )
Informações privilegiadas
Os mandados de prisão desta quarta fazem parte da 2ª fase da Operação Tendão de Aquiles, na qual também foram cumpridos dois mandados de busca e apreensão. A 1ª fase foi deflagrada em 9 de junho, quando foram cumpridos três mandados de busca e apreensão e quatro de condução coercitiva.
O delegado da Polícia Federal Victor Hugo Rodrigues Alves afirmou, durante coletiva na manhã desta quarta-feira, que os crimes praticados pelos irmãos Wesley Batista e Joesley Batista, donos da J&F, abalaram a confiança do mercado.
Os irmãos foram presos na investigação do uso de informações privilegiadas para lucrar no mercado financeiro entre abril e 17 maio de 2017, data de divulgação de informações relacionadas ao acordo de colaboração premiada firmado entre executivos da J&F e a Procuradoria Geral da República (PGR).
"As vítimas não foram só os acionistas da JBS, mas em um contexto mais amplo, a vítima é o próprio país em que vivemos, os crimes abalaram a confiança do mercado", disse.
A J&F, seus controladores e outras empresas do grupo são investigados por uso de informação privilegiada. A JBS confirmou que comprou dólar no mercado futuro horas antes da divulgação da notícia de que seus executivos fizeram delação premiada. O dólar disparou no dia seguinte, subindo mais de 8%, o que trouxe ganhos à empresa.
Os irmãos Batista teriam praticado, então, o chamado “insider trading”, que é o uso de informações privilegiadas para lucrar com operações no mercado financeiro. O grupo empresarial deles comprou U$ 1 bilhão às vésperas da divulgação da gravação e vendeu R$ 327 milhões em ações da JBS durante seis dias do mês de abril, enquanto os réus negociavam a delação premiada com a PGR.
A compra de dólar na véspera do vazamento dos áudios da delação premiada levou a empresa a obter ganhos financeiros, já que a cotação da moeda disparou nos dias seguintes à divulgação das conversas. A Justiça Federal chegou a determinar o bloqueio de R$ 800 milhões das contas de Joesley Batista após a denúncia, mas depois autorizou que a quantia voltasse a ficar disponível para o empresário.
Os controladores da JBS, organizados por meio da FB Participaçoes, podem ter evitado uma perda de R$ 138 milhões com a venda de ações às vésperas de os executivos da empresa assinarem acordo de delação premiada, segundo informações obtidas pelo Ministério Público Federal.
Em nota divulgada quando a acusação foi protocolada na Justiça, via ação popular, a J&F afirmou que "tem como política e prática a utilização de instrumentos de proteção financeira visando, exclusivamente, minimizar os seus riscos cambiais e de commodities provenientes de sua dívida, recebíveis em dólar e de suas operações".
Segundo a PF, caso sejam responsabilizados, os irmãos Batista podem ser condenados a penas de 1 a 5 anos de reclusão e multa de até três vezes o valor da vantagem ilícita obtida.
Em nota aos acionistas e mercado em geral, a JBS afirma que "ainda não teve acesso à integra dessa decisão e manterá seus acionistas e o mercado devidamente informados acerca de tal tema".
Fonte: G1
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